A aliança explosiva de Musk e Trump

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Elon Musk é um verdadeiro enigma. A reputação de genial e visionário emparelha com a fama de provocador e impulsivo. Para uns é o homem que moldará o futuro da Humanidade, mas para outros é um multimilionário imprevisível e descontrolado que pode lançar o caos no mundo. Com o papel que surpreendentemente vem assumindo na Administração de Donald Trump, crescem os rumores de que ambiciona ser o dono disto tudo. Tudo mesmo, o que não me deixa descansado.

A compra do Twitter, depois rebatizado X, deu-lhe uma ferramenta de influência à escala planetária. Que logo utilizou para ajudar Trump a regressar à Casa Branca. Recentemente, tentou reassumir o controlo da OpenAI, que detém o ChatGPT, através de uma oferta de 97,4 mil milhões de dólares. A proposta foi recusada pelo seu arquirrival Sam Altman. Sem perder tempo, anunciou dias depois que a sua empresa xAI iria lançar o Grok3, prometendo que seria o motor de Inteligência Artificial mais poderoso do planeta.

Esta ânsia de ter a tecnologia mais avançada, de preferência sem concorrência, ganha contornos mais inquietantes quando se suspeita que Elon Musk poderá vir a interferir na regulação da Inteligência Artificial dentro da Administração Trump.

Num momento em que as grandes empresas de tecnologia frequentemente entram em conflito com os órgãos reguladores, a proximidade de Musk com a indústria levanta sérias preocupações sobre o conflito de interesses daí resultante. Atribuir-lhe um papel central na formulação de políticas para a IA poderia resultar num ambiente de regulação frouxo, com os interesses comerciais a sobreporem-se aos temas da segurança, da ética e da privacidade. O seu histórico sugere que qualquer estrutura regulatória que ajudasse a moldar poderia priorizar a inovação acelerada em detrimento da prudência, com consequências que poderiam ser catastróficas.

Este é o homem que, segundo se lê, tem a visão de colonizar Marte, o planeta vermelho, movendo um milhão de pessoas através da sua SpaceX. E que sonha em conectar cérebros humanos a computadores, recorrendo à também sua Neuralink. Na sua extravagância, chegou a lançar um dispositivo chamado “Not-A-Flamethrower” (literalmente, “Não-É-Um-Lança-Chamas”). Tratava-se de um equipamento semelhante a um lança-chamas, projetado para uso recreativo, mas considerado muito perigoso.

O problema dos poderosos é que não habitam aos pares. Por norma, entram em choque na disputa pelo poder e pelo protagonismo. Por isso, sou dos que suspeitam que a proximidade de Musk e Trump tenderá a ser explosiva. Isso poderia ser bom, porque um afastaria o outro. Mas poderia ser também mau, porque abriria uma guerra fratricida entre dois homens muito impulsivos, que dispõem de meios de litigância verdadeiramente destrutivos. O mundo não ficaria mais seguro.

Professor catedrático

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