Tour pelo bairro de "Quem quer ser bilionário" mais atrativa que Taj Mahal

O filme "Quem quer ser bilionário" tornou a favela de Dharavi uma atração turística da cidade indiana de Bombaim. Exploração turística do bairro gera controvérsia.
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A excursão a pé para pequenos grupos à favela de Dharavi, em Bombaim, que inspirou o filme 'Slumdog Millionaire' (Quem quer ser bilionário, em português), é, de acordo com o site Tripadvisor, a experiência turística mais bem avaliada na Índia em 2019. Entre a imponência do Taj Mahal e o caos de pessoas, veículos e animais do bairro, a segunda opção parece ser aquela que mais agrada aos turistas.

"Siga o guia pelas vielas estreitas de Dharavi, onde você será apresentado aos residentes e suas pequenas indústrias - reciclagem, cerâmica, bordados, fabricação de sabão e muito mais - todos fabricados pelos meios inovadores", lê-se na descrição da experiência que aparece no site.

De acordo com o El País, Bombaim, um dos locais mais densamente povoados da Ásia, ultrapassou o Taj Mahal, um dos monumentos mais importantes do país, na lista das melhores experiências culturais a nível mundial. Enquanto o passeio a pé pela favela surge em sexto lugar, a visita ao famoso monumento Taj Mahal - mandado edificar pelo imperador Shah Jahan como uma prova de amor à mulher, que morreu no parto - e ao Forte de Agra aparece em nono.

Os turistas são atraídos pelo filme 'Slumdog Millionaire', produzido em 2008, que arrecadou oito Óscares. "Um lugar ameaçado pelo turismo, que mistura pinceladas de arte de rua moderna e um mundo artesanal extinto", conta o jornal espanhol.

No site lê-se que "a receita da operadora da excursão local volta para a comunidade local para apoiar uma variedade de projetos sobre educação, saúde e subsistência", contudo, diz o El País, esta modalidade de turismo tem vindo a criar controvérsia.

"As visitas aumentaram desde há cinco anos por causa da nossa boa reputação dentro e fora da comunidade", diz Kristin Templin, diretora executiva da Reality Tours&Travel, uma das agências que opera no local. Segundo a responsável, as revisões dos turistas no Tripadvisor ajudam a quebrar "estereótipos negativos" de um local "inseguro, sujo e pobre".

Desde 2005 que os fundadores da agência exploram o turismo no bairro, tendo atualmente cerca de 40 guias a oferecer visitas guiadas por 15 euros em Mumbai e Deli.

Ankit Gajakosh, que criou a sua própria agência, contou ao jornal espanhol que, devido à competitividade entre dezenas de empresas, reduziu o preço dos passeios para 6 euros. Em época alta, reúne cerca de 300 turistas nos passeios. "As pessoas visitam esta favela porque é única. Querem ver como se vive aqui e os residentes estão encantados em mostrar a sua cultura", afirma.

Mais de um milhão de pessoas vivem numa área de apenas dois quilómetros, que tem um capital financeiro de cerca de 901 milhões de euros.

Zeeshan Shaikh, diretor de uma outra agência, revela que são feitas visitas a áreas familiares reservadas, onde os turistas são avisados que não devem tirar fotografias, mas acabam por fotografar às escondidas. E diz que há dois tipos de turistas: "Existem aquelas que pensam erradamente que isto são favelas e aos que tentamos mostrar a realidade. Mas também há os interessados em arquitetura ou comércio da Califórnia".

Ao El País, Steven Titus, dos poucos indianos que fez uma visita guiada em Dharavi, contou que a sua opinião sobre o bairro mudou, pois percebeu que os seus habitantes têm "a vida feita e negócios prósperos".

Já Fuzel Sayed, natural de Dharavi, considera que, embora a intenção inicial talvez fosse mostrar a realidade, a concorrência fez com que fossem feitas visitas mais "dramáticas" para atrair clientes. Na sua opinião, "há algo sádico em todo este negócio. Há pessoas que gostam do mórbido mais do que qualquer outra coisa".

Para Kristin Templin, que explora o local, "se for feito de forma responsável e se os residentes quiserem, o turismo reforça a imersão cultural".

Quando estreou, o filme dirigido por Danny Boyle foi criticado por mostrar de forma quase pornográfica a pobreza do país. Foi acusado de dar uma má imagem da cidade, como se nela só houvesse bairros de lata com excesso de população.

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