800 mil milhões em quatro notas
"Rearmar a UE.” É esta a designação do programa multimilionário de delírio belicista e militarista com que a União Europeia quer comprometer o futuro dos povos, a sua segurança e a paz, aumentando, nos próximos quatro anos, os gastos militares em mais 800 mil milhões de euros.
A propósito deste plano da UE destacam-se apenas algumas ideias que parecem mais relevantes, arrumadas em quatro notas.
A primeira nota para sublinhar que a corrida aos armamentos não garante a paz, nem a segurança, aumenta, sim, os riscos de guerra e destruição.
A corrida aos armamentos só arrasta mais corrida aos armamentos, o aumento dos arsenais militares agudiza tensões e agrava riscos de confrontações militares, o investimento no armamento aumenta a sua capacidade destrutiva.
Os países europeus que integram a NATO (retirando a Turquia) já hoje têm gastos militares 3,5 vezes superiores aos da Federação Russa e 1,3 vezes superiores aos da China. Ao decidir gastar mais 800 mil milhões de euros, a UE dá um sinal no sentido da intensificação da corrida global aos armamentos.
Em vez de se travar a guerra com soluções de paz, segurança colectiva e desarmamento (necessariamente geral, simultâneo e controlado), agudizam-se riscos e perigos de destruição à escala global.
A segunda nota é para destacar que estes recursos financeiros usados para o militarismo ficam a faltar ao que é prioritário.
Os 800 mil milhões que se anunciam não cairão das nuvens.
650 mil milhões serão aumentos dos gastos militares suportados directamente pelos Estados e pelos seus orçamentos. A Portugal deverá caber um montante na ordem dos 4,3 mil milhões de euros.
Acrescentam-se 150 mil milhões que terão origem em empréstimos contraídos pela UE, ou seja, dívida que terá depois de ser paga pelo Orçamento da UE.
Soma-se ainda o anúncio de que poderão ser desviadas verbas de fundos da coesão para o militarismo.
Tudo isto são recursos financeiros que, para estarem disponíveis para o militarismo e a guerra, não estarão disponíveis para investir na melhoria de salários e pensões, na habitação, na saúde, na educação, na protecção social, no desenvolvimento.
A terceira nota é para denunciar que as facilidades dadas ao militarismo contrastam com as dificuldades para o que interessa ao povo.
A UE anunciou que as verbas para o militarismo não serão consideradas nos critérios do défice orçamental e da dívida fixados pelo Pacto de Estabilidade. Já se for para investir em qualquer um daqueles objectivos sociais referidos anteriormente, lá estará o garrote orçamental.
Esta é a marca de uma política de economia de guerra que deixa para trás a vida das pessoas.
Por último, fica a nota de alerta de que aos liberais (antigos, novos ou convertidos) só interessam mesmo os grandes negócios, mesmo que para o povo sobre apenas a factura desse negócio com a morte, o sofrimento e a destruição.
Certamente é essa obsessão com o negócio que os faz explodir de raiva e ódio sempre que são expostos e confrontados.
Também por isso é preciso que a exposição e o confronto continuem a fazer-se.
Eurodeputado
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico