Se Kremlin quisesse envenenar Navalny, ele estaria morto, garante Putin

Na sua conferência de imprensa anual, o presidente russo disse ainda esperar que Biden resolva os problemas entre a Rússia e os EUA e que será vacinado "quando possível".
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O presidente russo, Vladimir Putin, insistiu esta quinta-feira que o seu principal opositor, Alexei Navalny, não foi envenenado pelos seus serviços especiais, frisando que nesse caso estaria morto.

Putin acusou os serviços secretos dos Estados Unidos de fomentarem as alegações de que o Kremlin esteve por trás do envenenamento de Navalny.

"O paciente da clínica berlinense tem o apoio dos serviços especiais norte-americanos (...) E assim deve ser vigiado pelos serviços especiais. Mas isso não quer dizer que era preciso envenená-lo", disse.

"Se o quiséssemos fazer o caso teria sido concluído", adiantou durante a sua conferência de imprensa anual.

Putin recusa pronunciar o nome do seu crítico e refere-se a Navalny em relação ao local onde foi hospitalizado e tratado após o alegado envenenamento.

O Presidente russo rejeitou uma recente investigação de vários meios de comunicação social, incluindo o Bellingcat, CNN e Der Spiegel, alegando que os serviços secretos herdeiros do KGB, do qual Putin fez parte, estiveram por trás da tentativa de assassínio de Navalny.

"Não é uma investigação, mas a legitimação de conteúdos (preparados) pelos serviços especiais norte-americanos", afirmou.

Navalny sentiu-se mal e desmaiou a 20 de agosto durante um voo doméstico na Rússia e foi transportado dois dias depois em coma para a Alemanha para ser tratado. Laboratórios na Alemanha, França e Suécia, assim como a Organização para a Proibição de Armas Químicas demonstraram que esteve exposto a um agente neurológico Novichok da era soviética.

As autoridades russas têm rejeitado todas as acusações de envolvimento no envenenamento.

Segundo a investigação jornalística, com base em dados telefónicos e de viagens, agentes do FSB especialistas em armas químicas vigiavam o opositor desde 2017 e estavam a 20 de agosto em Tomsk, cidade na Sibéria onde Navalny terá sido envenenado.

No entanto, o artigo não apresenta provas de contacto direto entre os agentes e o opositor, nem de um ato ou ordem dada.

Responsáveis russos já apresentaram várias versões para o que terá acontecido, desde uma encenação, ao envenenamento voluntário e a problemas de saúde devido à alimentação ou consumo de álcool.

Moscovo nunca abriu um inquérito criminal, alegando não ter provas do envenenamento e acusando a Alemanha de não partilhar as suas informações com a justiça russa.

Na mesma conferência de imprensa, Putin garantiu: "Esperamos que o recém-eleito Presidente dos Estados Unidos entenda o que está a acontecer. É um homem experiente tanto na política nacional como na internacional e confiamos que todos os problemas -- se não todos, pelo menos parte -- sejam resolvidos com a nova Administração", disse Putin, na sua conferência de imprensa anual.

Ao contrário da maioria dos líderes mundiais, Putin só felicitou Biden depois de, na terça-feira, o colégio eleitoral norte-americano ter confirmado o democrata como Presidente eleito.

O líder russo reafirmou que as acusações sobre ajudas russas ao Presidente cessante, Donald Trump nas presidenciais de 2016, são "invenções" que visaram "estragar as relações" entre Moscovo e Washington e "não reconhecer" a legitimidade de Trump como Presidente dos Estados Unidos dos últimos quatro anos.

Putin lamentou ainda que as relações entre a Rússia e os EUA "sejam reféns" de lutas internas entre os dois principais partidos políticos dos EUA e apelou ao futuro governo norte-americano para cimentar as suas relações internacionais no princípio do "respeito mútuo".

Putin sublinhou ainda que na sua opinião o Presidente cessante dos EUA não pretende deixar a política e ressaltou que Donald Trump tem "uma grande base de apoio dentro dos Estados Unidos".

O presidente russo disse ainda que será vacinado contra o coronavírus "quando for possível", com base na sua faixa etária, e repetiu que a vacina russa Sputnik V é "boa e segura".

"Oiço as recomendações dos especialistas e, portanto, ainda não o fiz, mas está claro que o farei quando possível", afirmou o presidente, de 68 anos.

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