A fuga às responsabilidades em Vale de Judeus

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A fuga de cinco reclusos da cadeia de Vale de Judeus expôs a fragilidade em que se encontram os nossos Serviços Prisionais, após anos consecutivos de desinvestimento. É uma situação que provoca alarme social e envergonha o país, passando a imagem de uma república das bananas onde os criminosos podem escapar à Justiça sem consequências de maior. Imagem esta que ganha tração quando sabemos que, tal como o Diário de Notícias avançou, a fuga dos criminosos está envolta em circunstâncias difíceis de compreender, como o facto de as autoridades policiais apenas terem sido informadas mais de uma hora após os guardas prisionais se terem dado conta do sucedido.

Não é preciso ser-se especialista na matéria para compreender que quanto mais depressa a Polícia Judiciária e as outras forças de segurança fossem informadas, mais fácil seria a captura dos fugitivos. Estes e outros aspetos devem ser clarificados e é necessário apurar eventuais responsabilidades, sob pena de a credibilidade dos Serviços Prisionais ficar maculada de forma indelével. O Estado falhou na sua missão e os esclarecimentos prestados pelo diretor dos Serviços Prisionais, segundo o qual os guardas de Vale de Judeus fizeram bem o seu trabalho e a segurança está garantida, foram no mínimo insatisfatórios. Ficou claro que os cinco reclusos não são os únicos a fugir a algo.

Existem, além disso, responsabilidades políticas que devem ser assumidas por quem de direito, mas que não se resumem às da ministra do momento. O desinvestimento nas prisões, ao ponto de se desativar a torre de vigia em Vale de Judeus, não vem de agora e não constitui um fenómeno isolado. Aconteceu o mesmo na Educação, nos tribunais, nas polícias e em outras áreas da Administração Pública, primeiro nos anos da troika  e depois com as célebres cativações.

Tanto o PS como o PSD têm responsabilidades no estado depauperado em que se encontram os nossos serviços públicos. O “milagre” das contas públicas portuguesas foi alcançado em grande medida à custa da degradação dos serviços do Estado, do aumento da carga fiscal e da subida da inflação, que mais não é do que um imposto escondido que tanto devora as poupanças e o poder de compra dos cidadãos como reduz a dívida pública em termos relativos.

Haveria alternativa? Talvez não, pois ao contrário dos reclusos de Vale de Judeus, o país tinha compromissos a que não podia escapar. Porém, é urgente encontrar soluções para os efeitos negativos que essas políticas tiveram na qualidade dos serviços públicos. Cortar por cortar, sem um plano credível para procurar fazer melhor com menos - leia-se, sem reformas - nunca é uma boa solução.

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Com muita honra, assumi ontem a direção do Diário de Notícias, juntando-me a uma equipa de profissionais dedicados que todos os dias dá o seu melhor para que este jornal com quase 160 anos continue a cumprir uma missão que é essencial para a democracia. O DN vai continuar a fazer jornalismo independente e de qualidade, indo ao encontro das novas tendências de consumo de informação e atendendo às necessidades dos seus diferentes públicos. Este é o compromisso que esta direção assume desde o primeiro dia.

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