Lixo ou tesouros submersos? Paris volta a dragar o canal Saint-Martin

Cerca de 90 mil metros cúbicos de água são retirados e despejados no rio Sena. A descoberto, antes submersos, ficam verdadeiros achados

Os trabalhos começaram na segunda-feira e devem prolongar-se durante os próximos três meses: são 90 mil metros cúbicos de água para retirar do canal Saint-Martin, em Paris, e despejar no rio Sena, numa operação de limpeza que deverá custar cerca de 9,5 milhões de euros ao município.

A cada 10 ou 15 anos, o canal que ficou concluído em 1825 - mas foi iniciado ainda sob as ordens de Napoleão - é dragado e limpo. Os peixes são retirados antes de ser esvaziado, mas no fundo descobrem-se os "tesouros" da vida secreta de Paris, que ali são abandonados por quem passa.

Hoje, o canal Saint-Martin fica numa das zonas favoritas dos chamados "Bobos" de Paris, os boémios burgueses, jovens com poder de compra que vivem na capital e gostam de conviver nas margens de Saint-Martin ao final do dia. Faz parte do cenário pitoresco da capital francesa, lugar de festa e encontro mas também de tranquilidade e passeio dos residentes.

Segundo o The Guardian, a última vez que o canal foi dragado, em 2001, foram retiradas cerca de 40 toneladas de lixo, incluindo projéteis da primeira Guerra Mundial, cofres, moedas de ouro, pelo menos um automóvel. Numa limpeza anterior, 56 carros foram retirados, depois de mais de uma década debaixo de água.

Desta vez, uma arma já foi recuperada, mas o inventário total levará semanas até estar concluído. Das pontes que atravessam o canal, residentes e turistas não resistem a espreitar para os despojos que vão surgindo, uma vez esvaziado o espaço entre as margens: vespas, bicicletas, carrinhos de supermercado, guarda-chuvas, sinais de trânsito, garrafas de vinho, máquinas fotográficas antigas.

"É uma espécie de tesouro submarino bizarro", disse ao Guardian um residente em Paris. A autarquia parisiense está a usar a limpeza como exercício de sensibilização para os cidadãos, pedindo-lhes que não atirem lixo para os canais. Ao mesmo tempo, as forças da autoridade têm procurado impedir as pessoas de descer ao canal para se apropriarem dos objetos perdidos e enterrados na lama, vestígios de um tempo que passou ou, quem sabe, preciosidades à espera de serem reutilizadas para uma nova vida.

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