A enorme savana de Fernando Alexandre

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Na savana, a única esperança do gnu é correr. Correr muito e rápido, acompanhando a manada nas migrações rumo à água e ao pasto. O gnu corre porque, se a manada o deixa para trás, há centenas de predadores que se organizam em matilhas à espera de uma oportunidade de o fazer em tiras de picanha.

Na selva política portuguesa, vê-se bem quem são os gnus mais retardatários: Ana Paula Martins, na Saúde, e Margarida Blasco, na Administração Interna. Têm pastas complicadas (que ambas conseguiram complicar um pouco mais), colecionaram polémicas - atrasos no INEM que resultaram em mortes ou a ideia peregrina de debater a greve na polícia. Estão sob fogo em quase todos os noticiários e as sondagens indicam que os portugueses as consideram, bem ou mal, as ministras mais fracas do elenco de Luís Montenegro.

O ministro da Educação, Fernando Alexandre, tem-se mantido a salvo do frenesim das hienas. É certo que o ano letivo arrancou aos soluços, com escolas fechadas todas as semanas devido a greves várias e com dezenas de milhares de alunos sem aulas (por falta de professor) a pelo menos uma disciplina.

Mas na sexta-feira (primeiro na capa do Expresso e, depois, numa conferência de imprensa), Fernando Alexandre anunciou que, desde o arranque do ano letivo, “apenas” 2340 alunos estão sem aulas a, pelo menos, uma disciplina, o que representa menos 89% do que no final do primeiro período de aulas do ano letivo anterior (então com o Governo PS).

Mas este número do ministro não reflete a totalidade de alunos sem aulas, só os que não têm professor desde setembro. Na verdade são mais de 41 mil os alunos que estão, à data, sem professor a uma ou mais disciplinas. E estes dados também são do Ministério da Educação, divulgados na apresentação de sexta-feira…

A líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, não perdoou, exigindo ao Governo “seriedade” na análise. O Bloco de Esquerda acusou Fernando Alexandre de “martelar” os números. Também os professores dizem que os número do Governo chocam com a realidade.

Das 15 medidas do Plano de Emergência para a Educação apresentado há cinco meses, são poucas a que estão com uma execução capaz de mudar o estado de coisas. E isto inclui os apoios à integração de alunos estrangeiros - uma prioridade que o ministro Fernando Alexandre assumiu em entrevista ao DN no final de setembro. Agora, dois meses depois, os diretores de escola dizem - na edição deste domingo, 24 de novembro, do DN - que as medidas de apoio a estes alunos que necessitam de ajuda adicional, desde logo por causa da barreira da língua, não estão a chegar às escolas. Nem vou falar de professores de Educação Especial.

Como qualquer gestor reconhece, é melhor ter um plano (e Fernando Alexandre apresentou um) do que não ter qualquer ideia do que se pretende fazer. Mas como qualquer político sabe, será com o plano (e Fernando Alexandre anunciou um, ambicioso) que todos vão medir o êxito ou não da ação de um ministro.

Resta, por isso, saber se o ministro da Educação evitou as garras e os dentes dos predadores porque correu e acompanhou a manada, ou se apenas correu mais do que os gnus mais lentos que ele.

Diretor-adjunto do Diário de Notícias

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