Mais de 100 mil em comício independentista catalão na fronteira de Espanha

A cidade fronteiriça francesa de Perpignan foi palco este sábado de um comício independentista. A polícia fala em 110 mil pessoas, os organizadores de 250 mil. Carlos Puigdemont, que festejou o seu regresso a "terras catalãs", discursou 10 minutos e prometeu nunca desistir.
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O discurso não durou sequer 10 minutos. Ante as mais de 100 mil pessoas que o ouviam na cidade fronteiriça francesa de Perpignan e o aclamaram como "presidente", Carles Puigdemont não deu mais novidades que de estar, pela primeira vez desde 2017, quando fugiu de Espanha após o referendo para a independência da Catalunha, ao lado da fronteira do país.

Assegurou que o caminho para a independência "será longo e difícil" e comparou-se com os exilados catalães de 1936, nomeadamente com Antoni Rovira i Virgili, que, fugido após a guerra civil e o triunfo da ditadura de Francisco Franco, foi presidente do parlamento da Catalunha no exílio e morreu em Perpignan.

"A independência nunca foi um objetivo fácil. Nunca o prometemos. Temos gravada na pele a repressão de décadas. Estamos aqui de pé, não de joelhos", disse, apelando à mobilização permanente. "Uma república catalã independente é a única garantia de pôr fim a um regime monárquico filho da ditadura e que é alérgico à Catalunha. Este é o caminho. O Estado espanhol só ouve a voz de um povo mobilizado. A república tem de ser construída por todos. Nunca desistiremos. Já não pararemos nem nos pararão. Não temos de esperar tempos melhores. Os tempos melhores são estes."

No seu curto discurso, Puigdemont teve ainda tempo para defender Julian Assange, apelando a que não seja extraditado para os EUA: "É uma vergonha! Fez muito pela Catalunha! E é um exemplo de liberdade de expressão."

O jornal espanhol El Confidencial frisou que em nenhum momento o ex presidente da Catalunha e atual eurodeputado que, recorde-se, fugiu do território em outubro de 2017, após o referendo à independência ali organizado ser considerado tentativa de sedição pela justiça espanhola e os seus responsáveis, entre os quais se conta, acusados desse crime, pronunciou a palavra diálogo. Isto apesar de um dos oradores ser o atual presidente do governo da região autónoma Quim Torra, que disse estar emocionado por poder dar "as boas-vindas a casa" a Puigdemont.

"Autoridades francesas não apoiam em nada esta reunião"

Na sexta-feira, o foragido à justiça espanhola a quem o mandato de eurodeputado garante imunidade tinha num tuite festejado, em catalão, o regresso: "Entrámos na Catalunha. Muito emocionados por voltar a pisar a terra catalã como pessoas livres, depois de mais de dois anos e três meses no exílio."

O encontro independentista, apoiado pelos líderes políticos da chamada Catalunha do Norte (a francesa), que está em plena campanha eleitoral (há eleições autárquicas a 15 de março), criou mal-estar em Paris. "As autoridades francesas não apoiam em nada esta reunião", disse uma fonte do Eliseu citada pelo El País.

A resposta do governo francês, ainda na sexta-feira, contrasta com a tomada de posição de Romain Grau, candidato à presidência da câmara de Perpignan pelo partido do presidente Emmanuel Mácron, La République en marche, a favor da presença de Puigdemont. "Por ser a favor das liberdades públicas, das quais a primeira é a liberdade de expressão e de reunião, sou favorável à reunião que vai ter lugar. Puigdemont é meu amigo, ficarei feliz de me reencontrar com ele", escreveu Grau no Twitter a 16 de fevereiro.

A simpatia para com Puigdemont parece aliás atravessar as fronteira políticas: o atual presidente da Câmara de Perpignan, Jean-Marc Pujol, dos Republicanos (partido de direita conservadora) e candidato nas eleições de março, recebeu Puigdemont e de Quim Torra esta sexta-feira, assim como a socialista Hermeline Malherbe, presidente do Conselho Geral do Departamento dos Pirinéus Orientais.

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