1 em cada 3: porque precisamos de proteger as crianças ‘online’

Publicado a

Um em cada três utilizadores da internet no mundo é uma criança ou um jovem menor de 18 anos. Embora esta conectividade traga inúmeras oportunidades de aprendizagem e diversão, será que o ambiente digital onde passam tanto tempo é realmente seguro para eles?

Na série Adolescência, vemos apenas uma das formas como o mundo digital pode ser um lugar deveras arriscado para os jovens, influenciando decisões e comportamentos de forma imprevisível. Este retrato fictício levanta uma questão crucial: será que estamos a fazer o suficiente para proteger as crianças e adolescentes na vida real?

São vários os perigos que já foram identificados, como o acesso a conteúdos online violentos, pornográficos ou inadequados para a sua idade. Há também a dependência digital através de jogos e o ciberbullying, o risco mais frequente, que se manifesta através de comentários maldosos ou mensagens ofensivas, para afetar a autoestima e o bem-estar emocional das crianças.

Imagine que uma criança de 10 anos, entusiasmada com um novo jogo online, recebe um pedido de amizade de alguém que afirma ter a mesma idade. Começam a conversar, a partilhar histórias e fotografias. Mas a criança desconhece que o ‘amigo’ não é outra criança. Devemos manter o anonimato nas redes sociais? A liberdade de informação deve prevalecer sobre os perigos que daí decorrem sobretudo para os mais pequenos?

Estima-se que aproximadamente metade dos adolescentes europeus já enfrentou alguns destes riscos e que apenas um em cada três dos seus encarregados de educação utiliza ferramentas de controlo parental. Além das famílias e dos educadores, que mais pode fazer-se para ajudar a prevenir estes riscos, nunca ignorando as vantagens de estar conectado?

A União Europeia tem liderado este esforço para proteger os direitos digitais das crianças, nomeadamente através da iniciativa Better Internet for Kids, envolvendo até as crianças na criação de soluções. No seu Regulamento sobre os Serviços Digitais, de 2022, veio proibir a publicidade direcionada a crianças com base nos seus dados pessoais e exigir a criação de sistemas fáceis de denúncia de conteúdos ilegais ou prejudiciais, como a partilha não-consensual de imagens privadas. Exigiu-se ainda uma maior responsabilidade das plataformas, incluindo avaliações regulares de risco relativo aos danos para crianças. Como eurodeputada, ouvi-as muitas vezes afirmar que não eram precisas regras e que até já o faziam por iniciativa própria, mas viram como a Meta se descartou rapidamente do seu programa de verificação dos factos, mal Trump ganhou as eleições.

Resistindo às fáceis acusações de “regulação excessiva”, devemos apoiar este compromisso da União Europeia para criar um ambiente digital mais seguro, sabendo que diminuímos os riscos, se aumentarmos a literacia em cibersegurança e obrigarmos as plataformas digitais a serem mais responsáveis. O valor do seu negócio não pode sobrepor-se ao bem-estar de todos nós e à segurança das nossas crianças.

Ex-deputada ao Parlamento Europeu

Diário de Notícias
www.dn.pt