EUA ameaçam com novo ataque

Nikki Haley, embaixadora norte-americana na ONU, referiu que os EUA estão preparados para "manter pressão" sobre o regime sírio
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As Forças Armadas dos EUA anunciaram esta madrugada que os ataques realizados na Síria tiveram três alvos principais, todos ligados à infraestrutura de armamento químico do regime de Bashar al-Assad.

O ataque teve início às 2:00 (hora de Lisboa), informou o general Joseph Dunford, chefe do Estado-Maior, numa conferência de imprensa realizada pouco depois dos ataques.

O primeiro alvo foi um centro de pesquisa de Damasco, o segundo foi um paiol com armas químicas, incluindo gás sarin, a oeste da cidade de Homs, e um terceiro, nos subúrbios, que Dunford descreveu como "um importante centro de comando" dos meios de ataque com este tipo de armamentos.

Esta primeira onda de ataque "terminou e é por isso que estamos a falar agora", disse ainda Dunford, cerca das 3:00.

Segundo a CNN, nas ações militares foram utilizados bombardeiros B-1, invisíveis ao radar.

Presente nesta conferência de imprensa esteve também o secretário da Defesa, James Mattis, que afirmou ser objetivo desta operação enviar "uma mensagem clara a Assad e aos seus subalternos que não podem voltar a utilizar armas químicas".

"Estes ataques são dirigidos ao regime sírio. Ao prepará-los tentámos minimizar os danos civis", afirmou Matthis.

Joseph Dunford adiantou por seu lado que os alvos foram "identificados especialmente" tendo em conta o risco de atingir forças russas no local. No entanto, afirmou, não houve qualquer aviso especial a Moscovo de que a operação se iria realizar. "Não coordenámos os ataques" com as forças russas", disse.

Pentágono diz que todos os alvos foram atingidos

Todos os alvos sírios que estavam previstos na ação militar realizada por Washington, Paris e Londres fora "atingidos com sucesso", afirmou o Pentágono já durante o dia, num segundo briefing.

"Não tencionamos intervir no conflito na Síria, mas não podemos permitir tais violações das leis internacionais", disse a porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano (Pentágono), Dana White, numa conferência de imprensa. "Atingimos com sucesso cada alvo", acrescentou a porta-voz.

Na mesma conferência de imprensa, um alto responsável do Pentágono, o general Kenneth McKenzie, referiu que os ataques ocidentais realizados hoje de madrugada representaram um grande golpe para o programa de armas químicas da Síria e que "levará anos para recuperar".

As unidades de defesa antiaéreas russas, um dos principais aliados de Damasco, não foram ativadas e as do regime sírio só foram após o fim dos ataques, acrescentou o general McKenzie.

"Se o regime sírio usar gás venenoso outra vez, os EUA estão prontos a agir"

Os EUA estão prontos a agir novamente caso exista um novo ataque químico na Síria, assegurou hoje a embaixadora norte-americana junto da ONU, Nikki Haley, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.

"Se o regime sírio usar gás venenoso outra vez, os EUA estão prontos a agir", disse Nikki Haley.

"Estamos confiantes que incapacitámos o programa de armas químicas da Síria. Estamos preparados para manter esta pressão, se o regime sírio for insensato o suficiente para testar a nossa vontade", disse a embaixadora dos EUA junto da ONU.

Entretanto, fontes norte-americanas dão conta de que Damasco terá utilizados dois gases no ataque a Douma, que motivou a intervenção desta madrugada: "Agora que as informações disponíveis são mais claras sobre o uso de cloro, temos também informações significativas que dão conta igualmente do uso de sarin", disse uma responsável da administração norte-americana, que falou à comunicação social sob a condição de anonimato, referindo que estas informações são corroboradas com os sintomas relatados por várias testemunhas.

Embaixador russo na ONU fala em "hooliganismo diplomático"

Entretanto, na reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, António Guterres, secretário-geral, pediu "moderação" para se evitar uma situação "fora de controlo".

Na mesma reunião, Vasily Nebenzya, embaixador russo para a ONU, além de pedir ao Conselho para votar a favor de um projeto de resolução russo que visa condenar a "agressão" ocidental à Síria, acusou ainda EUA, Reino Unido e França de "hooliganismo diplomático".

Investigação ao alegado ataque químico vai continuar

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) vai manter o inquérito ao alegado ataque de armas químicas, com início previsto para este sábado, apesar do ataque desta madrugada.

Esta informação foi prestada pela OPAQ em comunicado, em que acrescentou que a sua intervenção visa perceber "os factos relativos às alegações de uso de armas químicas a [cidade de] Douma".

Portugal "compreende" ataque de "amigos e aliados". PCP e BE condenam operação

O Governo português disse compreender as razões que levaram à intervenção militar desta madrugada na Síria, realizada pelos "amigos e aliados" Estados Unidos, Reino Unido e França, defendendo, no entanto, ser necessário evitar uma escalada do conflito.

"Portugal compreende as razões e a oportunidade desta intervenção militar", afirma o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado, acrescentando que o objetivo foi "infligir danos à estrutura de produção e distribuição de armas que são estritamente proibidas pelo direito internacional".

O PCP condenou o ataque à Síria, considerando-o "inaceitável" e uma "flagrante violação e afronta" à Carta das Nações Unidas e ao direito internacional" e realçou que Portugal deve demarcar-se deste ato.

"O PCP repudia a posição do Governo português e considera que, no respeito pela Constituição da República, Portugal se deve demarcar deste inaceitável ato de agressão, pugnar pelo fim da agressão à Síria e apoiar as iniciativas em curso para o diálogo e a paz", sublinha o PCP.

O partido deixa ainda um apelo à solidariedade para com a Síria e o seu povo, que enfrenta, "desde há sete anos, a bárbara agressão do imperialismo norte-americano e seus aliados, resiste e luta em defesa da sua soberania, da independência e integridade territorial da sua pátria, do direito a decidir, livre de quaisquer ingerências, o seu destino".

O Bloco de Esquerda (BE) mostrou-se também contra o ataque e defendeu que Portugal se deve distanciar "claramente" da escalada militarista internacional.

"O Bloco de Esquerda condena o ataque e apela à resolução pacífica do conflito sírio no quadro do Direito Internacional, garantindo aos povos da Síria a escolha livre e democrática sobre o seu futuro", lê-se no comunicado divulgado pelo partido.

PSD apoia operação

"O PSD apoia sem ambiguidade a iniciativa (...), que vai no sentido de deixar claro que o uso de armas químicas é uma linha vermelha que não pode ser ultrapassada sem uma resposta que dissuada o Estado infrator de repetir esse tipo de prática", lê-se no comunicado assinado por Tiago Moreira de Sá, presidente da Comissão de Relações Internacionais do PSD.

Sublinhando condenar "veementemente os ataques químicos contra civis", o PSD referiu entender que "esta solução política só podia ser desencadeada por uma ação assertiva e determinada de Estados que, como Portugal, respeitam as normas, regras, leis e instituições da ordem internacional".

O PSD apoia, assim, a execução de bombardeamentos pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, com "caráter punitivo", que servem para demonstrar ao regime sírio que a "violação sistemática do direito e das regras básicas da ordem internacional através do uso de armas químicas contra a população civil é inaceitável".

Síria conseguiu intercetar 71 dos 103 mísseis, diz a Rússia

Ao contrário do que acabou por ser referido pelo Pentágono, o exército russo, primeiro a comentar o assunto, afirmou que a defesa antiaérea síria conseguiu intercetar 71 dos 103 mísseis de cruzeiro lançados contra instalações do regime de Damasco pelos EUA e aliados.

"Isto testemunha a grande eficácia destes sistemas [antiaéreos] e a excelente formação do pessoal militar sírio formado pelos nossos especialistas", declarou o general russo Serguei Rudskoi, em conferência de imprensa.

O general Rudskoi confirmou que os bombardeamentos dos Estados Unidos e aliados não causaram "qualquer vítima" civil ou militar.

"De acordo com informações preliminares, não se registou qualquer vítima entre a população civil ou entre as forças armadas sírias", declarou.

De acordo com as forças armadas russas, um total de 103 mísseis de cruzeiro foram disparados pelos Estados Unidos, França e Reino Unido, incluindo mísseis Tomahawk, e 71 foram intercetados pela defesa antiaérea síria, equipada com sistemas de conceção soviética.

Guerra e propaganda

A televisão pública síria afirmou durante a madrugada que 13 mísseis foram intercetados pelos meios de defesa antimíssil a sul de Damasco.

Esta informação não foi confirmada pelas forças armadas norte-americanas.

Outros meios sírios dão ainda conta que surgiram nas ruas veículos automóveis com alto-falantes a tocar música nacionalista.

No fim da primeira conferência de imprensa no Pentágono, James Mattis fez questão de afirmar que "nas próximas horas" iriam surgir "histórias falsas" no sentido de minimizar o êxito ou descredibilizar a operação.

O ataque coordenado dos EUA e dos seus aliados foi comunicado pelos líderes dos três países:

A 6 de abril de 2017, após mais de 80 pessoas terem morrido num ataque químico que o ocidente julga ter provas irrefutáveis de que foi executado pelo regime de Bashar al-Assad, os EUA lançaram mísseis contra as infraestruturas do regime.

Na altura, os Estados Unidos agiram sozinhos. O secretário da Defesa, James Mattis, afirmou que agora foram utilizados o dobro do número de armas do que nessa altura.

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