Os colonos israelitas e os palestinianos com que eles convivem
As ligações do seu povo a esta terra datam dos tempos bíblicos, diz o ilustrador. O seu vizinho, um agricultor, diz que a terra pertencia aos seus antepassados e foi roubada. Um é um colono israelita, o outro é um palestiniano que vive do outro lado da rua.
Os colonatos judaicos na Cisjordânia são um dos pontos de maior discórdia no conflito israelo-palestiniano. Os palestinianos querem que a área, capturada por Israel durante a guerra de 1967, faça parte do seu futuro Estado.
Israel construiu ali mais de 120 colonatos e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante a campanha para as eleições de dia 17, renovou a intenção de os anexar, causando alarme entre os palestinianos.
A maior parte da comunidade internacional vê os colonatos como ilegais e um dos maiores obstáculos à paz entre israelitas e palestinianos, uma visão que Israel contesta.
Michael Netzer mudou-se para Ofra em 1985, uma década depois de o colonatos terem sido estabelecidos, tendo sido um dos primeiros na Cisjordânia.
"É ridículo dizer que os judeus não podem viver aqui", diz o artista de banda desenhada, de 63 anos. "A Bíblia é parte disto. Posso perguntar a qualquer pessoa: É assim tão fácil perder-se a ligação com a terra dos teus antepassados? Claro que não. Para os judeus, essa história é o que faz de nós aquilo que somos".
Os telhados vermelhos das casas de Ofra são fáceis de avistar em Ein Yabrud, uma aldeia palestiniana do outro lado da estrada.
Azmi Musleh, de 53 anos, um agricultor local, diz que Ofra está na terra que a sua família costumava cultivar. "Essa terra é o meu coração e a minha alma. É o coração e a alma da minha família. Nós costumávamos cultivar aqui sésamo, figos, azeitonas, no tempo do meu pai, no tempo do pai dele, no tempo do pai do pai dele", diz Musleh.
As comunidades de colonos israelitas não são muito homogéneas. Alguns colonos são guiados por uma ideologia fervorosa. Outras andam apenas à procura de um apartamento barato. Alguns dos colonatos adjacentes a Israel são vistos por muitos israelitas como cidades normais, ao contrário dos enclaves mais isolados da dividida Cisjordânia.
"Eu não me sinto como um colono", diz Michele Coven-Wolgel, uma advogada de 60 anos de Maale Adumim, um grande colonato que fica a cerca de 15 minutos de carro de Jerusalém. "Devíamos ser anexados? Sim, somos uma cidade de 41 mil pessoas, somos uma cidade, até temos um centro comercial".
Com as colinas ao fundo, as vivendas de Maale Adumim oferecem aos seus habitantes uma vida confortável. A educação é boa e os transportes até à cidade são fáceis.
Ali Farun, de 74 anos, da cidade palestiniana de al-Eizariya, a 1,5 Km de Maale Adumim, tem poucas esperanças de que o território alguma vez regresse ao controlo palestiniano.
"Não importa se a vão anexar a Jerusalém ou se vai permanecer na Cisjordânia - eles é que têm o controlo sobre ela, de uma forma ou de outra", declara Farun.
Havat Gilad, um cluster de cabanas pré-fabricadas espalhadas por um morro ao fundo da Cisjordânia, abriga cerca de 50 famílias.
Os seus residentes dizem que a sua presença na Cisjordânia cumpre a promessa bíblica de Deus ao povo judeu e garante a segurança de Israel.
"Isto pertence ao povo de Israel, não há qualquer dúvida sobre isso", disse Itai Zar, de 43 anos, que em 2002 fundou o Havat Gilad, depois de o seu irmão ter sido morto por militantes palestinianos não muito longe dali.
"Há 18 anos viemos para aqui, uma família apenas, e hoje somos uma comunidade a florescer".
Bothena Turabe viu o colonato crescer a partir da sua aldeia de Sarra, do outro lado. "À noite olha-se para ali e parece que não está ali nada, de manhã volta-se a olhar e vemos mais caravanas", conta Turabe, de 47 anos, membro do conselho local da aldeia. "Esta terra não é deles por direito - estão a roubá-la".
Beitar Illit é um colonato construído pela comunidade judaica ultraortodoxa, em rápido crescimento. De acordo com a organização Peace Now, Beitar Illit teve o maior crescimento de colonatos na Cisjordânia em 2018.
Densamente povoada por blocos de apartamentos, parece um mundo à parte em relação às cabanas de Havat Gilad e às suas estradas empoeiradas. Ao contrário do que acontece em Zar, os residentes manifestam preocupações financeiras no que toca a mudarem-se para aqui.
"Não estamos aqui por razões ideológicas", diz David Hamburger, de 36 anos, dono de uma loja em Beitar Illit. "Não temos forma de comprar casas noutro sítio sem ser nos colonatos".
Com famílias numerosas, com sete filhos em média, taxa de desemprego elevada e pobreza, os judeus ultraortodoxos procuram casas baratas para poderem viver em comunidade e, assim, se manterem perto uns dos outros.
Para Mohammad Awad, um agricultor de 64 anos de Wadi Fukin, uma aldeia palestiniana próxima de Beitar Illit, não lhe importa a razão pela qual as pessoas vêm viver para o colonato.
"É impossível ter paz entre nós porque o principal conflito entre nós é sobre um pedaço de terra que nos foi tirado à força, então como podemos deixar estas pessoas roubar-nos a terra, viver nela, gozar dela e viver com elas em paz", questiona-se.
* Fotojornalista da agência Reuters