Seul responde a Pyongyang com emissões de propaganda
A Coreia do Sul tem um presente especialmente desagradável para Kim Jong-un, o dirigente do regime de Pyongyang, que hoje cumpre 33 anos e quatro anos no poder. Três dias depois de a Coreia do Norte ter anunciado a realização de um teste com uma bomba de hidrogénio, com sucesso, as autoridades de Seul decidiram reiniciar as emissões de propaganda junto da fronteira comum. As emissões são feitas através de altifalantes que transmitem música sul-coreana, denunciam as violações dos direitos humanos e as condições de vida no Norte, além de explicarem como é a vida em liberdade no Sul.
Noutro plano, Seul e Washington iniciaram de imediato consultas com vista à deslocação para a Coreia do Sul de mísseis estratégicos dos Estados Unidos. Até 1991, os EUA tiveram mísseis nucleares de curto alcance estacionados no Sul, algo que dificilmente voltaria a fazer, consideram analistas ouvidos pela Reuters. No entanto, não é de afastar a hipótese de ser deslocado outro tipo de equipamento militar, como os bombardeiros invisíveis B-2, dotados de capacidade bélica nuclear. Washington realizou exercícios ao largo da Coreia do Sul com alguns aparelhos deste tipo em 2013, na sequência de um anterior teste nuclear norte-coreano.
Está também em consideração algo que também já foi feito no passado, que é o lançamento de balões em direção à Coreia do Norte com panfletos com informações sobre as diferenças entre os dois lados. O recurso a estas formas de propaganda no verão passado, levaram Pyongyang a ameaçar com hostilidades, acabando por levar em agosto à mesa das negociações as duas Coreias. As emissões foram suspensas em troca de garantias de Pyongyang que não contribuiria para uma escalada de tensões na região. Uma promessa quebrada pelo teste da passada quarta-feira, que foi considerado "uma grave violação" do acordo assinado em agosto, referiu um porta-voz de Seul.
"As nossas forças estão em estado de alerta total, e se a Coreia do Norte fizer alguma provocação, a punição será firme e determinada", indicou o mesmo porta-voz.
A importância da arma da propaganda e como esta perturba o regime de Pyongyang é que "as emissões fazem efeito na sociedade da Coreia do Norte e revelam às pessoas a existência de sociedades livres, o que diminui a eficácia do opressivo culto de personalidade" em torno do líder, explica um investigador do Instituto de Análise para a Defesa, de Seul, Park Chang Kwon. Em declarações à Bloomberg, o analista sublinha que "Kim Jong-un não é apenas um ditador. Na Coreia do Norte ele é um deus, e as emissões de propaganda acabam de levantar dúvidas na cabeça de muitos norte-coreanos".
Os altifalantes estão dispersos por 11 pontos ao longo da fronteira comum e as emissões prolongam-se por três ou quatro horas, em horário aleatório para impedir que Pyongyang as possa neutralizar com emissões próprias.
O mais importante destas emissões é que, além de porem em causa a "suprema dignidade" do ditador norte-coreano, como diz à Bloomberg Cheong Seong Chang, investigador do Instituto Sejong, entidade dedicada ao estudo das questões na península coreana, colocam em causa o monopólio da informação por parte do regime de Pyongyang.
Um congresso 35 anos depois
O teste de quarta-feira, com muitos peritos duvidarem de ter sido realmente a explosão de uma bomba de hidrogénio, ocorreu três dias antes do aniversário de Kim Jong-un, que iniciou no final de dezembro o quarto de exercício do poder em Pyongyang.
A notícia de novo avanço militar-tecnológico reforçaria a posição de Kim Jong-un, mostrando que, sob a sua liderança, o país se tornou uma potência militar, dotado da arma nuclear, de mísseis intercontinentais e capaz de lançá-los a partir de submarinos, como sucedeu em maio de 2015.
Um conjunto importante de sucessos agora que está marcado, para maio, um congresso do partido no poder. O primeiro que se realiza desde 1980.