A fé alimenta o espírito, mas não o estômago

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Com o 13 de maio vem o verdadeiro privilégio de assistir à peregrinação de muitos milhares de portugueses - onde me incluo - à Cova da Iria. De acordo com os números oficiais, este ano parece haver um recorde de participação nas cerimónias e este facto merece uma reflexão.  

A circunstância de não se celebrar um aniversário comemorativo especial, por um lado, ou o facto das cerimónias não serem celebradas pelo Papa, por outro, são em si aspetos a ter em conta na reflexão. Ambas seriam motivos de peso para justificar tamanha afluência, mas nenhuma se aplica na realidade.
Posto isto, que outras causas podem explicar a enchente em Fátima nestes dias? Apesar do 13 de maio ser sinónimo de multidão em Fátima, não o é com a dimensão deste ano, onde mais de 250 mil pessoas se juntaram.

A procura pela fé, esperança e paz que Fátima “oferece” a quem percorre o caminho até ao Santuário, termina com um sentimento de emoção, alegria e, precisamente, de esperança e fé renovadas. Essa é também a minha experiência pessoal.

Tendo em conta que os motivos e os sentimentos são muitos, seria limitativo, ou mesmo redutor, tentar descrever e enunciar alguns. Contudo, há algo deveras relevante a apontar: durante o caminho, cada peregrino encontra o seu percurso, a sua fé e a sua motivação para o desafio a que se propôs.
Durante dias, movidos pela determinação e amor, os peregrinos caminharam e conseguiram superar-se a si próprios, afastando tudo o que ostentava um peso mais negativo. No momento da chegada ao Santuário, consegue-se a tal renovação da esperança e fé que será usada nos tempos vindouros.

Após a peregrinação, há um sentimento que deve prevalecer: o regresso ao dia-a-dia deve assegurar uma nova energia e positivismo para provar que a viagem e comunhão não aconteceram em vão. Cada um deve fazer a sua parte e nem sempre o caminho menos penoso é a melhor opção.

E por falar em trilhos fáceis, esses são muitas vezes apregoados pelos que governam ou querem governar, levados por emoções básicas e primárias, ou seja, num formato entre o populismo e a demagogia. Que lhes chegue o bom senso de refletir também sobre o que representa uma fé e esperança com cabimento, não esquecendo que o seu papel é resolver ou suavizar os problemas do dia-a-dia da população para que a mesma veja assegurados os seus direitos essenciais.

A este propósito, refira-se o 1º Fórum Global Kaiciid para o diálogo que junta líderes políticos e religiosos em Lisboa, a partir de amanhã, com o objetivo de juntamente com organizações internacionais construírem alianças para a Paz.

Ao parar e pensar, é lógico concluir que todas e todos têm um papel a desempenhar. Portanto, que não seja entregue ao próximo aquilo que nos compete a nós fazer.

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