Macron e Netanyahu recordam detenção em massa de judeus
O presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu assistiram este domingo às comemorações do 75.º aniversário da detenção em massa, seguida da deportação para campos de morte nazis, de mais de 13 mil judeus em julho de 1942.
Nos dias 16 e 17 daquele mês, 13 152 judeus, dos quais cerca três mil crianças, foram detidos pelo governo colaboracionista de Vichy, sob ordens das autoridades nazis, e levados para o Vélodrome de Hiver (Velódromo de Inverno), nas imediações da Torre Eiffel, onde permaneceram quatro dias antes de serem enviados para Auschwitz, na sua grande maioria. Episódio dos mais negros, e ainda hoje controverso, da história francesa do século XX, ficou conhecido como Vel d"Hiv, abreviatura dos vocábulos "vélodrome" e "hiver". Dos milhares deportados, sobreviveu menos de uma centena, referiu a AFP. O velódromo foi demolido em 1959.
Quanto ao caráter controverso dos acontecimentos, alguns setores da sociedade francesa, entre os quais a extrema-direita da Frente Nacional, consideram que a responsabilidade destes não pode ser atribuída à França e aos franceses. Uma ideia claramente rebatida por Emmanuel Macron na intervenção proferida nas cerimónias, em que reiterou a responsabilidade de França e do governo da época. Por outro lado, a presença do primeiro-ministro israelita provocou alguma consternação e irritação entre a comunidade judaica, acusando-o de estar a "instrumentalizar" um acontecimento estritamente francês. Um antigo embaixador israelita em França, Elie Barnavi, afirmou à BBC que "esta história nada tem a ver com Israel", mas a principal organização judaica em França esteve presente nas cerimónias. Na sua intervenção, Netanyahu declarou que estava em Paris apenas "para homenagear as vítimas".
Foi a primeira vez que um chefe de governo de Israel assistiu às cerimónias do Vel d"Hiv, tendo na ocasião Macron pronunciado um discurso em que classificou o anti-sionismo "como uma nova forma de antissemitismo". O convite foi considerado por Netanyahu, expressando-se em francês na ocasião, como "um gesto muito, muito forte".
A seguir às cerimónias, os dirigentes estiveram reunidos durante mais de uma hora do Eliseu, tendo seguidamente realizado uma conferência de imprensa conjunta, em que evidenciaram uma quase total sintonia de posições. Se Macron prometeu mostrar-se "vigilante" na questão do nuclear iraniano - a França é um dos signatários do acordo de 2015 - e com a influência do Hezbollah no Líbano, não deixou de condenar os colonatos israelitas nos territórios palestinianos.
[artigo:5695170]