Três médicos belgas começaram esta terça-feira a ser julgados por terem ajudado uma mulher de 38 anos a cometer eutanásia. Os clínicos são acusados de envenenamento, um crime cuja condenação pode ser a prisão perpétua. Foi a primeira investigação criminal relacionada com uma prática que foi legalizada na Bélgica em 2002 e é também a primeira vez que médicos se sentam no banco dos réus devido a um caso de morte assistida. .Tine Nys foi eutanasiada a 27 de abril de 2010, mas o Ministério Público belga diz que o seu caso não preenchia as condições legais para ser considerado um candidato a eutanásia. Nyz recebeu um diagnóstico de síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo, dois meses antes de morrer..Um dos médicos a sentar-se no banco dos réus é o clínico que administrou a injeção letal, e que era psiquiatra de Tine Nys. Os pais e as duas irmãs da mulher, que assistiram ao momento da sua morte, queixaram-se de que a eutanásia foi realizada de maneira amadora e que Nys não tinha um distúrbio mental incurável, uma condição essencial para ser admitida a hipótese legal de eutanásia..O julgamento, que acontece na cidade de Ghent, no norte do país, tem início esta tarde, mas prevê-se que vá demorar algum tempo, tendo em conta a complexidade do caso, de acordo com o jornal The Guardian.."Temos de tentar impedir estas pessoas", escreveu Lieve Thienpont, o médico e psiquiatra que aprovou o pedido da morte de Nys. "É uma família seriamente disfuncional, ferida e traumatizada, com muito pouca empatia e respeito pelos outros", disser o médico quando soube das queixas da família..Sophie Nys, uma das irmãs de Tine, disse que o médico que realizou a eutanásia pediu aos pais para segurarem a agulha enquanto administrava a injeção fatal. Depois, segundo a versão da família, citada pela Associated Press, o mesmo médico pediu aos familiares que usassem um estetoscópio para confirmar que o coração de Tine tinha parado..Muitos especialistas têm contestado se o autismo deve ser considerado uma razão válida para se ser candidato à eutanásia..Eutanásia concedida a crianças com cancro terminal desde 2014.Além do caso de Nyz, surge a dúvida se o médico Lieve Thienpont, psiquiatra de Nys, aprovou com facilidade pedidos de eutanásia de pacientes com doenças mentais. A Associated Press publicou, quando noticiou o caso de Nys, documentos que revelavam uma falta de acordo entre Thienpont e o Wim Distelmans, responsável pela comissão de revisão da eutanásia na Bélgica..Distelmans expressou o receio de que Thienpont e outros médicos não tenham cumprido certos requisitos legais em alguns casos de eutanásia - e disse que não iria aceitar mais pacientes encaminhados por Thienpont.."Acho que esse [julgamento] tem importância simbólica no sentido de que envia uma mensagem aos médicos ... a de que podem ser acusados de um crime muito grave e processados se não cumprirem os requisitos legais para a eutanásia", afirmou Penney Lewis, professor de Direito no King's College London. "A hipótese de uma investigação criminal pode atuar como um mecanismo para tornar os médicos mais cuidadosos", acrescentou..A lei belga permite que os cidadãos adultos recorram à eutanásia se estiverem em sofrimento físico ou mental insuportável que resulte de uma doença grave e incurável. Em 2014, o mesmo direito foi estendido a crianças em estado terminal..A maioria dos pacientes que escolhe a morte medicamente assistida sofre de cancro em estado terminal, mas o sofrimento mental já foi invocado por exemplo, no caso de dois gémeos que nasceram surdos e ficaram cegos e que alegaram serem incapazes de suportar não verem ou ouvirem o irmãos..Na Holanda, onde a eutanásia também é legal desde 2002, um médico foi absolvido em setembro, depois de ser acusado de não ter obtido o consentimento adequado de uma mulher que sofria da doença de Alzheimer. O Ministério Público recorreu da sentença para o Supremo Tribunal de Justiça, mas ainda não há uma decisão tomada.