Morte de George Floyd. Polícia lança gás lacrimogéneo em frente à Casa Branca

Sinais de trânsito arrancados, barreiras de plástico e até uma bandeira dos EUA foram usadas como combustível para atear fogos em frente à residência do presidente norte-americano. Mais de quatro mil pessoas foram detidas nos Estados Unidos nos protestos contra a morte do afro-americano George Floyd.
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A polícia norte-americana disparou gás lacrimogéneo em frente à Casa Branca, no domingo, para dispersar manifestantes que protestavam contra a morte do afro-americano George Floyd, na segunda-feira passada, durante uma detenção violenta.

Cerca de mil manifestantes concentraram-se em frente à residência do presidente dos Estados Unidos, gritando palavras de ordem e ateando fogos, numa altura em que Washington regista confrontos violentos noutras partes da cidade.

O incidente deu-se uma hora antes de o recolher obrigatório decretado pelas autoridades, a partir das 23:00 de domingo (04:00 desta segunda-feira em Lisboa).

Sinais de trânsito arrancados, barreiras de plástico e até uma bandeira dos Estado Unidos foram usados como combustível para atear fogos no parque em frente à Casa Branca, enquanto a Norte da cidade se registaram pilhagens de várias lojas e um cinema.

A 'mayor' [autarca] de Washington decretou o recolher obrigatório e ativou a Guarda Nacional para evitar novos distúrbios, após uma noite de pilhagens e incêndios na capital dos EUA em protestos contra a violência policial.

Numa mensagem publicada este domingo na rede social Twitter, Muriel Bowser informou que o recolher obrigatório entrará em vigor em Washington, Distrito de Columbia até as 06:00 (11:00 de Lisboa).

A autarca também ativou a Guarda Nacional do Distrito de Columbia para apoiar a Polícia Metropolitana no controlo dos protestos que ocorreram nos últimos dias e que levaram a pilhagens, vandalismo e incêndios.

Trump foi levado na sexta-feira para "bunker" na Casa Branca

Os protestos em frente à Casa Branca vão no terceiro dia consecutivo e já tinham levado o presidente, Donald Trump, a recolher ao 'bunker' da residência na sexta-feira, segundo a agência de notícias Associated Press (AP).

De acordo com a AP, que cita fontes próximas da Casa Branca e do Partido Republicano, agentes dos Serviços Secretos terão levado Donald Trump para o abrigo subterrâneo, quando manifestantes atiraram pedras e tentaram forçar barreiras policiais. Desde então, a segurança foi reforçada pela Guarda Nacional e mais agentes dos Serviços Secretos.

No domingo, o Departamento de Justiça também destacou membros dos 'marshals' [uma unidade de polícia federal dos EUA] e agentes da Agência de Combate à Droga para reforçar as tropas da guarda nacional no perímetro em torno da Casa Branca, de acordo com a AP.

A decisão de proteger o Presidente no abrigo subterrâneo de alta segurança marca um dos alertas mais importantes na Casa Branca desde os ataques de 11 de setembro, segundo a AP.

Mais de quatro mil detidos nos protestos

Pelo menos 4.100 pessoas foram detidas nos protestos dos EUA que se seguiram à morte do afro-americano George Floyd, na segunda-feira passada.

As detenções foram feitas durante as pilhagens e no decorrer de bloqueios nas estradas, bem como pelo incumprimento do recolher obrigatório imposto em várias cidades norte-americanas.

Os números da prisão incluem os das manifestações em Nova Nova Iorque e Filadélfia na costa leste, Chicago e Dallas no centro-oeste e sudoeste, bem como em Los Angeles na costa oeste.

A filha do autarca de Nova Iorque, Bill de Blasio, está entre os detidos de sábado à noite na parte baixa de Manhattan, quando participava numa manifestação.

Segundo a polícia, Chiara de Blasio participou numa "manifestação ilegal" e a detenção ocorreu uma hora antes de o seu pai dizer aos manifestantes que era "hora de irem para casa" para se evitarem confrontos.

Manifestantes em Denver desafiam recolher obrigatório

Também em Denver, a polícia disparou gás lacrimogéneo e projéteis contra manifestantes que desafiavam o recolher obrigatório no domingo, num dia marcado por uma marcha pacífica de protesto pela morte do afro-americano George Floyd.

Alguns dos manifestantes lançaram fogo-de-artifício, insultaram a polícia e empurraram caixotes do lixo para uma artéria principal, em confrontos esporádicos que ocorreram a leste do centro da cidade.

A manifestação para denunciar a morte de George Floyd às mãos da polícia aconteceu após protestos violentos que levaram à detenção de 83 pessoas no sábado à noite, quando empresas foram vandalizadas.

O autarca de Denver, Michael Hancock, classificou o comportamento dos manifestantes de "imprudente, indesculpável e inaceitável".

No estado norte-americano da Florida, o governador, Ron DeSantis, ativou 400 membros da Guarda Nacional face à violência dos protestos contra a violência policial desencadeada pelo caso do afro-americano George Floyd.

Já a 'mayor' de Atlanta prorrogou o recolher obrigatório por mais uma noite, com a ajuda da Guarda Nacional, enquanto o governador da Geórgia ativou o destacamento de três mil soldados para cidades de todo o estado.

Confrontos no Canadá

Milhares de pessoas desfilaram no domingo em Montreal, Canadá, para denunciar o racismo e a violência policial nos EUA. Protestos que terminaram em confrontos no centro da cidade.

Durante mais de três horas, cerca de dez mil pessoas percorreram o centro da cidade em manifestações pacíficas, em solidariedade com os protestos nos Estados Unidos contra a morte de George Floyd.

Os confrontos com a polícia começaram pouco depois da ordem de dispersar, ao final da noite, quando um grupo de manifestantes lançou projéteis contra as forças da ordem, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). A polícia respondeu com gás lacrimogéneo.

Os manifestantes também partiram montras e pilharam lojas. Em Montreal, os estabelecimentos comerciais reabriram no início da semana passada, após o encerramento decretado para lutar contra a pandemia de covid-19.

A maior parte dos manifestantes desfilou com máscaras de proteção, exibindo cartazes em inglês com frases como "Black lives matter" ("As vidas dos negros contam") ou "I can't breathe" ("não consigo respirar", em alusão às últimas palavras de George Floyd).

A polícia de Montreal tinha declarado o apoio à manifestação para denunciar as circunstâncias de morte do afro-americano, que "contrariam os valores" daquela força de segurança, afirmaram na rede social Twitter.

"Respeitamos os direitos e a necessidade de cada um denunciar alto e forte esta violência e estaremos ao vosso lado para garantir a vossa segurança", escreveu a Polícia de Montreal, numa mensagem dirigida aos manifestantes.

Em Vancouver, milhares de pessoas também se manifestaram no domingo, depois de na véspera Toronto ter sido palco de uma manifestação sem incidentes.

Lewis Hamilton e Michael Jordan condenam racismo

O seis vezes campeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton denunciou o silêncio das "maiores estrelas" do mundo da Fórmula 1, "dominada por brancos", após a morte de George Floyd às mãos da polícia norte-americana.

"Alguns de vocês estão entre as maiores estrelas e ainda assim permanecem calados diante da injustiça", escreveu o condutor da Mercedes na rede social Instagram.

"Ninguém mexe um simples dedo no meu setor, que é verdadeiramente um desporto dominado por brancos. Eu sou uma das únicas pessoas de cor lá, ainda estou sozinho", acrescentou o piloto britânico de 35 anos.

Já a ex-estrela de basquetebol da NBA Michael Jordan juntou-se a atletas de todo o mundo que lamentaram a morte do afro-americano.

Michael Jordan denunciou o "racismo enraizado" nos Estados Unidos, sublinhando estar "profundamente entristecido, a sofrer genuinamente", dizendo-se "ao lado daqueles que se manifestam contra o racismo e a violência contra pessoas de cor no país".

"Devemos procurar expressar-nos pacificamente contra a injustiça e exigir o reconhecimento de responsabilidades", afirmou.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu na noite de segunda-feira em Minneapolis, após uma intervenção policial violenta, cujas imagens foram divulgadas através da internet.

Floyd foi detido por suspeita de ter tentado pagar com uma nota falsa de 20 dólares num supermercado. Num vídeo filmado por transeuntes e divulgado nas redes sociais, é possível ver um dos agentes pressionar o pescoço da Floyd com o joelho durante vários minutos.

Desde então, várias cidades norte-americanas, incluindo Washington e Nova Iorque, têm sido palco de manifestações, com os protestos a resultarem frequentemente em confrontos com a polícia.

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