NOS. Uma marca que nasceu de "um colaborador"

Acabaram uma fusão em outubro, decidiram criar uma nova marca em dezembro. Durante seis meses foi uma corrida contra o tempo pelos lados da Zon Optimus. Em maio nasceu a NOS.
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Em entrevista ao Dinheiro Vivo, Hugo Figueiredo, diretor de marca e comunicação da NOS, conta como surgiu o nome, explica a escolha da Wolff Olins e até as polémicas recentes envolvendo a marca nas redes sociais e a coincidência do nome NOS, com o do partido que Mário Machado, o ex-líder da organização skinhead, Hammerskins.

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Hugo Figueiredo comenta até o anúncio com que o Meo assinalou a chegada da NOS ao mercado que, diz, viu "com felicidade". "Sem

qualquer ironia só posso ver isso como uma coisa positiva", frisa.

NOS numa empresa em fusão

era uma escolha inevitável?

Nem por isso. Teve mais a ver com o processo de construção de

posicionamento, que decorreu em paralelo ao tema dos nomes, que é muito

complexo: tem questões legais, aspectos de língua, de reconhecimento, de

associação do nome ao território competitivo em

que nos movemos, o das telecomunicações.O processo dos nomes teve várias fontes.

Receberam mais de 1800

propostas.

Cerca de 1200 a 1300 vindas

de colaboradores, outras das equipas de trabalho e da

Wolff Olins.

O NOS veio da Wolff Olins?

Por acaso veio de um

colaborador. Fomos trabalhando shortlists, recuperando alguns nomes deixados

para trás. Tinhamos uma shortlist de 20/30

nomes, quando chegamos ao posicionamento (em torno da ideia de grupo, de que juntos é melhor),

o NOS ganhou muita força e chegou a uma shortlist

de três. Acabou por ficar porque também se

revelou possível do ponto de vista legal.

Tem também

uma grande força de comunicação interna.

Quando tomamos a decisão 95%

foi por causa do mercado, do posicionamento e de ser diferenciador, mas é óbvio

que, claramente,

ficou patente o potencial que tem para a construção da cultura interna. É crítico para o sucesso da empresa que os

colaboradores vistam esta nova camisola NOS.

Entre a decisão de ter uma

nova marca e o NOS decorreu quanto tempo?

A decisão definitiva do nome

NOS não tem assim tanto tempo,

até por questões legais. O processo iniciou-se a 8 de janeiro com a

Wolff Olins, altura em que tivemos a

primeira reunião, no final de fevereiro foi

apresentada a shortlist de três nomes, já com NOS. Dois

meses, mais ou menos.

E depois desse trabalho, tanta gente

envolvida e estando em causa o nascimento de um novo operador como é que viu o

facto de um partido de extrema direita ter a mesma designação, NOS - Nova Ordem Social?

Para já é apenas uma

declaração de intenções...

E só demorou sete horas a

criar.

(risos) Não nos preocupa

sobremaneira, move-se em territórios

diferentes. Há outras siglas que remetem

para outras marcas, não penso que isso seja problemático.

Houve a preocupação de ter

uma marca com um nome português, o tipo de letra usado foi criado por um

designer português. Tudo é português na NOS, excepto a agência que a criou. Porquê a Wolff Olins?

Estamos a criar uma

marca que atua em Portugal, mas é uma

empresa com ambições internacionais. Estamos a criar uma marca de classe mundial, ao

nível daquilo que apresenta, seja nos serviços, design, comunicação, em todas

as atividades da empresa. Nesse sentido, tentamos trabalhar com os melhores, fossem

portugueses ou não. Fomos ao mercado, onde

consultamos empresas para além da Wolff Olins, algumas portuguesas.

E com trabalho reconhecido

nessa área, inclusive para a Sonae, caso da Ivity.

Com

certeza, e com quem trabalhei noutros projetos. Mas

quando olhamos para a proposta de desenvolvimento de projeto, como as agências se propunham abordar a construção

desta marca, a Wolff Olins reunia as melhores condições para levar isto a bom

porto. Acabou por ganhar. Não nos chocou por

ser estrangeira, como não nos chocaria por ser portuguesa. Foi um critério

absolutamente objetivo em relação ao desenvolvimento do projeto, ao que

propunham fazer, os timings, a equipa de projeto, os honorários...

Mas acabaram

por envolver outras agências

que participaram na consulta, como a RMAC.

São coisas distintas. Uma é o trabalho criativo de concepção de um

território, de um nome, de um posicionamento, outra é a declinação desse

território nos milhares de aplicações que temos com a marca: telas de loja, cartões de visita, packaging, um trabalho mais operacional. Nessa altura (fevereiro/março) tinhamos duas agências que vinham da ex-Zon e

ex-Optimus, no caso da BBDO a agência de design é a RMAC, e na Havas é a Havas

Design +,decidimosjuntar

pessoas de diferentes agências a trabalhar a declinação da marca. Quando

tinhamos as reuniões com a Wolff Olins tinhamos pessoas da RMAC, da Havas

Design+, da NOS. Foi um processo colaborativo que tem muito a ver

com o posicionamento da marca. Estávam cá no

edifício, numa espécie de war room, à volta de 20 pessoas.

A escolha da Wolff Olins

não cria algum distanciamento à realidade local? Mal foi

conhecida surgiram alusões a uma

parecença com o Meo

Spot. Não teria sido evitado optando por uma agência local?

Em relação ao distanciamento

à realidade local, formou-se uma equipa, da qual a Wolff Olins fez parte, mas a pessoa que escolhemos para liderar o processo de design era local, a Ana Cunha da

RMAC. Ela integrou a equipa como se fosse da

NOS. Havia mais portugueses a trabalhar no projeto do que ingleses, porque

mesmo na Wolff Olins havia portugueses.

Quanto ao outro aspecto [comparação com o Meo Spot],

Albuquerque [da Albuquerque Designers]: coisas com raios há muitas. Se olharmos para as

duas marcas, as lojas, os packagings, os anúncios, não

há qualquer tipo de semelhança. Se em algum aspecto há semelhança... Nem é o caso de desvalorizar os pratos [a marca foi também acusada nas redes sociais de ser

parecida com pratos vendidos no Continente], porque é haveria de os desvalorizar?

São pratos coloridos, são uns bonitos pratos (risos). Coisas com raios há muitas, mas independentemente disso, quando olhamos para a NOS é novo, diferente e fresco e não há nada comparável em Portugal.

Não haverá na identidade uma excessiva simplicidade que

permite ler coisas muito diferentes?

Não. A simplicidade é um

valor. Esta é uma marca que se apresenta com

essa lógica: pretende estar próxima das pessoas e isso está patente no design e na

ideia do NOS, do poder de grupo e do juntos é melhor.

Isso é muito vísivel em tudo o que temos feito.

Mesmo a campanha teaser, são filmes

simples, sem serem simplistas. A marca tem

esse lado simplicidade, mas do ponto de

vista visual é rica. Já vimos como pode

evoluir e achamos que tem essa longevidade

para evoluir.

'Há mais em NOS'

suficiente para enfrentar o Meo?

Este é um projeto de

liderança, de ambição. Quando

apresentamos uma marca com estas características o produto tem de ser a

estrela, tem de entregar, inovar, ter a

capacidade dos portugueses olharem para a nossa oferta e sentirem essa

diferenciação. Os nossos

concorrentes não vão ficar parados e até

tiveram vantagens porque estávamos no processo de fusão. Agora ficamos todos com

armas parecidas para construir ofertas que façam com que os portugueses tenham

os melhores serviços da Europa ao nível das telecomunicações. Neste caldo

competitivo quem tem beneficiado mais é o consumidor,

e ainda bem.

Como é viu o anúncio do

Meo, com os Gato a dizer que 'Nós não vivemos sem o

Meo'?

Com felicidade. (risos) Sem

qualquer ironia só posso ver isso como uma coisa positiva. Tenho um problema: ninguém conhece esta marca. Nasceu agora, tem

zero de notoriedade. Tudo o que faça com que

as pessoas falem sobre a minha marca, sobre a sua existência e que vem

concorrer com este ou com aquele, ajudando a estabelecer o território, são boas

notícias.

Os

festivais ajudam a

construir essa notoriedade. O Primavera Sound já é NOS, vai acontecer o

mesmo nesta edição do Alive!?

Os festivais estão em

estágios de maturação e fase de concretização muito diferentes. No Primavera

não havia ainda muito a associação do Optimus ao festival e, por outro lado, 80% do esforço de concretização de vendas da parte

do promotorestá realizado. É mais fácil fazer

essa transição brusca e toda a comunicação vai ser NOS Primavera Sound até à

data do festival. O Optimus Alive! é completamente diferente. Vai na 8ª edição, o nome Optimus está muito associado,

há um conjunto enorme de patrocinadores que divulga o festival Optimus Alive! Há que respeitar isso, o promotor, as pessoas que

compraram os bilhetes. Vamos fazer uma

transição mais gradual. Em futuras edições vai chamar-se NOS Alive.

Porquê os Queen para tema

da nova campanha? Como é que encaixa no histórico de bandas alternativas, durante anos a marca sonora da Optimus?

Quando

achámos que tinhamos o território gráfico fechado,

lançámos o concurso para as agências de criatividade. Quando decidimos pela

Havas a proposta de campanha que tinham era a que

está no ar já com os Queen. Gostámos da

campanha, achámos que a música era fortíssima, que era transversal, intemporal,

um clássico, escolhemos o pacote. Há ali a

ideia da marca conseguir o impossível e a história do filme é essa: uma mulher

que com os seus amigos, namorado, atravessa um conjunto de conteúdos, uma

metáfora para os conteúdos da NOS, e no fim vai a um concerto dos Queen, que se

sabe ser impossível, mas que deixa a ideia

de que a marca vai conseguir coisas extraordinárias. E isso tinha de ser com

uma música dos Queen. A

NOS apresenta-se não como challenger, mas com uma atitude de liderança, é líder

em televisão. Por isso, essa comparação com

a Optimus já não cola porque a Optimus era um challenger. A NOS é líder e escolher um clássico está completamente em

sintonia.

Mas vai ser a banda sonora

da marca?

A música vai ter, provavelmente, um

papel na comunicação, mas não sabemos ainda que papel, estamos a

desenhar agora.

Nesta mudança para NOS

mantiveram a WTF e a Tag.

O WTF vai manter-se como uma

marca independente, porque fala

aos jovens e o mercado português endereça este segmento com marcas independentes. Está a correr o processo de construção de marca, a adesão dos clientes teenagers, não fazia

sentido estarmos a interromper um processo iniciado há apenas um

ano. Outra coisa são os produtos que em alguns casos eram submarcas, como o

Tag, o Kanguru, Íris, o 4. Perderam

identidade gráfica e ganharam apenas a de nome.

E o João Manzarra,

associado ao Tag e ao Kanguru, vai manter-se

com a NOS?

Estamos a

desenvolver tudo o que são linhas de comunicação da marca, não lhe sei dizer se

vamos ter celebridades ou não. De qualquer modo foi muito

bom

ter o Manzarra com a Optimus, ajudou

muito à construção da marca, se decidirmos optar por celebridades

será uma das pessoas que absolutamente

consideraremos.

Já começaram

com o processo de renovação das lojas. O que falta fazer?

Tudo o que se

vê agora são apenas as pedras basilares do futuro que queremos criar com a

marca NOS. Tudo o que tem a ver com lojas, sistemas, frota, cinemas estará tudo

concluído até ao final d

a

semana. Depois é preciso fazer afinações, o processo é hercúleo, não há duas

lojas iguais.

Mas não há

situações de duplicação de lojas?

A junção das

duas empresas levou a uma duplicação dos espaços, também é verdade que temos o

dobro dos clientes, portanto a ideia não é fazer desaparecer metade do parque

de lojas. Não é verdade de todo. O que não faz sentido é termos lojas

adjacentes, lojas muito pequenas ao lado de grandes. Todo o parque de lojas tem

de

se

r

reaquacionado. É capaz de demorar, sendo realista, um ano e

meio, dois anos, até fazer isto tudo convergir para o que seja a visão futura

do parque de lojas que a marca NOS vai ter.

O ano

passado a Zon Optimus gastou em marketing e publicidade 27,3 milhões de euros, segundo relatório e contas.

Este ano como vai ser

para a NOS

?

Vamos ter mais.

Estávamos a falar de marcas consolidadas no mercado, 99% de notoriedade.

Estamos num desafio completamente diferente, de crescimento de notoriedade e

isso consegue-se com um bom território gráfico e criatividade, mas também com

investimento em media para fazer chegar a nossa mensagem aos consumidores.

Vamos aumentar o investimento de media.

Fusão PT/Oi

é uma boa oportunidade para a NOS?

Há vantagens e

inconvenientes nesses processos. Acredito que um processo de fusão, até porque

o vivemos, introduza alguma distração, há uma série de processos que têm de ser

implementados. É um processo que os nossos concorrentes vão ter de correr, vão

tentar minimizar o impacto que esse tipo de operações tem no território,

certamente depois terá vantagens. Na NOS estamos focados no nosso projeto, no

nosso plano, estamos cientes das ambições traçadas pelo nosso CEO

[

quota de 30% em 5 anos

]

e vamos ter que nos empenhar para

as atingir.

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