A Europa precisa de recuperar o espírito de Helsínquia
A Conferência de Helsínquia significou o relançamento da cooperação e da paz entre o Leste e o Oeste. Em 1975, marcou um quadro de diálogo entre os EUA e a URSS, num conjunto de 35 países e, após o fim da Guerra Fria, deu lugar à OSCE, agora com 57 Estados. Assegurando a paz na Ucrânia, é essencial retomar esse espírito.
O dia de segunda-feira ficou marcado pela deslocação das três Presidências europeias à Ucrânia: da Comissão, do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu. A União reafirmou o seu apoio económico, financeiro e militar (estamos a falar até agora de 135 mil milhões de euros, sendo que, deste valor, 48,7 mil milhões destinados ao esforço militar); reassumiu o compromisso de acelerar o investimento na indústria de Segurança e Defesa e da adoção de um novo pacote de sanções.
Daqui resulta a vontade de conferir mais peso negocial à Ucrânia e à própria Europa e, se atentarmos bem nas palavras ditas e escritas, reassumindo a vontade de integrar a Ucrânia na UE, nem uma palavra houve sobre a integração na NATO. Ou seja: a causa próxima da guerra, a causa com que a Rússia sempre procurou legitimar a sua intervenção, caiu por terra! Ou seja: o mais importante, não foi o que se disse. Foi o que se não disse!
Nas eleições alemãs, os jovens entre os 18 e os 24 anos votaram maioritariamente nos partidos dos extremos: à esquerda e à direita. 48% votaram nos extremos AfD e Die Linke e 23% votaram no SPD e na CDU/CSU.
Estes números podem indiciar que a respostas do centro político aos jovens europeus é insuficiente. Vale, pois, a pena olhar para os resultados de um inquérito feito aos jovens europeus entre os 16 e os 30 anos sobre aquelas que entendem deveriam ser as prioridades políticas europeias:
1.ª Prioridade, custo de vida/preços, com 40% na UE e 37% em Portugal;
2.ª Prioridade, Ambiente e Clima, com 33% na UE e com 33% em Portugal;
3.ª Prioridade, Economia e Emprego, com 31% na UE e 35% em Portugal;
4.ª Prioridade, Proteção Social/Saúde, com 29% na UE e com 23% em Portugal;
5.ª Prioridade, Educação e Formação, com 27% na UE e com 28% em Portugal;
6.ª Prioridade, Habitação, com 23% na UE e com 42% em Portugal;
7.ª Prioridade, Defesa e Segurança, com 21% na UE e com 23% em Portugal;
8.ª Prioridade, Migrações e Asilo, com 19% na UE e 19% em Portugal;
9.ª Prioridade, Igualdade de género, com 17% na UE e com 19% em Portugal;
10.ª Prioridade, Democracia/Estado de Direito, com 17% na União Europeia e 10% em Portugal.
Ora, este Eurobarómetro ilustra que a União tem de procurar construir um melhor equilíbrio entre os objetivos de caráter estratégico, como sejam a paz, a Segurança e a Defesa; a energia, a saúde, o agroalimentar, a demografia, o alargamento…e a resposta ao que mais preocupa os cidadãos, nomeadamente os mais jovens. Pelo que eventuais cortes nas políticas económicas e sociais poderão vir a ter efeitos democráticos muito nocivos.
Considerando que as migrações têm vindo a conquistar um espaço na agenda mediática acima do peso que lhe é atribuído nos resultados deste inquérito, vale a pena chamar a atenção para um facto: de acordo com os dados da Frontex, em 2024 houve menos 38% de entradas irregulares no Espaço Schengen do que em 2023.
Fonte Eurobarómetro:
https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-room/20250210IPR26795/custo-de-vida-e-meio-ambiente-sao-as-principais-preocupacoes-dos-jovens-da-ue
Deputado do PS