A arte de fazer nada
Tempo. Tudo se resume a tempo. Estamos presos no ciberespaço. Presos em reuniões intermináveis. Presos nas tabelas de Excel e nos slides do Powerpoint. Presos.
E para nos soltarmos basta muitas vezes seguir os melhores na arte de "fazer nada", que é como quem diz, procrastinar. Parar.
É certo que a maioria pensa que a procrastinação é uma forma de preguiça e de apatia, que é uma forma de improdutividade. Mas não. No Egito ancestral, por exemplo, definia-se a procrastinação como "o esperar pela hora certa". Adam Grant, professor na Escola de Wharton da Universidade da Pensilvânia, defendeu isso mesmo, demonstrando que a procrastinação é, na verdade, uma ferramenta dominante que é usada por alguns dos pensadores mais inovadores, desde Steve Jobs a Albert Einstein. Esta arte de "fazer nada" está relacionada sim com a arte de pensar. Mais tempo livre, mais tempo para pôr as sinapses a trabalhar. Mais tempo livre, maior agilidade mental, maior disponibilidade para pensar em coisas novas, maior recetividade para forçar conexões inusitadas, ou seja, mais ingredientes para saciar a criatividade.
Escrever páginas e páginas, cumprir prazos, estar em reuniões, responder a emails intermináveis, podem ser as nossas profissões neste preciso momento. E a pandemia não ajuda, é certo. Portanto... cá estamos nós, presos no ciberespaço, presos numa rotina sem pólvora para acender a faísca criativa. Saber esperar pelo momento certo, pelo momento de riscar o fósforo e acender esta pólvora será mesmo que só está ao alcance de alguns?
Um outro estudo levado a cabo pelos investigadores da Business School INSEAD reforça que "fazer nada" melhora as nossas capacidades imaginativas potenciando as nossas capacidades de gerar novas ideias.
Mas há mais! Também o The New York Times publicou que cinco cientistas ao pararem as suas atividades profissionais melhoram consideravelmente as suas capacidades cognitivas.
Enfim... é verdade que nem todos nos podemos dar ao luxo de parar.
E é verdade também que não se consegue pensar com arte e engenho se estivermos presos no ciberespaço.
Mas também é verdade que a escolha depende de nós, se queremos ser produtivos ou se queremos ser criativos, e, acreditem, muitas das vezes temos mesmo de escolher. E eu escolho (quase) sempre a segunda, porque fazer nada é na verdade... fazer muito!
Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia