25 de Novembro
49 anos depois, no ano em que se consolida a democracia, com as bodas de ouro da Revolução dos Cravos e do Dia da Liberdade, o 25 de Abril, atinge-se o esplendor máximo da democracia: a celebração do 25 de Novembro, uma data quase tão antiga e importante como o 25 de Abril.
Pessoalmente, como “filho da madrugada”, e face às minhas orientações políticas e ideológicas, sinto-me confortável com os eventos ocorridos a 25 de Novembro. Ao invés do 25 de Abril, que é uma data consensual e reconhecida como o marco fundador da democracia, o 25 de Novembro foi um dia muito diferente e fraturante.
Em 1975, Portugal vivia momentos conturbados e próximos de um clima de guerra civil. O 25 de Novembro foi essencial para evitar que, efetivamente, se entrasse em conflito interno e também para consolidar o 25 de Abril de 1974.
Cada um saberá o papel que desempenhou em 1975 e por isso mesmo é que, tal como em abril de 1974, Portugal teve a felicidade de ter individualidades que, no momento certo, souberam colocar os interesses nacionais acima dos interesses partidários.
Só assim foi possível contar com a esmagadora maioria que assegurou o 25 de Abril e voltar a contar com os mesmos no momento em que impediram que Portugal entrasse em derivas totalitárias. Inicialmente, esse totalitarismo tinha um pendor claramente de esquerda. Contudo, rapidamente poderia ter passado para a direita, não fora a intervenção dos moderados que impuseram e asseguraram a manutenção da paz, democracia e segurança.
Foi assim que Portugal continuou o seu percurso em direção à estabilização da democracia alcançada em abril de 74, pondo fim ao processo revolucionário. A partir daí, o nosso país tornou-se numa jovem democracia europeia pronta para começar a competir no seio da União, mantendo um relacionamento estreito com os restantes países e regiões onde a língua de Camões chegou.
Acerca do 25 de Novembro, o primeiro presidente da república eleito afirmou que as datas fraturantes não devem ser celebradas, mas não podem ser esquecidas. Todavia, nos dias de hoje, e face ao extremar de posições, é preferível contar a história como essa verdadeiramente ocorreu, ao invés de dar espaço a oportunistas que a tentem reescrever ou apagar.
O papel assumido pelos principais líderes dos partidos portugueses da época permitiu estar aqui hoje, de forma livre. Por isso mesmo, quanto às celebrações que marcam a agenda em Lisboa e no Parlamento, são um acontecimento lembrado pelos que estiveram do lado certo da história e, como tal, devem estar orgulhosos pelos seus feitos. O desconforto de poucos não deve de todo impedir que a história venha à luz do dia de forma cristalina.
Ao longo deste ano já se ouviram correntes opostas; umas apregoando que o tacticismo acabou e outras que afinal não. Táticas à parte, os portugueses devem a consolidação da democracia ao 25 de Novembro. Os moderados (do costume) impediram que os extremos triunfassem e que Portugal voltasse a perder a sua liberdade para um regime totalitário (de esquerda ou de direita).
Os dias do presente são felizmente menos agitados, mas, para além do tacticismo, os portugueses precisam de esperança e de verdade. Só assim, e através de uma ou mais ideias claras, poderão escolher dentro de poucos meses os seus representantes.
Enquanto incansavelmente se discute a tática, não se aprofunda nem se debate a ideia. Parece que a dada altura se esqueceu que a ideia trará a solução para os problemas das pessoas e, no fundo, é para as pessoas que os políticos trabalham.