Os norte-americanos são os principais clientes do Six Senses Douro Valley, o luxuoso hotel que há 10 anos ostenta a exclusiva marca Six Senses e onde a estadia de uma noite custa mais de 1500 euros. Pesam mais de 50% no número de hóspedes anuais do, provavelmente, hotel mais caro do país. Segundo Richard Bowden, diretor de marketing e comunicação da unidade instalada numa propriedade que remonta ao século XV, a tarifa média por noite rivaliza com o Ritz em Lisboa e, agora, talvez com um ou dois hóteis boutique do país. Mas o valor - proibitivo para a maioria das carteiras -, está longe de ser um fator que afaste os portugueses. São a segunda nacionalidade mais representativa no ranking de origens. Seguem-se os brasileiros e depois os britânicos.E o que tem o Six Senses Douro Valley para cobrar um valor tão pouco habitual por pernoita em terras lusas? Desde logo, a marca. Six Senses é uma insígnia do grupo IHG (detém outras cadeias reconhecidas internacionalmente como InterContinental, Regent, Crowne Plaza, Holiday Inn, entre outras), que se apresenta ao mercado numa filosofia de comunidade, sustentabilidade e bem-estar. O logotipo é a representação desse compromisso: é uma pirâmide inspirada na benção dos monges budistas, que na base enaltece os sentidos primários da visão, audição e tato, na segunda linha destaca o paladar e o olfato e no vértice a intuição. É uma oferta de luxo, categoria cinco estrelas, que visa despertar o hóspede para a harmonia com a natureza e com o mundo. Este conceito zen espalha-se pelo hotel. Nos oito hectares da propriedade conhecida como Quinta do Vale Abraão - que serviu de inspiração a um romance de Agustina Bessa Luís e a um filme de Manoel de Oliveira -, o olhar foge para as vinhas e as colinas que rodeiam o hotel, pode estender-se até ao rio Douro e refugiar-se no extenso bosque. A tranquilidade oferecida ao hóspede não impede que os sentidos sejam preenchidos por experiências mais ou menos radicais. A oferta adapta-se a todos: passeios em barco vintage pelas águas do Douro (pode incluir refeição a bordo), piqueniques com os vinhedos à vista, escalada, kayaking, stand-up paddle, e-foil (a grande novidade deste verão), circuitos de bicicleta, aulas de yoga na piscina, sessões de meditação guiada ou imersão na floresta. . Mas talvez ainda não seja o suficiente para justificar a categoria de “provavelmente o hotel mais caro de Portugal”. Os serviços têm de ser de luxo e distintos. Logo de início, o hotel garante transfer privado do e para o aeroporto do Porto. Os hóspedes são recebidos por funcionários bilíngues, que os encaminham para uma das 71 acomodações que o resort disponibiliza. Não sem antes os convidarem a tocar o velho sino que sinalizava o fim da jornada dos trabalhadores rurais. Há os tradicionais quartos, com enormes janelas que emolduram quadros da singular paisagem duriense, mas também villas T1 e T2 escondidas nos jardins da quinta, cada uma com a sua piscina privativa, e ainda um edifício com nove quartos e suites, para reservas individuais ou em conjunto, que dispõe de sala comum com lareira, jardins, piscina e jacuzzi. Todos têm camas com colchões orgânicos feitos à mão e almofadas anti-alérgicas, num compromisso com o bem-estar no sono. O resort oferece ainda uma piscina (quase debruçada sobre o rio Douro) para usufruto de todos os hóspedes, jardins e recantos íntimos - destaque para a Grotto, a gruta romântica que tem servido de cenário a pedidos de casamento -, uma horta orgânica que abastece os restaurantes do hotel, jardins perfumados e um bosque de quatro hectares plantado no século XIX pelos então donos da quinta, Laura Leitão de Carvalho e Alfredo Pessanha. Conta-se que a criação do bosque da quinta do Vale de Abraão foi um presente para a mulher, que padecia de saudades dos encantos da mata de Sintra onde costumava passar os verões. A floresta guarda centenas de árvores centenárias, entre as quais 125 gigantes verdes (ciprestes, bananeiras, abetos azul e atlântico, araucária, várias espécies de palmeiras e eucaliptos), que os turistas podem desfrutar entre os trilhos, escadarias e elementos aquáticos, construídos no século XIX. Segundo o levantamento feito pelo hotel, há mais de 500 espécies de fauna e flora. É possível ver águias pica-paus e rastos deixados por javalis. Este ambiente de lazer e conexão com a natureza é transportado para o programa de atividades que todos os dias é exposto à entrada do restaurante Vale Abraão. Os hóspedes podem optar por experiências alquímicas, biológicas e sustentáveis ou de puro relaxamento. No Six Senses Douro Valley há workshops de produtos de cosmética naturais, de cozinha portuguesa, de fabrico de pickles, iogurtes e germinados, de chás orgânicos, bebidas fermentadas, entre outros. São espaços como o Alchemy Bar e o Earth Lab que promovem aprendizagens onde a natureza e os seus produtos são dissecados para um usufruto sustentável. E antes de abrirmos o palato (e o virtual olfato) há que falar do spa do hotel. . O Six Senses Spa ocupa uma área de 2200 metros quadrados, dispõe de 10 salas de tratamentos, de uma piscina interior aquecida com terapia de som subaquática e jatos de massagem, cromoterapia e crioterapia, uma vitality suite e um fitness center. Este centro de relaxamento e vitalidade inspirou-se no terroir e oferece tratamentos com base em uvas e outros frutos e ervas locais, para além daqueles que integram o portfólio da marca hoteleira nos 18 países onde está instalada. As terapeutas estão formadas para oferecer jornadas sensoriais com um sentido holístico.E, como não podia deixar de ser, o Six Senses Douro Valley dá uma especial atenção à oferta gastronómica. O hotel segue criteriosamente a filosofia da marca: bem-estar, sustentabilidade ambiental e social e sensibilidade global. O mantra é “Be local, buy local, eat local” (em português, Seja local, compre local, coma local). Há vários espaços de restauração na propriedade. No restaurante Vale Abraão, a aposta são os menus de degustação inspirados no mercado sazonal. Não há estrelas Michelin que, por opção, são trocadas pela genuinidade dos produtos e de uma cozinha inovadora, mas com características tradicionais. Na Wine Library, aberta só ao jantar, são apresentados pratos como ceviches, tártaros, clássicos portugueses e petiscos, sempre acompanhados com vinhos da região. No Quinta Bar e Lounge, é possível degustar uma sandes, das várias que integram a carta, e pizzas, ou apenas saborear um cocktail da vasta gama em oferta. Entre meados de maio e o final de setembro, quando o calor já assentou no Douro, o bar da piscina está aberto até ao pôr-do-sol, com um menu de sabores exóticos adaptados à canícula. Nesta altura mais quente do ano, (este ano um pouco mais tarde por dificuldades em contratar funcionários) abre também o restaurante Summer Garden, uma ode aos grelhados de peixe e carne. Todos estes espaços estão enquadrados numa decoração e em elementos paisagísticos que combinam com o conceito e com a tradição da propriedade. Entre terraços e jardins, ou mesmo no bosque, pode-se sempre encontrar a Aqua e o Fox, os dois cães que o hotel decidiu apadrinhar. O hóspede tem a liberdade de também levar o seu patudo para o Six Senses, que poderá desfrutar de um menu concebido ao gosto destes animais domésticos e até de uma massagem de relaxamento. A Aqua e o Fox servem também de exemplo à política de apoio a organizações locais. Como explica Richard Bowden, 0,5% da receita anual do hotel é canalizada para um fundo de sustentabilidade, que financia os projetos. Há quatro que se destacam: a Bagos D'Ouro, associação de apoio a crianças carenciadas da região; os Afonsinhos, equipa local de futebol que promove a inclusão social através do desporto; a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino, que promove a preservação dos burros de Miranda; e ainda o Grupo de Proteção de Animais da Régua e a Associação de Salvamento e Proteção Animal. O Six Senses Douro Valley emprega 230 pessoas, distinguindo-se como o maior empregador da região. É também considerado um dos dois mais emblemáticos hotéis da marca, só ombreando com o Six Senses Zighy Bay, em Omã. Um casal norte-americano, com os seus dois filhos, afirmou ao DN que o Douro Valley era, sem dúvida, o melhor Six Senses onde já tinha estado. E a sua experiência somava mais de quatro unidades. Recorde-se que a marca tailandesa tem atualmente em operação 22 hotéis e resorts em 18 países. A unidade do Douro é propriedade do fundo de investimento Explorer. Com outros investidores, a insígnia irá instalar-se em Lisboa e na Comporta.