Vai nascer um túnel entre Alemanha e Dinamarca. E será o maior para carros e comboios
O maior túnel rodoferroviário do mundo vai começar a nascer entre a Dinamarca e a Alemanha em 2021. "É uma nova porta de entrada na Europa", disse o ministro dos Transportes dinamarquês, Benny Engelbrecht, depois de o projeto de 8,7 mil milhões de euros ter sido aprovado por todos os partidos no Parlamento dinamarquês.
O túnel vai unir Rødbyhavn, na ilha dinamarquesa de Lolland (ligada ao resto do país por outros túneis), à ilha alemã de Fehmarn (ligado ao continente por uma ponte). Será construído sob o Ferhmarnbelt, um estreito no mar do Báltico. Com 18 quilómetros, quatro vias para carros e duas para comboios, será o maior túnel com as duas vertentes -- rodoviária e ferroviária -- quando estiver concluído, em 2029.
O projeto de 8,7 mil milhões de euros, da empresa estatal Femern A/S, será pago totalmente pela Dinamarca com apoios europeus e com os lucros que gerará uma vez aberto à circulação, que servirão também para cobrir a manutenção do espaço. A expectativa é que os empréstimos sejam pagos em 36 anos, sendo o custo das portagens estabelecido pelo Parlamento dinamarquês.
Este modelo de financiamento já foi usado noutras ligações no país, incluindo a que une a Suécia à Dinamarca e que além da ponte de Oresund, com oito quilómetros, inclui também aquele que é até agora o maior túnel rodoferroviário do mundo, o de Drogden, com 4050 metros.
Atualmente, o maior túnel só para comboios é o de Gotthard, que passa por baixo dos Alpes suíços e mede 57,1 quilómetros de comprimento, enquanto o de Seikan, no Japão, é o maior debaixo de água, com 53,9 quilómetros. O maior túnel rodoviário é o de Laerdal, na Noruega, medindo 24,51 quilómetros, sendo o de Ryfylke, igualmente na Noruega, é o maior debaixo de água (14,3 quilómetros).
A viagem entre Lilland e Fehmarn é feita atualmente de ferry (que leva carros e o comboio) e demora 45 minutos, sendo preciso acrescentar pelo menos mais 15 para os preparativos para o embarque. Quando o túnel estiver concluído será possível cruzar o estreito em sete minutos de comboio e 10 minutos de carro. E será possível retirar duas horas à viagem de comboio entre Hamburgo e Copenhaga, que agora demora quatro horas e meia, e à de Estocolmo para Hamburgo, que demora dez.
Os trabalhos de construção no lado dinamarquês estão previstos para começar a 1 de janeiro de 2021, segundo um comunicado do Ministério dos Transportes, com um atraso de seis meses causado pelo coronavírus.
Estes trabalhos incluem a entrada do túnel, estruturas de apoio residencial e administrativas e a fábrica onde serão construídos os troços de túnel que mais tarde serão submersos no seu lugar, no estreito. Um projeto que representa milhares de postos de trabalho para Lolland -- só trabalhos diretos serão três mil.
A fábrica só começará a funcionar no início de 2023, com a imersão do primeiro troço esperada apenas em 2024. Antes é preciso escavar uma trincheira de 60 metros de largura e 13 metros de profundidade no fundo do estreito, no qual os troços vão depois entrar. Cada um destes pesa 73 mil toneladas, sendo esperado o uso de ferro equivalente a 50 torres Eiffel em toda a travessia, e estará hermeticamente selado, sendo colocado no sítio com o auxílio de barcos rebocadores.
Os 19 milhões de metros cúbicos de material retirado do fundo do estreito serão usados para aumentar a ilha de Lolland com três quilómetros quadrados de áreas naturais, segundo a empresa responsável.
Entretanto, em meados de 2022 devem começar os trabalhos no lado alemão -- estando ainda pendentes resultados de processos judiciais por questões ambientais contra o governo alemão pela aprovação do projeto, esperada para o outono. O túnel deverá entrar em funcionamento apenas em 2029, estando no projeto incluindo ainda a melhoria das ligações ferroviárias e rodoviárias tanto na Dinamarca como na Alemanha.
Uma forma mais permanente de cruzar o estreito entre Lolland e Fehmarn começou a ser pensada ainda na década de 1990, depois de ambos os países concordarem que poderia ser mais benéfico do que o simples ferry. Mas os planos iniciais, assinados em 2007, eram para construir uma ponte.
Só em 2010 é que esta deu lugar a um túnel, com os engenheiros a concluir que seria mais fácil de construir e teria basicamente os mesmos custos.
Mas os planos para a construção, que esteve para avançar em 2015, foram adiados por vários processos judiciais, incluindo das duas empresas de ferries que fazem atualmente a travessia e que chegaram até aos tribunais europeus.
O projeto voltou a receber luz verde da Comissão Europeia em março e o aval do Parlamento dinamarquês em abril.