NATO e UE criticam estratégia de Moscovo na Europa e na Síria
"Não procuramos o confronto com a Rússia, não queremos uma nova Guerra Fria, queremos precisamente evitá-la", declarou ontem o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, não deixando, por outro lado, de dirigir fortes críticas ao modo como a Rússia se está a comportar na área do Báltico e em países da Europa de Leste, como a Ucrânia e a Geórgia. Stoltenberg não deixou de ter, também, palavras duras para a intervenção de Moscovo na guerra civil síria ao lado do regime de Bashar al-Assad.
O secretário-geral da NATO falava em Bruxelas, antecipando alguns dos temas a serem hoje e amanhã abordados na cimeira de ministros da Defesa dos 28 Estados membros, que decorre na sede da Aliança na capital belga.
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Stoltenberg foi particularmente crítico para "os intensos ataques aéreos russos, na maioria dirigidos contra as forças da oposição" e que estão a beneficiar o regime de Damasco, impedindo "que as partes se reúnam" e encontrem uma solução política para um conflito que causou mais de 260 mil mortos e mais de dez milhões de deslocados internos e refugiados no exterior.
Ainda em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, teve palavras duras para a estratégia seguida por Moscovo no conflito sírio. "As ações da Rússia na Síria estão a tornar ainda pior uma situação já de si grave", permitindo ao "criminoso regime de Assad ganhar terreno. Com isto, afirmou Tusk, que falava num encontro com o novo chefe do governo da Geórgia, Georgy Kvirikashvili, "mais e mais milhares de refugiados estão em fuga para a Turquia e para a Europa".
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Segundo as autoridades de Ancara, uma ofensiva das forças fiéis ao regime de Assad, apoiadas pela aviação russa, sobre a cidade de Aleppo está a provocar um êxodo de dezenas de milhares pessoas em direção à fronteira turca.
As Nações Unidas pediram ontem ao governo de Ancara para abrir a fronteira e permitir a entrada de milhares de refugiados. A Turquia tem resistido com o argumento de que já abriga em seu solo cerca de 2,5 milhões de sírios.
Para Stoltenberg não é apenas no conflito sírio que Moscovo atua de forma contraproducente para a paz e o fim das tensões internacionais. Também a sua vontade de "usar a força militar sobre os vizinhos e de mudar as fronteiras na Europa", como sucedeu na Ucrânia e na Geórgia onde separatistas e forças russas dominam parte do Leste no primeiro país e duas regiões no segundo. Isto sem esquecer a anexação da Crimeia em março de 2014.
Para fazer a estas ameaças, os ministros dos 28 Estados membros da Aliança vão discutir hoje e amanhã o reforço das capacidades militares na Europa de Leste. O objetivo é o de travar qualquer cenário de uma invasão russa dos Estados Bálticos ou da Polónia, como Varsóvia tem mencionados repetidas vezes. Todavia, a NATO não aceitará o pedido polaco para a criação de bases permanentes neste país, como sucede com as existentes na Alemanha e em Itália, por exemplo.
Neste ponto, fontes da Aliança têm salientado que deve ser possível reforçar o dispositivo de defesa a Leste e no Báltico sem irritar o Kremlin com a presença de importantes forças permanentes. Isto para se manter fidelidade à letra de um acordo assinado com Moscovo em 1997, em que a NATO se comprometia em não ter uma presença militar significativa em países da NATO com fronteira com a Rússia.
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Assim, o reforço do dispositivo da Aliança nas áreas mais sensíveis irá passar pela presença de forças, mas em sistema de rotação, frequentes exercícios militares e a já definida anteriormente colocação de material de combate no Báltico e na Polónia, Bulgária e Roménia, pelo menos. Equipamentos suficientes para armar uma força de 40 mil efetivos, segundo o projeto inicial conhecido no verão passado.
Os EUA vão aumentar o nível da sua despesa militar na Europa, prevendo-se para 2017 3,4 mil milhões de dólares (3 mil milhões de euros), um aspeto fundamental, sublinham as agências, para a materialização do reforço.
Mas nem tudo são aspetos militares. A Aliança considera retomar o diálogo com Moscovo no quadro do Conselho NATO-Rússia, interrompido desde a anexação da Crimeia em 2014.