2025, o território da incerteza

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O que está para vir transporta-nos sempre para o território da imprevisibilidade.

É essa imprevisibilidade que, desde sempre, alimentou atividades divinatórias, ou entendidas como tal, mais ou menos imbuídas de algum misticismo e, geralmente, mais geradoras de dúvidas do que de certezas.

Os tempos modernos, em grande medida por influência francesa, viram desenvolver-se escolas de prospetiva que, pela sua robustez metodológica, deixaram para trás a adivinhação, e são suporte valioso de pensamento e de decisões antecipatórias.

O momento que vivemos parece, no entanto, incompatível com qualquer exercício sério de prospetiva, tais os graus, e os tipos de incerteza com que somos confrontados.

A vida política mundial está hoje dominada pelas posições americanas que parecem querer sacrificar as regras do Direito Internacional, privilegiando a afirmação de que a força voltará a dominar as relações entre os Estados.

Aqueles que ontem contestavam o uso indevido da força nas relações internacionais, desenvolvem hoje argumentos semelhantes aos adversários de ontem. Resta-nos esperar que não os concretizem.

Guerras de maior ou menor intensidade continuam sem fim à vista e a tudo destruir.

Aliados de décadas discutem agora na praça pública (mundial) as contribuições de cada um para o esforço comum.

Ora, todo este quadro político de incerteza é especialmente agravado pelos desafios que a economia mundial parece enfrentar em 2025.

A economia americana, apesar dos bons resultados conseguidos por Biden, é percecionada pelos americanos como estando em crise.

O que é que acontecerá quando as tarifas aduaneiras agravarem a inflação e, consequentemente, os rendimentos disponíveis, especialmente dos mais pobres, diminuírem?

Ou quando, as desigualdades que, um pouco por todo o mundo, se vêm agravando continuarem a atirar para a marginalidade social os menos preparados, sendo que está por se perceber qual o impacto que o desenvolvimento da Inteligência Artificial vai ter sobre as desigualdades.

Como é que a economia mundial vai reagir ao que parece ser uma crescente importância dos ativos virtuais, essencialmente criptomoedas, com tudo o que tal representa de diminuição do poder dos Estados?

Por outro lado, a China, primeiro exportador mundial e segundo mercado de consumo do planeta, parece ver diminuir o dinamismo económico que a caracterizou nos últimos 30 anos.

A Europa, na sua mais recente tradição, afunda-se no paraíso burocrático em que se transformou e numa insuportável dívida pública, sem capacidade, vontade? de agir e assim se hipotecando por gerações.

O mundo parece querer juntar à incerteza política a imprevisibilidade económica, neste ano de todas as incertezas.

Esperemos não acabar 2025 a questionarmo-nos se ainda somos livres e vivemos em democracia.

Advogado e gestor

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