Tensão no Báltico e falta de soldados leva Suécia a repor serviço militar obrigatório

Medida entra em vigor a partir de 1 de janeiro de 2018 e pretende, nos primeiros dois anos, treinar oito mil jovens. Anexação russa da Crimeia e conflito na Ucrânia são alguns dos motivos apontados pelo governo sueco

A Suécia vai reativar o serviço militar obrigatório no próximo ano, depois de o ter suspendido em 2010, decisão que se deve à falta de pessoal, mas também ao clima de tensão na região do Báltico provocado pela Rússia. "Temos a anexação russa da Crimeia, temos a agressão na Ucrânia, temos mais exercícios militares na nossa vizinhança. Por isso decidimos construir uma defesa nacional mais forte", disse ontem à Reuters o ministro da Defesa sueco, Peter Hultqvist. "A decisão de ativar o recrutamento deve-se em parte a isto", acrescentou.

O serviço militar obrigatório era a norma para os jovens suecos durante a Guerra Fria, mas o recrutamento foi perdendo força com o fim da União Soviética e com o cada vez mais improvável cenário de uma guerra na zona do Báltico. Mas o ressurgimento da Rússia e as tensões causadas pelo conflito na Ucrânia têm unido os políticos suecos, de todos os quadrantes, para a necessidade de reforçar a capacidade militar do país e lidar com a falta de pessoas interessadas em fazer carreira como militar.

De acordo com informações divulgadas ontem pelo governo sueco, "em 2016, às Forças Armadas faltavam 1000 líderes de esquadrão ativos, soldados e marinheiros, bem como 7000 reservistas". Os gastos militares da Suécia, que não pertence à NATO, têm descido dos 2,5% do PIB em 1991, ano da queda da União Soviética, para 1,1% em 2015. A escalada da tensão na zona do Báltico levou o parlamento sueco a aprovar o aumento do orçamento para a Defesa em 5% entre 2016 e 2020 para modernização do armamento, instalar um regimento permanente na ilha báltica de Gotland e melhorar a vigilância subaquática, além de permitir que a NATO possa colocar tropas no país.

Os sinais da falta de prontidão das forças militares suecas, a par das provocações russas, têm sido flagrantes nos últimos anos, como quando, em 2013, bombardeiros e caças russos se aproximaram da fronteira com a Suécia realizando simulações de ataque ao país. Na altura, a Força Aérea da Suécia não foi acionada para acompanhar os aviões, tendo a tarefa ficado a cargo de caças dinamarqueses estacionados na Lituânia, a serviço da NATO.

No ano seguinte, um caça de combate russo sobrevoou muito de perto um avião de vigilância sueco sobre o mar Báltico. Momento que ficou registado em imagens e que as autoridades classificaram de "provocação". Ainda em 2014, um avião militar de Moscovo quase chocou com uma aeronave comercial de passageiros no espaço aéreo internacional perto do sul da Suécia.

A reintrodução do serviço militar obrigatório vai abranger homens e mulheres nascidos em 1999 ou mais tarde, mas apenas uma minoria será selecionada. Com esta decisão, que entra em vigor a 1 de janeiro de 2018, as Forças Armadas suecas pretendem "4000 recrutas anualmente em treino básico militar em 2018 e 2019", sendo que em 2020 este número "aumentará para 5000", refere o governo sueco num documento divulgado ontem. O recrutamento será aplicado a homens e mulheres.

O recrutamento militar é cada vez mais raro na Europa - países como a Áustria, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Grécia, Lituânia e Noruega, ainda têm, mas alguns dão a possibilidade de optar por serviço comunitário - mas em França voltou a ser discutido depois dos atentados em Paris de janeiro de 2015. Uma medida que não seguiu em frente, mas que, segundo uma sondagem da IFOP feita na altura, seria apoiada por 81% dos homens franceses e 79% das mulheres.

Em Portugal, o serviço militar obrigatório foi abolido oficialmente a 19 de novembro de 2004, tendo sido substituído de forma simbólica pelo Dia da Defesa Nacional, aberto a ambos os sexos e de apresentação obrigatória.

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