O PS liderado por Pedro Nuno Santos confronta-se com uma perda de quase 40% dos votos face a 2024. De acordo com os cálculos efetuados pelo sociólogo Pedro Magalhães, a principal sangria terá ocorrido a benefício do Chega, correspondendo a cerca  de 180 mil eleitores.
O PS liderado por Pedro Nuno Santos confronta-se com uma perda de quase 40% dos votos face a 2024. De acordo com os cálculos efetuados pelo sociólogo Pedro Magalhães, a principal sangria terá ocorrido a benefício do Chega, correspondendo a cerca de 180 mil eleitores. Gerardo Santos / Global Imagens

PS perdeu 10% dos eleitores de 2024 para Chega; Chega perdeu 5% para PS

Numa análise provisória dos resultados, usando um modelo que permite avaliar transferência de votos, o politólogo Pedro Magalhães chegou a conclusões que considera “surpreendentes”. A principal é que o Chega perdeu um terço dos votos de 2024.
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De 2024 para 2025, a coligação PSD/CDS-PP  foi, dos três principais contendores nas legislativas, o mais resiliente no que respeita à manutenção dos eleitores: 77,6% repetiram o voto. Segue-se o Chega, com 68,3%, e depois o PS, com 58%. Mas o partido que perde mais votos para a abstenção é o Chega: 14,2%. A AD perdeu 12,7% e o PS 9,2%.

Em contrapartida, é, nestes cálculos (efetuados usando resultados por concelho), para o Chega que o PS perde a maior percentagem de eleitores — 10,2% —, surgindo a AD em segundo lugar, com 9,7% dos trânsfugas do PS

Com 12,8% das perdas dos socialistas surge a categoria “outros, brancos e nulos — OBN”, que deverá incluir passagens de votos para o Livre (o único partido à esquerda a subir, ganhando 50 mil novos eleitores face a 2024) e outros partidos; essa mesma categoria, porém, fornece 13,9% para o PS (o Chega vem logo atrás, com 13,2%). 

A percentagem de votantes da AD em 2024 que um ano depois passou para o Chega é, neste modelo de análise partilhado pelo politólogo Pedro Magalhães no Twitter na tarde desta quarta-feira, de apenas 2,8%; saíram mais para o PS: 3,4%.

o Chega perdeu 6,6% dos seus votantes para a AD e 5,2% para o PS, o que, somando às perdas para a abstenção e para OBN, resulta em menos 31,7% de eleitores — ou seja, um terço das pessoas que em 2024 escolheram este partido mudaram de ideias.

“O voto no Chega é menos resiliente do que pensava”

Esta é, assume Pedro Magalhães ao DN, a sua maior surpresa face a estes dados: “O voto no Chega é menos resiliente do que tinha pensado. Esperava que tivesse mais capacidade de reter eleitores, mas olhando agora para os dados, faz sentido que um partido tão novo tenha um eleitorado mais em recomposição. Não será afinal uma surpresa assim tão grande que tenha um eleitorado que não é assim tão militante e estável.”

Ainda assim, estes cálculos — usando um método que o investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa experimenta pela primeira vez — permitem concluir que “a maior parte das pessoas faz em 2025 o mesmo que tinha feito em 2024; há menos transferências do que se poderia pensar. Quer no que respeita à abstenção — 85% dos abstencionistas em 2024 voltaram a abster-se em 2025 — quer no que respeita ao voto da AD, a esmagadora maioria não mudou o sentido de voto.” 

Sobre o método utilizado, “muito complexo”, Pedro Magalhães explica que “olha para as tendências nos concelhos, de uma eleição para a outra, e para as relações entre elas e com isso infere o comportamento de grupos de eleitores”. Trata-se de um modelo “muito usado em todo o mundo”, assegura. 

Traduzindo as percentagens para números — fazendo as contas sobre o total de eleitores de cada uma destas forças políticas em 2024 — o PS perdeu cerca de 179 519 votos para o Chega (10,2% de 1 759 998 votos em 2024) e o Chega perdeu 57 657 para o PS. O mesmo é dizer que o Chega “lucrou”, na troca, 121 862 votos.

Para a AD, o PS perdeu 170 719 votos, enquanto da AD passaram 59 773 para os socialistas. O saldo a favor da AD é de 110 946. Assim, descontando os ganhos, do Partido Socialista saíram 232 808 eleitores para estas duas forças à sua direita — explicando assim parte substancial dos 365 497 eleitores a menos registados pelo partido, em território nacional, nestas legislativas.

Estes dados, adverte Pedro Magalhães, serão mais adiante confrontados com os de inquéritos nos quais se pergunta em quem votaram as pessoas em 2024 e 2025. Mas os inquéritos, comenta na sua conta de Twitter, “não são um ‘gold standard’ [padrão ouro, ou algo à prova de bala]: a memória das pessoas é falível e seletiva, as amostras são imperfeitas, etc”.  

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