Quem são os cinco senadores que vão decidir o futuro do juiz Kavanaugh?
O senador republicano Jeff Flake, do Arizona, deu luz verde na Comissão Judicial do Senado à nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos EUA, mas anunciou que não irá apoiar a sua confirmação sem uma investigação limitada no tempo do FBI às acusações de abusos sexuais contra o juiz, que remontam à sua juventude. A sua ideia é adiar, até ao final da próxima semana, a votação no Senado. Outros quatro senadores (dois republicanos e dois democratas) ainda não revelaram a sua intenção de voto e são eles que têm o futuro de Kavanaugh nas mãos.
Flake tinha anunciado ao início da tarde que iria votar a favor da nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos EUA. isto depois de ter ouvido na quinta-feira as declarações de uma das alegadas vítimas do juiz: "Deixei a audiência de ontem [quinta-feira] com tantas dúvidas quanto certezas. Aquilo de que tenho a certeza é que o nosso sistema judiciário garante a presunção de inocência às pessoas acusadas, na ausência de provas verificáveis", justificou.
O anúncio gerou polémica e durante todo o dia Flake foi pressionado para recuar (foi até pressionado à saída de um elevador por duas mulheres), acabando por pedir que a votação em plenário seja adiada até ao final da próxima semana, para permitir uma investigação do FBI às acusações (que Kavanaugh nega) - uma decisão que pelo menos outra indecisa, a senadora republicana Lisa Murkowski, do Alasca, apoia. Flake foi mais longe, dizendo que se isso não acontecer, votará contra.
Com os republicanos com uma maioria frágil no Senado (51 contra 49 democratas), esta tomada de posição deixa o líder da maioria, Mitch McConnell, o responsável por convocar a votação, com poucas opções.
Neste momento, as contas no Senado são simples: 49 senadores já revelaram o seu apoio a Kavanaugh e 47 já disseram que vão votar contra ele. Mas quem são os cinco que ainda não revelaram a sua intenção de voto?
O senador republicano do Arizona, de 55 anos, anunciou em outubro do ano passado que não iria tentar a reeleição nas intercalares deste novembro, num discurso em pleno Senado no qual disse que não iria mais ser "cúmplice" ou "ficar em silêncio" diante do comportamento "imprudente, ultrajante e indigno" do presidente Donald Trump.
"O caminho que teria que fazer para conseguir a nomeação republicana é um caminho que não estou disposto a seguir, que não possa em consciência seguir", disse então. "A política pode calar-nos quando devíamos falar, e o silêncio pode ser igualmente cúmplice. Tenho filhos e netos. Não serei cúmplice", disse. As sondagens indicavam que Flake iria perder as primárias para Kelli Ward, cuja candidatura Trump tinha considerado "ótima". O presidente apelidou Flake de "tóxico" e "fraco" em temas de imigração e crime.
Nascido numa família mórmon, Flake está no Senado desde 2013, depois de ter estado 12 anos na Câmara dos Representantes. Defensor desde sempre da redução dos gastos do governo federal, o senador defende também o livre-comércio e uma abertura à imigração (foi um dos oito senadores que passou uma lei a favor da legalização de milhões de imigrantes ilegais, em 2013). Estas duas posições claramente opostas à do presidente.
Ainda antes de anunciar que iria retirar-se, Flake escreveu um livro crítico não só de Trump, mas também da liderança do Partido Republicano. Conscience of a Conservative (em português "consciência de um conservador"), com o subtítulo "uma rejeição da política destrutiva e um regresso aos princípios". Mas, apesar de todas as críticas, Flake tem votado a favor da agenda do presidente, o que levou muitos a acusarem-no de não seguir aquilo que defende.
Antes de o tema sobre agressões sexuais dominar a nomeação de Kavanaugh, era o direito ao aborto que dividia a opinião dos senadores. A sua confirmação irá tornar o Supremo Tribunal muito mais conservador e há quem tema que este direito possa ser posto em causa, numa revisão da histórica decisão Roe vs. Wade, de 1973.
Lisa Murkowski, que nasceu há 61 anos no Alasca, é uma das poucas senadoras republicadas que apoia o direito ao aborto. Também tem estado sob pressão dos povos nativos do Alasca (um grupo que apoiou a sua eleição para o Senado), devido à posição de Kavanaugh sobre os direitos das tribos nativo-americanas e cuidados de saúde.
Congressista entre 1999 e 2002, está no Senado desde então. Apesar de ser membro do Partido Republicano, Murkowski venceu as eleições de 2010 apesar de ter perdido as primárias republicana e não estar no boletim de voto - os eleitores têm sempre a opção de escrever o nome que quiserem.
Em relação às denúncias de abusos sexuais contra Kavanaugh, Murkowski disse à Reuters na quinta-feira, depois de audiência a uma das alegadas vítimas, Christine Blasey Ford : "Considero o testemunho da Dr. Ford credível". Na sexta-feira, apoiou a ideia de Flake de adiar a votação de confirmação no Senado.
A senadora republicana do Maine também é uma defensora do direito ao aborto, mas já disse acreditar que Kavanaugh não vai pôr em causa a decisão de Roe vs. Wade. Contudo, a senadora moderada que por vezes vota contra o partido, disse que se Kavanaugh mentiu sobre as acusações de abusos sexuais "Isso seria suficiente para o desqualificar", indicou.
Em relação às acusações, Collins disse que acredita que tanto Ford como outra das alegadas vítimas deviam ser ouvidas na Comissão Judicial do Senado (só uma o fez), mas não declarou abertamente se considera ou não as acusações credíveis.
Collins, de 65 anos, está no senado desde 1997, depois de quatro anos antes ter tentado ser eleita governadora do Maine.
A senadora democrata, que aprovou a nomeação de Neil Gorsuch (também nomeado por Trump) para o Supremo, apoiou ontem publicamente a ideia de Flake, de pedir uma investigação do FBI antes da votação no Senado. "Precisamos de retirar a política deste processo e permitir que uma agência policial independente faça o seu trabalho", escreveu no Twitter, sendo que já antes tinha pedido mais investigação.
Heidi Heitkamp reiterou esta semana que continua indecisa, apesar de ter defendido a importância do testemunho de Ford e de outras mulheres. "É preciso coragem para qualquer mulher falar sobre assédio sexual e precisamos de respeitar a professora Ford e ouvi-la e à sua história", escreveu no Twitter.
Heitkamp, de 62 anos, no Senado desde 2013, é uma das que vai a votos este novembro - e num estado claramente pró-Trump, o Dacota do Norte.
Tal como Heitkamp, Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, também aprovou a nomeação de Gorsuch para o Supremo em abril de 2017 e também enfrenta uma reeleição em novembro num estado pró-Trump.
Manchin também apoia a decisão de adiar a votação até haver mais investigação. "Aplaudo a decisão do senador Jeff Flake de superar o circo partidário em exibição durante todo este processo", indicou num comunicado. "Foi preciso coragem para tomar uma posição e pedir uma investigação de uma semana ao FBI para chegar ao fundo das acusações contra o juiz Kavanaugh", acrescentou.
Segundo o site Vox, é conhecido pela sua independência e, anteriormente, disse que não estaria disposto a ceder à pressão do líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, para votar de determinada forma. "Faço 71 anos em agosto, vão-me chicotear? [um trocadilho com a palavra whip, que significa chicote mas designa também o líder parlamentar]. Beijem-me vocês sabem onde", afirmou no início do verão.
Em cargos políticos desde 1982, Manchin começou no congresso regional, foi governador da Virgínia Ocidental entre 2005 e 2010 e desde esse ano que está no Senado.