A guerra dos ‘drones’: o despertar da Força

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Por longo tempo se veiculou na comunicação social a ideia de como a Ucrânia estava em desvantagem nesta guerra. É evidente que ainda paira a ameaça de que quem vencerá não é o justo, aquele que, segundo todas as leis do direito internacional, tem razão, mas o que tem mais força e mais poder. Também de negociação.

A Europa entende, cada vez mais, que a Ucrânia é o “tampão” que impede a Rússia de outros avanços. E não são elucubrações: ainda há dias, foram revelados os planos da modernização efectuada pelos russos às suas bases nucleares. Uma reconstrução tecnológica em larga escala, onde estão os mísseis balísticos intercontinentais, e que a Rússia aposta como elemento dissuasor nesta guerra.

Esse trunfo continua presente. E preocupante, porque Putin, à semelhança de Hitler, prefere morrer a perder. Mas enquanto o anterior ditador matou o cão, a mulher e a si próprio, o actual não terá qualquer escrúpulo em acabar com o maior número de estragos, materiais e humanos, que alguma vez se viu.

O mundo ainda interiorizava esta informação, e a Ucrânia surpreendia: dentro da própria Rússia, uma destruição maciça de 34% das aeronaves porta-mísseis de cruzeiros russos por 117 drones ucranianos era notícia. A chamada Operação Teia de Aranha. São 7 mil milhões de dólares perdidos para Moscovo. Este poderá ser o ponto de viragem desta guerra, provocada pela Rússia, quando invadiu massivamente a Ucrânia, em 2022.

Seja qual for o resultado final, uma coisa é certa: inaugurou-se uma nova era mundial em termos de estratégia de guerra. A tecnologia e a forma de utilização dos drones pelos ucranianos são demonstrativos dos conflitos do futuro.

Os ucranianos ensinaram ao mundo o que é combater pela independência e pela honra, pela liberdade, de forma impossível e incansável. O orgulho de não cederem ao mais fácil, mas mais indigno. Agora ensinam-nos estratégia.

Este episódio foi o despertar da força ucraniana, que muitos desconheciam - ou pensavam que tinha desaparecido. Avisam sempre que não deveríamos subestimar o urso russo, o poder do mais forte. Talvez seja bom respeitar David e não ter medo de Golias. Nunca se deve subestimar ou sobrestimar um inimigo.

Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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