Sem Internet há um ano, parte da Birmânia não sabe o que é a covid-19
Human Rights Watch apela ao levantamento do bloqueio do sinal numa zona onde o governo está em confrontos com o Exército de Arracão, um grupo insurgente que defende o direito de autodeterminação para a população do estado de Rakhine (antigo Arracão).
O bloqueio à Internet no noroeste da Birmânia (Myanmar), que os grupos de defesa dos direitos humanos dizem que é o mais longo do mundo, entrou no domingo no segundo ano. Segundo a Human Rigths Watch, o bloqueio, junto com as restrições de acesso das organizações humanitárias, significa que há pessoas em algumas aldeias que nunca ouviram falar da pandemia de covid-19.
O exército birmanês está envolvido numa guerra civil sangrenta desde janeiro de 2019 contra o Exército de Arracão, um grupo insurgente que está a lutar por mais autonomia para a população budista teravada no estado costeiro de Arracão (por onde os portugueses passaram durante as Descobertas).
O governo bloqueou o acesso aos dados de Internet móvel em nove municípios no estado de Arracão (Rakhine na versão atual em birmanês) e no vizinho estado Chim a 21 de junho de 2019, causando pânico entre os residentes desesperados por saber informações sobre o conflito. O argumento foi que a Internet estava a ser usada para alimentar o conflito.
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Entretanto, apareceu a pandemia de coronavírus, havendo 291 casos confirmados no país e seis mortes, mas receios que os números possam ser mais elevados por causa da falta de testes. Foram realizados menos de 65 mil, numa população de mais de 53 milhões.
A Human Rights Watch, na sexta-feira, apelou ao fim do "mais longo bloqueio feito pelo governo à Internet", lembrando que é "crítico que os civis tenham informação para poderem ficar em segurança", em especial durante a pandemia.
Estima-se que 1,4 milhões de pessoas sejam afetadas pelo bloqueio, que além de as deixar sem acesso a informação sobre o conflito, também dificulta a procura de informação sobre o covid-19.
Nos municípios sem acesso à Internet vivem, em campos de refugiados, cem mil rohingya, (muçulmanos) que são considerados apátrida. Uma dezena de casos foram detetados nestes campos, onde vivem também os budistas de Arracão que o conflito deixou sem casa.
O governo de Aung San Suu Kyi (oficialmente primeira conselheira do Estado) lançou uma grande campanha de informação online contra a covid-19, no Facebook ou nos sites governamentais, mas sem acesso à Internet esta população não tem acesso a eles.