Ramadão sangrento: em cinco dias EI matou 190 pessoas em três países

Bagdad, ontem, 125 mortos. Daca, na sexta-feira, 20 mortos. Istambul, na terça-feira, 45 mortos. Terroristas do Estado Islâmico não dão tréguas nem durante o mês sagrado em que muçulmanos jejuam e se recolhem
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Indiferente ao Ramadão, mês sagrado para os muçulmanos, o Estado Islâmico (EI) matou 190 pessoas em cinco dias em três países: Turquia, Bangladesh, Iraque. O último dos ataques ocorreu durante a noite de sábado no bairro xiita de Al-Karrada, em Bagdad, na altura em que muitos fiéis se preparavam para quebrar o jejum após o pôr-do-sol. Um bombista suicida fez explodir a viatura armadilhada em que seguia no meio da multidão que se encontrava junto à geladaria Yabar Abu al-Sharbat. A BBC fala em 125 mortos e 130 feridos.

A viatura, refere a mesma fonte, era uma carrinha frigorífica que estava cheia de explosivos. Muitos dos mortos, diz a Associated Press, eram crianças cujas famílias acorreram em desespero às ruas para tentar encontrá-las. A explosão provocou um enorme incêndio na rua comercial da capital iraquiana e vários edifícios circundantes sofreram danos significativos. Entre eles o Centro Al-Hadi. O EI reivindicou o atentado através de um comunicado que foi citado pelas agências internacionais: "No quadro das permanentes operações de segurança dos soldados do califado na cidade de Bagdad, o irmão mujaheedin Abu Maha al-Iraqui conseguiu detonar o seu veículo-bomba no meio de uma concentração de renegados".

O primeiro-ministro iraquiano deslocou-se ao bairro de Al-Karrada e não foi muito bem recebido pela população local. "Depois de terem sido expulsos dos seus campos de batalha, os terroristas cometem estes ataques com explosivos num ato desesperado", declarou Haidar al Abadi. O governante referia-se ao facto de as tropas iraquianas terem recuperado o controlo da cidade de Fallujah, que estava nas mãos do EI desde o início do ano de 2014. Depois do terrorismo da Al-Qaeda, no pós-queda de Saddam Hussein, o Iraque enfrenta o Estado Islâmico. O grupo de Abu Bakr al-Baghdadi controla grandes partes do país, onde leva a cabo ações bárbaras como a crucificação ou a decapitação de pessoas. Na Síria, o grupo terrorista também tem levado a cabo vários ataques e, apesar dos bombardeamentos internacionais de que tem sido alvo, também controla um vasto território.

Perante a pressão que tem sofrido no Iraque e na Síria, o grupo tem apelado à realização de atentados contra o que diz serem os infiéis ou cruzados noutros países. E nem o facto de ser o mês do Ramadão (que vai de 6 de junho a 7 de julho) impede os terroristas de atacar. "O Ramadão é o mês da conquista e o mês da jihad. Preparem-se para transformá-lo num mês de calamidade em toda a parte para os não crentes, especialmente os combatentes e apoiantes do califado na Europa e na América", disse um porta-voz do Estado Islâmico, identificado como sendo Abu Mohammad al-Adnani, numa mensagem áudio difundida em maio através do Twitter e cuja autenticidade, como sempre, é muito difícil de comprovar.

Em seguida deram-se vários ataques como o de Orlando, nos EUA, o de Istambul, na Turquia, o de Daca, no Bangladesh, o de ontem em Bagdad, no Iraque. As ações realizadas naquelas cidades turca, bangladeshi e iraquiana ocorreram nos últimos cinco dias. No aeroporto Atatürk três homens armados fizeram, na terça-feira à noite, 45 vítimas mortais e 239 feridos. No interior do restaurante Holey Artisan Bakery-O"Kitchen, situado no bairro diplomático de Daca, seis terroristas sequestraram e mataram 20 pessoas e fizeram 40 feridos na noite de sexta-feira. No sábado, também durante a noite, numa rua comercial de Bagdad, um suicida fez 125 mortos e 130 feridos.

Analistas ouvidos para um artigo do New York Times dizem que os ataques terroristas ocorrerem durante todo o ano e que é difícil estabelecer qual a influência que o mês sagrado do Ramadão tem na maneira de pensar dos atacantes. "O que é mais claro é que a manipulação dos objetivos do Ramadão é apenas mais uma forma que os jihadistas têm de interpretar a religião de uma forma que a maioria dos muçulmanos deplora", diz o artigo ontem publicado. "Na história islâmica, o Ramadão serve para que os muçulmanos reflitam sobre quem são e separar fiéis e infiéis. Mas o que o EI e Al-Qaeda fizeram com grande efeito foi concentrarem-se no espírito da guerra e no espírito ofensivo, mais do que no espírito moral", declarou àquele jornal Fawaz A. Gerges, professor da London School of Economics e autor de livros sobre a jihad.

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