Pintura famosa foi restaurada e agora cordeiro surge com "feições humanas"

O restauro do<em> Retábulo de Ghent</em>, pintado pelos irmãos Hubert e Jan Van Eyck no século XV, trouxe uma surpresa: um cordeiro passou a ter uma face quase humana. Os especialistas dizem que não há engano e que assim é que a pintura é mais fiel ao original.
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O restauro de uma famosa pintura do século XV revelou o "rosto humano de um cordeiro" e gerou o debate entre críticos de arte e, sobretudo, a discussão, nem sempre bem informada, nas redes sociais. Motivada, pela certa, por conhecidos casos de falhas em algumas ações de restauro. Nesta operação, um cordeiro que é o centro da pintura surge agora com um rosto mais "humanizado". Mas não houve erro, garantem os especialistas e os responsáveis pelo restauro: a pintura está agora mais próxima de como era no original.

O Retábulo de Ghent, conhecido como a "Adoração do Cordeiro Sagrado", concluído pelos irmãos Hubert e Jan Van Eyck em 1432, cativa o mundo da arte há séculos. É tido como uma obra-prima de 12 painéis, concebida de meados da década de 1420 a 1432. Colocado na Catedral de St. Bavo, em Ghent, na Bélgica, é visto como a primeira grande pintura a óleo a ganhar admiração mundial.

Desde 2012, um projeto de 2,2 milhões de euros para restaurar a obra de arte esteve em curso num museu na Bélgica. Na segunda fase do projeto, que terminou no mês passado, os especialistas fizeram algumas descobertas inesperadas. Descobriram que o painel central da obra, conhecido como Adoração do Cordeiro Místico, tinha sido pintado, em sobreposição, no século XVI. Em que outro artista alterou o Cordeiro de Deus, um símbolo de Jesus, representado no centro do painel.

A equipa de restauro despojou a tinta que tinha sido colocada sobreposta, o que permitiu revelar o "olhar intenso" do cordeiro e os "grandes olhos frontais", o que o torna "mais humano". A comparação entre as duas faces é o que gera mais discussão nas redes sociais.

Hélène Dubois, líder do projeto de restauro, disse ao Art Newspaper que o cordeiro original tinha uma "interação mais intensa com o público", com uma representação "caricatural" do cordeiro quando toda a pintura da época apresenta um estilo naturalista que até está presente na pintura ao ponto de "os botânicos conseguirem identificar todas as plantas presentes". Por isso, admite que é preciso continuar a estudar a obra para perceber o que levou os Van Eyck a seguir essa opção.

Koenraad Jonckheere, professor de arte renascentista e barroca na Universidade de Ghent, aponta que a pintura sobreposta pode ter sido feita para neutralizar a "identificação intensa e humanizada do cordeiro e mostrar um animal sem expressão".

O Instituto Real do Património Cultural da Bélgica, que liderou o processo de restauro, disse que a pintura sobreposta foi removida gradualmente ao longo de três anos para revelar o original.

Em comunicado, o instituto defendeu a campanha de restauro, apontando que "vários posts nas redes sociais refletem um entendimento errado dos resultados".

Os irmãos Van Eyck escolheram "representar o Cordeiro de Deus com olhos humanos". "A escolha para remover a tinta em excesso foi cuidadosamente ponderada e foi totalmente apoiada por todos os envolvidos", garantiu o instituto. "Os resultados do restauro foram elogiados por especialistas, pelo público e pela Catedral de St. Bavo", conclui.

A pintura é conhecida como a Adoração do Cordeiro Místico, por causa do painel central que mostra os peregrinos reunidos a prestar homenagem ao Cordeiro de Deus, uma representação de Jesus Cristo.

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