A comunidade internacional reafirmou ontem o seu apoio à criação de dois Estados vivendo lado a lado e em paz como única solução para o conflito israelo-palestiniano, rejeitando o reconhecimento de quaisquer ações unilaterais que possam vir a ser levadas a cabo por qualquer uma das partes. Foi este o resultado da conferência internacional que ontem decorreu em Paris e contou com a participação de representantes de 75 países e organizações internacionais. Líderes israelita e palestiniano estiveram ausentes da reunião, que aconteceu a apenas cinco dias da tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos..O comunicado final da reunião promovida pelo presidente francês François Hollande não faz referência às intenções de Trump em mudar a embaixada dos EUA em Israel de Telavive para Jerusalém (cidade que é alvo de disputa), mas refere que será convocada uma nova reunião até final do ano e que esta contará com todos os que estejam interessados em participar nela. Em representação dos EUA, o secretário de Estado cessante, John Kerry, disse aos jornalistas que qualquer referência à questão da transferência da missão diplomática norte--americana seria inapropriada. "Tem sido debatido publicamente a nível interno e não faz parte do fórum internacional neste momento. É inapropriado", declarou o chefe da diplomacia norte-americana, citado pela agência Reuters..A reunião de ontem foi amplamente contestada pelo primeiro-ministro israelita. "A conferência de Paris é uma conferência fútil. Foi coordenada entre franceses e palestinianos com o objetivo de impor a Israel condições que são incompatíveis com as nossas necessidades nacionais", disse Benjamin Netanyahu ao seu governo no início do Conselho de Ministros, segundo noticiou a AFP. O chefe do governo israelita disse ainda que aquela conferência representa "o último impulso do passado antes que chegue o futuro". Possivelmente numa referência à tomada de posse de Trump no dia 20..Em jeito de resposta, o chefe do Estado francês afirmou que "a paz não é um sonho do passado, é o objetivo da comunidade internacional em toda a sua diversidade". François Hollande realçou que "não se trata de dizer às partes os parâmetros da solução", mas sim fazer que regressem à mesa das negociações, na qual não se sentam desde 2014. Netanyahu, que teve uma má relação com o presidente cessante dos EUA, o democrata Barack Obama, aposta agora em Trump. No mês passado, os EUA viabilizaram através de uma abstenção inédita uma resolução da ONU a condenar a construção de colonatos judaicos na Cisjordânia..Na véspera da conferência de Paris, no Vaticano, o presidente palestiniano, Mahmud Abbas, avisou que a solução de dois Estados pode estar em perigo, sobretudo se Trump realmente transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém, que, além de ser disputada por israelitas e palestinianos, abriga locais sagrados para judeus, muçulmanos e cristãos.