A família não é, afinal, o lugar mais seguro do mundo

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Chegou o mês de abril, dedicado à prevenção dos maus-tratos na infância. Um mês em que toda a comunidade é convidada a abordar, de uma forma clara e sem rodeios, as diversas formas de violência que as crianças sofrem e também aquilo que pode (e tem de) ser feito, numa lógica preventiva.

Falar em maus-tratos na infância é falar de ações e omissões. As ações associadas aos maus-tratos físicos, emocionais ou sexuais, e as omissões mais relacionadas com a negligência ou a privação de cuidados. É também falar de crianças expostas a contextos de violência e conflito ou privadas de conviver com elementos da sua família.

Falar de maus-tratos na infância é, contra todas as expectativas, falar daquilo que, na maior parte das situações, ocorre dentro da própria casa.

A família não é, afinal, o lugar mais seguro do mundo.

Contrariando a ideia estereotipada de que quem agride as crianças são pessoas estranhas, as evidências indicam-nos, sem sombra de dúvida, que quem agride são pessoas muito próximas, com quem as crianças vivem ou com quem mantêm uma relação de familiaridade.

Pessoas (na sua maioria, mães e pais) em quem as crianças confiam e que se aproveitam do seu estatuto e poder para, de uma forma cobarde, violarem os direitos dos mais novos.

A prevenção dos maus-tratos começa com a sensibilização face ao tema, potenciando uma maior consciência sobre os direitos das crianças e as várias formas de estes poderem ser assegurados. Consciência esta que é preciso fomentar, não apenas nos adultos, mas também nas próprias crianças, que tantas vezes desconhecem os seus direitos.

De forma complementar, a prevenção dos maus-tratos deve envolver ações continuadas no tempo e pensadas numa lógica sistémica e holística, envolvendo as crianças e todos os adultos nos vários contextos onde estas se movimentam. É necessário aumentar conhecimentos e desenvolver competências que permitam, cada vez mais cedo, identificar potenciais situações de risco e saber como proceder. Significa isto que as campanhas de sensibilização (de cariz mais pontual) têm de ser, necessariamente, complementadas com estratégias de capacitação e prevenção que sejam implementadas de uma forma continuada no tempo.

Os maus-tratos na infância acontecem todos os dias. Abril é o mês da sensibilização. Que seja, pois, a inspiração para os restantes meses do ano.

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