Novas táticas do ISIS passam "pelo terrorismo teleguiado"
Sucessivas derrotas no terreno, redução do território sob seu controlo com consequente diminuição das fontes de receita, petrolíferas e impostos às populações, maior controlo das entradas de combatentes através da Turquia e de outros países, o Estado Islâmico (EI, também conhecido pela sigla em inglês ISIS) está a mudar as formas de atuação e a adotar-se à nova realidade.
Com menos meios financeiros e menores recursos logísticos, "o ISIS está a adaptar-se, de diversas formas, à pressão militar - recorre, de forma crescente, às comunicações e ao recrutamento clandestinos, incluindo a redes fechadas na Internet, codificações e a mensageiros", afirmou o subsecretário-geral das Nações Unidas para as Questões Políticas, Jeffrey Feltman, perante o Conselho de Segurança da organização. Feltman falava na apresentação do mais recente relatório sobre ameaças terroristas à paz e segurança internacionais, onde destacou o facto de que, desde 2014, o EI ou ISIS ter identificado a Europa comum dos alvos privilegiados para as suas ações. Uma estratégia que tem vindo a intensificar nos últimos tempos.
Para a concretização desta orientação, o EI utiliza, como principal instrumento, a Internet para doutrinar, incentivar e orientar potenciais jihadistas. O fenómeno tem sido caracterizado como "terrorismo teleguiado" ou "marionetes terroristas" e, ao contrário da análise que apresenta os seus protagonistas como "lobos solitários", os atacantes são apoiados por outros elementos e, por vezes, "teleguiados" até pouco antes da operação, nota o relatório, que concentra a sua análise na situação presente na Europa, Norte de África e África Ocidental.
"As investigações revelam que os autores [de ataques terroristas na Europa] receberam apoio material ou incentivo de outros extremistas", indica o relatório. De forma contrária, o "lobo solitário" atua de forma individual e não necessita de apoio logístico ou encorajamento de terceiros.
As novas táticas do EI justificam-se pela perda de território e como forma de retaliação pelo envolvimento de diferentes países da Europa ocidental nas operações da coligação internacional que ataca alvos dos islamitas no Iraque e na Síria. Só para 2016 estão referenciados mais de 35 ataques na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França e Reino Unido. Ataques que vão desde esfaqueamentos, atropelamentos em massa, atentados terroristas e tiroteios tendo como alvos a população civil.
Um primeiro dado novo é a diversificação dos meios de ataque. "Utilizam-se hoje bombas de pequena potência, facas, espingardas automáticas e outro tipo de armas", referia em setembro de 2016 o diretor de Estudos de Segurança Nacional do Royal United Services Institute, Raffaello Pantucci, num texto publicado no site desta organização. O facto levou a que a própria definição de ataque terrorista "se tenha diluído, tendo sido consideravelmente ampliado o elenco de ações consideradas como tal", explica o investigador. Os próprios alvos "tornaram-se difusos: cafés, igrejas, residências" e quaisquer lugares públicos.
A novidade do ISIS é que tornou um atentado terrorista em algo que "não necessita ser uma operação complexa e de larga escala, como costumava ser"- um ataque passou a "ser simples de fazer", conclui Pantucci.
É a partir destes pressupostos que o cenário dos terroristas "teleguiados" ganha relevo. Uma situação ontem descrita pela AFP, a propósito do relatório apresentado ao Conselho de Segurança da ONU, é de um francês de origem argelina, Rachid Kassim, que teria motivado o assassínio em julho de 2016 de um padre de 84 anos em Saint-Étienne-du-Rouvray por dois jovens islamitas.
Kassim, que se exprime através das redes fechadas da Internet, naquela altura proclamava num vídeo: "Rasga o teu bilhete para a Turquia", sugerindo seguidamente a possibilidade uma ação "onde queres que estejas".
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