Trump em versão "consolador-em-chefe"
No dia em que o FBI interrogou, em Los Angeles, a companheira do presumível autor do massacre de Las Vegas, o presidente dos EUA deslocou-se à cidade do Nevada numa missão de conforto para com os sobreviventes que se encontram hospitalizados e de louvor às forças de segurança e de emergência. "É um dia muito, muito triste", afirmou antes de partir da Casa Branca.
Acompanhado da primeira-dama, Melania, o chefe do Estado visitou o hospital University Medical Center e a polícia de Las Vegas. "As palavras não podem descrever a coragem de quem desafiou a morte", disse no final da visita. Antes, no hospital, sem discurso preparado, afirmou: "Uma pessoa fica muito orgulhosa de ser americana quando vê esta resposta, as pessoas têm muita sorte em estar aqui." Trump recusou falar da questão das armas e repetiu o "orgulho" pela reação ao massacre que matou 59 pessoas e feriu mais de 500.
As autoridades revelaram que das 47 armas de fogo encontradas pelos investigadores, entre o hotel e duas casas ligadas ao autor do massacre, 33 foram compradas no último ano. Stephen Paddock alvejou o público do festival Route 91 durante nove a 11 minutos antes de se suicidar no quarto de hotel, onde instalara câmaras para controlar a localização da polícia. Das armas que se encontravam no hotel uma dúzia fora modificada de semi-automática para automática - ou seja, capaz de disparar mais projéteis em menos tempo. Estes dispositivos são legais segundo a lei americana, apesar de as armas totalmente automáticas terem sido proibidas. A senadora Dianne Feinstein anunciou que os democratas vão apresentar uma proposta de lei para proibir este tipo de dispositivos.
No dia anterior correram mundo as imagens de Trump a atirar rolos de cozinha aos porto-riquenhos. "Essa imagem terrível e abominável não representa o espírito da nação americana", comentou a mayor de San Juan, Carmen Yulín Cruz, a quem Trump não deu oportunidade de falar numa reunião com políticos locais e responsáveis pelas operações de emergência. A autarca da capital de Porto Rico chamou Trump de "mau comunicador-em-chefe", em alusão ao papel que os media denominaram de "consolador-em-chefe". A visita à ilha das Caraíbas era uma oportunidade para o presidente mostrar empatia aos sobreviventes do furacão Maria, mas à referida situação junta-se a comparação que fez com a "verdadeira catástrofe" que foi o furacão Katrina ("16 mortos versus literalmente milhares" - há 34 mortos confirmados mas teme-se que o número seja muito superior); comentários sobre a inação dos porto-riquenhos e menções à dívida da ilha e ao custo das operações.
No mesmo dia, uma sondagem Reuters/Ipsos, a 14 300 norte-americanos, conclui que 48% confia no presidente, menos quatro pontos de quando entrou em funções.