A direita radicaliza-se

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A rentrée política tem corrido bem a Luís Montenegro. Foram semanas intermináveis de discussão sobre a viabilização do Orçamento de Estado, que terminaram da forma previsível e que se podia antecipar há muito.

Montenegro, como já aqui escrevi, beneficiou da incerteza artificial que se foi gerando, pois o eleitorado só ouvia falar de um tema que é favorável ao Governo, uma vez que as pessoas estão (justificadamente) fartas de crises políticas e eleições.

Com o Orçamento no bolso, Montenegro chegou então ao Congresso do PSD. Destapou assim a fase seguinte da sua governação. Um discurso que orienta a governação para opções conservadoras e nativistas. O líder do PSD e Primeiro-Ministro escolheu radicalizar a agenda (ou pelo menos o discurso) em temas de liberdades e de migrações. Tanto que o presidente do Chega já lhe tece acusações de um pretenso plágio ao programa e bandeiras da extrema-direita.

Parece adivinhar-se, portanto, uma governação a caminho das Autárquicas a distribuir benefícios a grupos específicos, aproveitando a enorme margem orçamental deixada pelo Governo anterior, e uma ação de base ideológica mais radical nos temas societais, com as migrações em destaque.

Montenegro procurará captar o centro, com medidas de cariz social, beneficiando da perceção de maior pendor à esquerda do atual PS, mas criará narrativas mais à direita, para reganhar eleitorado mais conservador perdido para o Chega. E com a política de portas fechadas, piscará o olho ao eleitorado nativista em geral, que parece estar espalhado por vários quadrantes políticos.

Este apelo aos eleitores nativistas não é único em Portugal.

Foi o grande tema do último Conselho Europeu, onde a nova grande maioria de direita reclama um complemento ao Pacto para as Migrações, seguindo a radical primeira-ministra de Itália no desejo de alargamento da rede de países “seguros” para retorno de migrantes indocumentados e refugiados rejeitados pela Europa.

A sociedade está a tornar-se menos tolerante, quando mesmo a Europa, ávida de migrantes para colmatar o envelhecimento da sua população (dizem-no os vários setores económicos quase diariamente), não resiste aos apelos nativistas de grandes massas da sua população, seguindo, assim, os mais extremistas da direita.

E está a ser o grande tema também da campanha de Trump nos Estados Unidos (muito mais mesmo do que o estado da economia). O candidato do Partido Republicano, que já disse que os estrangeiros poluem o sangue dos americanos, está totalmente investido numa narrativa desumanizadora e sinistra. É um caminho muito perigoso.

6 valores: Democracia moçambicana

Após as Eleições Gerais em Moçambique, regressaram os assassinatos de agentes políticos. Um lamento profundo, pela fragilidade da democracia de um país-irmão, que parecia dar sinais de vitalidade, mas acaba por regressar aos piores tempos já vividos em atos eleitorais anteriores.

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