Merkel abre a porta a Timmermans para presidente da Comissão Europeia

Chanceler alemã terá aceitado o holandês de centro-esquerda na Comissão, conseguindo, assim, dar uma nova vida à candidatura de Jens Weidmann para a presidência do BCE. Weber, o grande derrotado da história, deverá ser compensado com presidência do Parlamento Europeu. Helle Thorning-Schmidt é um dos nomes de que se fala também e que poderá ocupar um dos outros cargos que ainda falta preencher
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A confirmarem-se as notícias este sábado avançadas pela agência Bloomberg e o jornal Die Welt, esta é a segunda vez em poucos meses que Emmanuel Macron leva a melhor sobre Angela Merkel. A primeira foi a 12 de abril, quando o presidente francês limitou a 31 de outubro a data máxima para o adiamento do Brexit e rejeitou a data de março de 2020. A segunda poderá ser este domingo, na cimeira extraordinária pós-G20, em Bruxelas, quando o presidente francês conseguir impor o candidato dos socialistas Frans Timmermans para o lugar de Jean-Claude Juncker na presidência da Comissão Europeia.

À margem da cimeira do G20, em Osaka, no Japão, Merkel fez declarações que excluem da corrida à sucessão de Juncker a candidata dos liberais, a dinamarquesa Margrethe Vestager, atual comissária europeia da Concorrência. Sem citar nomes em concreto, referiu a agência Bloomberg, falou no alemão de centro-direita e no holandês de centro-esquerda. O primeiro é o candidato do Partido Popular Europeu Manfred Weber e o segundo o dos Socialistas e Democratas Frans Timmermans. "Ambos os Spitzenkandidaten, a quem eu chamo os verdadeiros Spitzenkandidaten, estão na corrida e ajudaram ambos a garantir que o processo do Spitzenkandidaten vai continuar a existir no futuro. Estamos no caminho para uma possível solução amanhã", declarou a chanceler, citada por Arne Delfs, jornalista daquela agência noticiosa.

De acordo com a mesma fonte, Macron, tal como já tinha feito antes, descartou Weber, alemão bávaro da CSU. "Terão que esperar por domingo, mas posso dizer que as coisas estão a avançar", afirmou, quando questionado sobre o que dissera Merkel à margem da cimeira do G20 naquela cidade japonesa. Fontes citadas pelo jornal alemão Die Welt indicaram que Merkel terá aceitado deixar cair Weber como presidente da Comissão Europeia, uma vez que o alemão era amplamente contestado, nomeadamente pela sua falta de currículo político, nunca tendo sido ministro ou primeiro-ministro sequer.

O alemão bávaro deverá agora ser eleito presidente do Parlamento Europeu. A votação para a eleição do novo líder dos eurodeputados esteve inicialmente marcada para terça-feira, 2 de julho, mas passou para quarta-feira, dia 3 de julho. Esta acontecerá em Estrasburgo, na sessão constitutiva do novo hemiciclo, altamente fragmentado devido à perda de influência nas eleições europeias tanto do Partido Popular Europeu como dos Socialistas e Democratas. Uma solução Timmermans na Comissão e Weber na eurocâmara seria aceitável para os Verdes, diz a Bloomberg, citando o vice-presidente dos Verdes no Parlamento Europeu Reinhard Buetikofer.

Timmermans, de 58 anos, era o candidato favorito do primeiro-ministro português António Costa, que ainda antes das europeias se aliou a Macron para formar uma frente de progressistas europeus para reclamar mais poder na UE. Ex-ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, vice-presidente da Comissão de Juncker, Timmermans é um rei do soundbyte. "Há pessoas do meu partido e de outros que estão aqui que vão votar em nacionalistas. A culpa é nossa. Parece que não convencemos os nossos cidadãos o suficiente. Há divisões. Olhe-se para este dossiê do Brexit. Hoje em dia o Reino Unido parece a Guerra dos Tronos sob o efeito de esteroides", afirmou, exaltado, no debate dos Spitzenkandidaten em maio.

Nessa ocasião, Timmermans trocou farpas com Weber, por causa de Portugal. "Em Portugal, no Porto, onde existe salário mínimo, estive com estudantes, eles pediram empregos e salários bem pagos", declarou o alemão, candidato do PPE. "Quando eu estive em Portugal o que me lembro é de quando Weber disse que era preciso punir Portugal", realçou, por seu lado, Timmermans.

Weber retorquiu lembrando que entre os responsáveis pela gestão da crise financeira estão o socialista Pierre Moscovici, o trabalhista Jeroen Dijsselbloem e agora o atual ministro das Finanças português, Mário Centeno, que preside ao Eurogrupo. Timmermans, holandês tal como Dijsselbloem, ressalvou: "Moscovici e Juncker aprovaram os planos [dos portugueses], olharam para eles, disseram que estavam Ok. Mas Weber continuou a dizer que não, não podia ser, era preciso castigá-los. A justiça é maior e há mais emprego em Portugal porque eles puseram um ponto final à austeridade".

Um acordo sobre a presidência da Comissão poderá desbloquear outro acordo sobre a presidência do BCE. É sabido que Merkel queria Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, como sucessor do italiano Mario Draghi em Frankfurt. Porém, a Itália de Matteo Salvini, o polémico ministro do Interior e líder do partido de extrema-direita Liga, recusa o alemão, temendo que as políticas rígidas de disciplina orçamental da Zona Euro, que já contesta, se tornem ainda mais rígidas.

Se ficarem atribuídas a presidência da Comissão a Timmermans e do Parlamento a Weber, além do BCE há ainda para dividir a presidência do Conselho Europeu e o cargo de Alto Representante da Política Externa para a UE. Aí poderá entrar então em jogo um nome saído do campo liberal-centrista-progressista de Emmanuel Macron. Apesar de Vestager ser a candidata oficial dos liberais a Spitzenkandidaten, fala-se de um outro nome, também feminino e dinamarquês: Helle Thorning-Schmidt.

A primeira mulher primeira-ministra da Dinamarca, de 52 anos, esteve esta semana em Lisboa e falou ao DN. Acabada de sair da administração da ONG Save The Children, questionada sobre se ambiciona um cargo europeu, Thorning-Schmidt disse: "Sou europeia, fui uma primeira-ministra europeia e considero-me não só qualificada, porque trabalhos em instituições europeias há duas décadas, mas também porque acredito que nenhum dos problemas se resolve sem mais integração europeia. Seja as alterações climáticas, seja as questões se segurança e de cibersegurança, seja regular as empresas tecnológicas, todas estas questões só se podem enfrentar se trabalharmos juntos na União Europeia. Acredito nisso com toda a convicção e, claro, cumprirei sempre o meu dever como europeia para avançarmos", afirmou na entrevista, publicada este sábado na versão em papel do DN.

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