A habitação para lá das barracas, de Loures e do PS
A demolição de barracas feita pela Câmara Municipal de Loures - gerida pelo PS - trouxe à luz vários problemas que há muito têm vindo a tornar-se evidentes.
Os governos recusam-se a enfrentar os interesses económicos que se alimentam da especulação imobiliária. A falta de investimento público e de uma política do Estado para a habitação deixa as pessoas à mercê da gula do lucro e sem casa para viver. Como não querem resolver o problema, os governos empurram responsabilidades para cima das autarquias. Estas, são confrontadas com a incapacidade para resolver o problema apenas com os seus meios.
E, aí, das duas uma. Ou há uma preocupação social na gestão autárquica e se procura encontrar solução para o problema, assumindo as responsabilidades próprias das autarquias e pressionando o Governo para que assuma as suas. Ou se faz como se fez em Loures e se avança com a demolição de barracas sem fazer um esforço para o (re)alojamento de quem nelas vivia.
A situação de Loures transformou moradores de barracas em sem-abrigo. Pessoas que já não tinham habitação condigna ficaram ainda pior. Mas Governo e autarca parecem ter ficado satisfeitos.
O Governo porque, mais uma vez, se viu livre de “sujar as mãos” a resolver um problema que é da sua responsabilidade.
O autarca do PS porque subitamente viu surgir uma legião de fãs pela qual estaria desesperado pensando na disputa eleitoral que se avizinha. Se, no caso, se trata de fãs motivados por sentimentos de indiferença para com a miséria alheia, sem qualquer espécie de sentimento solidário ou de preocupação social, se até aproveitaram a situação para bolsar mais uns impropérios de cariz xenófobo e racista, nada disso parece importar ao autarca nem ao PS.
Mas o problema está muito para lá das barracas, de Loures e do PS.
Para lá de quem o desespero empurrou para uma barraca ou uma tenda, há por todo o país muita gente que não consegue encontrar uma casa que possa arrendar ou comprar.
E não são apenas pessoas em situação de pobreza e exclusão social. São também pessoas de camadas intermédias, gente integrada socialmente, com emprego e salário. São casais jovens que não conseguem encontrar casa para organizar o início de vida mas também famílias que perderam a casa porque não suportaram o aumento da renda ou da prestação ao banco.
A resposta papagueada pela extrema-direita, a mando dos homens do dinheiro que a financiam, não aponta uma única solução para resolver o problema. Foca-se apenas no despejo de quem tem habitação social ou na destruição das barracas deixando sem-abrigo quem nelas vive.
Quem queira ver o problema em toda a sua extensão, quem queira discutir seriamente as medidas a pôr em prática para se sair dele, tem hoje de começar por questionar-se como pode a demolição de barracas ser hoje motivo de tão grande preocupação democrática com o caminho por que segue o país.
Eurodeputado
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico