Putin e Erdogan acordam trégua na Síria

Conversações sobre o conflito em Idlib resultam num documento conjunto para acabar com os combates e "acabar com o sofrimento da população".
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A Turquia e a Rússia chegaram a acordo sobre uma trégua na província de Idlib, no noroeste da Síria, para entrar em vigor à meia-noite, anunciou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

"Às 00.01 desta noite, ou seja, a partir da meia-noite, a trégua será posta em prática", disse Erdogan, após conversações com o homólogo Vladimir Putin, em Moscovo. A reunião entre os presidentes da Rússia e da Turquia tinha exatamente como objetivo alcançar um cessar-fogo em Idlib, a última província síria fora do controlo de Damasco.

Um ataque aéreo atribuído ao regime -- mas que muitos consideram ter sido realizado pelos russos -- resultou na morte de 34 soldados turcos, a maior perda para Ancara desde o início da sua intervenção militar, em 2016.

A retaliação da Turquia foi devastadora, com ataques de drones e mísseis que mataram cerca de 200 soldados sírios e destruíram aviões, tanques e diverso equipamento militar.

"Chegámos a acordo sobre um documento conjunto", disse Putin, tendo acrescentado que esperava "servir como uma boa base para acabar com os combates na zona de desescalada de Idlib e acabar com o sofrimento da população civil".

Sem entrar em pormenores, o presidente turco disse que russos e turcos "vão trabalhar em conjunto para fornecer ajuda aos sírios em necessidade".

Erdogan acrescentou que a Turquia se reserva o direito de "retaliar com todas as suas forças contra qualquer ataque" de Damasco, apesar da trégua. "O regime é o culpado pela quebra do acordo [de Sochi]", disse Erdogan.

A iniciativa de Erdogan de abrir as fronteiras para os migrantes e refugiados que querem a Europa como destino levou Bruxelas, que teme a repetição da crise migratória de 2015-2016, a responder com uma missão de intervenção rápida da Frontex, a agência europeia de fronteiras.

Diversos dirigentes europeus, do chanceler austríaco Sebastian Kurz ao comissário europeu Margaritis Schinas recusaram a pressão de Ancara e qualificaram a jogada turca de "chantagem".

Zona de exclusão aérea

Em Zagreb, numa reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros, o alto representante da política externa europeia Josep Borrell defendeu a ideia apresentada pelos holandeses de se criar uma zona de exclusão aérea em Idlib, uma ideia que Ancara já tinha proposto no fim de semana. No entanto, o chefe da diplomacia europeia lembrou que a UE não tem capacidade para tornar a ideia em realidade.

Cabe ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma decisão dessas, mas não é de esperar que a Rússia, com poder de veto, deixasse passar tal proposta.

Na capital croata, Augusto Santos Silva, o MNE português, lamentou que a Turquia esteja a usar os migrantes "como peões", mas defendeu o diálogo e uma resposta "com determinação e também inteligência política".

Quem também participou na reunião de Zagreb foi o secretário-geral da NATO. Jens Stoltenberg pediu à Europa para se encontrar uma solução conjunta e defendeu o "importante aliado da Aliança". "A Turquia desempenhou um papel importante na luta contra o Estado Islâmico", declarou o norueguês.

Assad replica discurso europeu

Bashar al-Assad, o líder da Síria, alinhou o seu discurso com os dirigentes europeus. Em entrevista ao canal Russia 24, Assad acusou Erdogan de "enviar uma segunda onda de refugiados como forma de chantagear a Europa".

O presidente turco rejeitou as acusações de que está a chantagear a Europa e sublinhou que "a capacidade da Turquia tem um limite".

Na véspera, Erdogan, que não tem recebido apoio internacional no que respeita à sua estratégia, contou com um artigo de George Soros a elogiar a Turquia, cujo governo foi o "único que interpôs forças militares para defender os civis presos em Idlib pelo senhor Assad", escreveu o bilionário no Financial Times.

No terreno, a fronteira aberta de Pazarkule, na região de Edirne, vai contar com um reforço policial de mil agentes. O objetivo da medida anunciada pelo ministro do Interior, Süleyman Soylu, é de impedir que a Grécia devolva à procedência os migrantes e refugiados que passem a fronteira.

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