Vaticano corrige Papa. Para Francisco, "não se trata de doença psiquiátrica"
O Vaticano corrigiu as declarações do Papa "para não alterar o pensamento" de Francisco sobre a homossexualidade. No regresso a Roma, depois da visita de dois dias à Irlanda, o bispo de Roma sugeriu que os pais devem conversar com os filhos e não condenar a homossexualidade dos filhos. E pelo meio deixou uma referência ambígua que deu lastro à polémica: "Em que idade surge essa inquietação? É importante. Uma coisa é se ela se manifesta quando crianças: quando há tantas coisas que podem ser feitas, com a psiquiatria, para ver como são as coisas. Outra é se ela se manifesta depois dos 20 anos. Nunca vou dizer que o silêncio é o remédio: ignorar um filho ou a filha com tendência homossexual é uma falta de paternidade ou de maternidade." quando há tantas coisas que podem ser feitas, para ver como estão as coisas;
Este texto perdeu-se na tradução. A agência France Press transcreveu esta frase, traduzida pela agência Lusa, de outro modo: "Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são. Mas é outra coisa quando ocorre depois dos 20 anos."
No verbatim publicado entretanto pela Sala de Imprensa da Santa Sé, a referência à psiquiatria desapareceu. Um porta-voz do Vaticano, não identificado, explicou à France Press que "quando o Papa se refere à 'psiquiatria', é claro que ele faz isso como um exemplo que entra nas diferentes medidas que podem ser tomadas". E sublinha: "Mas, com essa palavra, ele não tinha a intenção de dizer que se tratava de uma doença psiquiátrica, mas que talvez fosse necessário ver como são as coisas a nível psicológico."
O texto que reproduz a conferência de imprensa a bordo do avião, e que durou 45 minutos, omitiu por isso, segundo a explicação do porta-voz do Vaticano, a referência à psiquiatria, surgindo no seu lugar uma pequena frase que o Papa não disse, "que pode ser feito".
Na viagem, um jornalista interpela diretamente o Papa sobre "o que diria a um pai a quem o filho diz que é homossexual e que quer ir morar com o parceiro". E Francisco dá uma resposta que sublinha sobretudo essa dimensão de os pais não faltarem aos filhos num momento como este: "Nunca vou dizer que o silêncio é o remédio: ignorar um filho ou a filha com tendência homossexual é uma falta de paternidade ou de maternidade. Tu és meu filho, tu és minha filha, eu sou teu pai, e tua mãe, vamos conversar."
(A pergunta do jornalista inicia-se por volta do minuto 39 do vídeo que reproduz a conferência a bordo do avião e a resposta do Papa sobre homossexualidade começa aos 42 minutos.)
Em italiano, a resposta completa do Papa Francisco a um jornalista, é esta, de acordo com o verbatim divulgado pelo Vaticano (em itálico, a negrito, acrescentámos a parte omitida):
"Secondo. Sempre ci sono stati gli omosessuali e le persone con tendenze omosessuali. Sempre. Dicono i sociologi, ma non so se sia vero, che nei tempi di cambiamenti d'epoca crescono alcuni fenomeni sociali ed etici, e uno di questi sarebbe questo. Questa è l"opinione di alcuni sociologi. La tua domanda è chiara: cosa direi io a un papà che vede che suo figlio o sua figlia ha quella tendenza. Io gli direi anzitutto di pregare: prega. Non condannare, dialogare, capire, fare spazio al figlio o alla figlia. Fare spazio perché si esprima. Poi, in quale età si manifesta questa inquietudine del figlio? E' importante. Una cosa è quando si manifesta da bambino, quando ci sono tante cose da fare, con la psichiatria, [che si possono fare,] per vedere come sono le cose; un"altra cosa è quando si manifesta dopo i 20 anni o cose del genere. Ma io mai dirò che il silenzio è il rimedio: ignorare il figlio o la figlia con tendenza omosessuale è una mancanza di paternità e maternità. Tu sei mio figlio, tu sei mia figlia, così come sei; io sono tuo padre e tua madre, parliamo. E se voi, padre e madre, non ve la cavate, chiedete aiuto, ma sempre nel dialogo, sempre nel dialogo. Perché quel figlio e quella figlia hanno diritto a una famiglia e la famiglia è questa che c"è: non cacciarlo via dalla famiglia. Questa è una sfida seria alla paternità e alla maternità. Ti ringrazio per la domanda, grazie."