Obama e os líderes mundiais: do "galo" Sarkozy à frustração nos olhos de Merkel

O ex-presidente norte-americano não poupa nas descrições, incluindo físicas, dos líderes com quem se cruzou entre 2009 e 2011.
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No seu novo livro de memórias, A Promised Land (Uma Terra Prometida), o ex-presidente norte-americano Barack Obama descreve (incluindo fisicamente) outros líderes mundiais com os quais se cruzou entre 2009, quando entrou na Casa Branca, e 2011, já que o livro acaba com a operação que culmina na morte do líder da Al-Qaeda, Ossama Ben Laden.

São descrições poéticas e por vezes mordazes.

Presidente russo, na altura primeiro-ministro: "Fisicamente, era normal: pequeno e compacto -- a constituição de um lutador -- com cabelo fino, cor de areia, um nariz proeminente, e olhos pálidos e vigilantes (...) Percebi uma indiferença nos seus movimentos, um desinteresse praticado na sua voz que indicava alguém acostumado a estar rodeado de subordinados e suplicantes."

Então presidente francês: "Com as suas feições escuras, expressivas e vagamente mediterrânicas (ele era meio húngaro e um quarto judeu grego) e pequena estatura (ele tinha cerca de 1,65 metros mas usava cunhas nos sapatos para parecer mais alto), ele parecia uma figura saída de um quadro do Toulouse-Lautrec."

"Conversas com Sarkozy eram à vez divertidas e exasperantes, as suas mãos em movimento perpétuo, o seu peito erguido como o de um galo, o seu tradutor pessoal (...) sempre ao seu lado a tentar espelhar freneticamente todos os seus gestos e entoação à medida que as conversas passavam da lisonja para a fanfarronice para um discernimento genuíno, nunca se afastando do seu interesse primário, mal disfarçado, que era o de estar no centro da ação e ficar com o crédito de tudo o que pudesse valer a pena."

Primeiro-ministro israelita: "Com a constituição de um linebacker [defesa no futebol americano], com mandíbula quadrada, características largas e um penteado cabelo cinzento, Netanyahu era inteligente, astuto, duro e um comunicador nato tanto em hebreu como em inglês."

"O Netanyahu podia ser encantador, até solícito, quando isso servia os seus propósitos."

"Mas a sua visão de si próprio como o principal defensor do povo judeu contra a calamidade permitia-lhe justificar quase tudo que o mantivesse no poder -- e a sua familiaridade com a política americana e os media dava-lhe confiança de que podia resistir a qualquer pressão que uma Administração democrata como a minha pudesse tentar aplicar."

Chanceler alemã: "Os olhos de Merkel eram grandes e azuis brilhantes e podiam ser tocados alternadamente com frustração, diversão ou sinais de tristeza. Fora isso, a sua aparência impassível traduzia a sua sensibilidade analítica e séria."

Presidente turco (então primeiro-ministro): "Pessoalmente, achei-o cordial e geralmente recetivo aos meus pedidos. Mas sempre que o ouvia falar, a sua figura alta ligeiramente encurvada, a sua voz um staccato forte que subia uma oitava em resposta a várias queixas ou aparente desprezo, ficava com uma forte impressão que o seu compromisso com a democracia e o Estado de Direito podiam durar apenas enquanto garantissem o seu próprio poder".

Então primeiro-ministro indiano: "Um economista gentil, que falava suavemente, nos seus 70 anos, com uma barba branca e um turbante que eram as marcas da sua fé sikh mas que, aos olhos ocidentais, lhe davam um ar de homem santo..."

"Achava Singh sábio, atencioso e escrupulosamente honesto."

Então presidente chinês: "Qualquer que fosse o tópico, ele gostava de ler de uma pilha grossa de declarações preparadas, pausando de vez em quando para as traduções em inglês que pareciam ter sido preparadas com antecedência e, de alguma foram, duravam sempre mais tempo do que a sua declaração original (....) Estive tentado, mais do que uma vez, a sugerir que podiamos poupar o tempo um do outro se trocassemos os papéis e os lessemos a nosso bel-prazer."

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