Sul de Madrid volta a protestar. "Não é confinamento, é segregação"
Centenas de pessoas reuniram-se junto à assembleia regional de Madrid, no bairro de Vallecas, um dos que se encontram em confinamento parcial desde a semana passada, para voltar a protestar contra as restrições impostas pelo governo da Comunidade. Manifestações semelhantes de menor dimensão foram realizadas noutras partes da cidade, incluindo em frente à Câmara Municipal e na sede do governo regional de Madrid, na Puerta del Sol.
Os manifestantes queixam-se de discriminação por parte das autoridades e exigem melhores serviços de saúde e menos polícia. Na quinta-feira outra manifestação em Vallecas acabou com uma carga policial que originou seis pessoas feridas e três detidos.
"Não é confinamento, é segregação!" foi a palavra de ordem da multidão enquanto ocupou por momentos uma estrada em frente à assembleia. "Eles não confinam os ricos", foi um dos cartazes no protesto, que atraiu madrilenos de todas as idades.
Um médico de família de um centro de saúde local, presente na manifestação, lamentou ao El Diario que "as pessoas são abandonadas à sua sorte e tratadas como bodes expiatórios quando são vítimas de precariedade e de problemas de habitação".
O médico Nacho Revuelta advertiu que a chegada do inverno e as patologias típicas da estação irão agravar os problemas dos cuidados de saúde primários. Muitos manifestantes queixaram-se de que o governo regional não estava a melhorar os cuidados de saúde públicos nem a fazer nada para reduzir a sobrelotação no sistema de transportes, onde disseram que o vírus poderia facilmente propagar-se.
"Não faz sentido ir trabalhar numa zona mais rica mas não se pode ir tomar uma bebida", disse à AFP Marcos Ruiz Guijarro, um eletricista de 27 anos que, como muitos dos moradores daquele subúrbio, viaja todos os dias para o centro de Madrid para trabalhar. "As infecções estão a aumentar em todo o lado, as regras devem ser as mesmas para todos", comenta.
Os manifestantes aplaudiram enquanto pediam a demissão da líder regional Isabel Díaz Ayuso, do PP, sob fogo por dizer que o "estilo de vida" das pessoas nos bairros visados era parcialmente responsável pelo aumento dos casos de covid-19.
O governo regional diz ter escolhido áreas onde a taxa de contágio é superior a 1.000 casos por 100.000 pessoas. A cidade com a sua região circundante encontra-se no epicentro de uma segunda vaga de infecções que varre a Espanha.
A covid-19 já matou mais de 31.000 pessoas entre mais de 700.000 casos a nível nacional, a mais alta taxa de infecção na União Europeia.
Cerca de 850.000 pessoas em 37 bairros e municípios de baixos rendimentos e densamente povoados no sul de Madrid estão desde 21 de setembro confinadas aos seus bairros, impedidas de sair, salvo por razões laborais, escolares ou médicas. Podem circular livremente dentro das suas próprias áreas, embora aconselhados a permanecer em casa. Por exemplo, os parques nos bairros abrangidos estão fechados e os restaurantes e outras empresas têm de fechar às 22.00.
O governo regional de Madrid, que é responsável pela gestão da pandemia desde 21 de junho, quando o país saiu do estado de emergência, vai alargar a partir de segunda-feira as restrições a mais oito áreas onde residem mais 167.000 pessoas, seis delas na capital e as outras em Alcorcón e Fuenlabrada.
Esta medida fica aquém de uma recomendação do governo espanhol de que o encerramento parcial deve abranger toda a cidade. A gestão da pandemia pelo governo de Isabel Díaz Ayuso, de direita, levou a vários desentendimentos com o executivo de coligação de esquerda.
O mais recente deu-se com a demissão do porta-voz do recém-criado gabinete conjunto de coordenação de políticas. O médico e professor universitário Emilio Bouza abandonou funções dois dias depois de ter sido nomeado.
O ministro da Saúde Salvador Illa apelou na sexta-feira ao governo regional para estender as suas restrições a toda a cidade, bem como às áreas circundantes com mais de 500 casos por 100.000 habitantes. Voltou à carga no domingo, numa mensagem no Twitter, em que repetiu o apelo.
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Illa advertiu que os hospitais da região de cerca de 6,6 milhões de pessoas já estão inundados de casos de coronavírus, e que se deve preparar para algumas "semanas difíceis" pela frente.
Durante a última semana, Espanha registou o maior número de novos casos dentro da UE com uma taxa de quase 300 por 100.000 habitantes - mas na região de Madrid, o número é atualmente superior a 700 por 100.000.