Keiko quer afastar a sombra do apelido Fujimori e chegar à presidência
Há 16 anos, depois de o pai ter aproveitado uma viagem ao Japão para renunciar por fax à presidência peruana, Keiko Fujimori deixou o palácio do governo pela porta das traseiras. Agora, quer voltar a entrar pela porta principal. A filha mais velha de Alberto Fujimori, que está preso por corrupção e violação dos direitos humanos, é a favorita à vitória nas presidenciais de abril, cinco anos depois de ter perdido a segunda volta para Ollanta Humala.
"Agradecemos o apoio do povo à Força Popular. Isto leva-nos a continuar a trabalhar, a continuar a viajar, a continuar a ouvir. Mas, sobretudo, a falar às pessoas com verdade. O povo peruano está cansado de tantas promessas, de tantas mentiras. Queremos recuperar a confiança do povo", indicou Keiko aos jornalistas, quando foram conhecidas as últimas sondagens.
No início da campanha para as presidenciais de abril, a ex-congressista surge com 32,1% das intenções de voto numa sondagem CPI, mais do dobro do milionário César Acuña (15,2%) mas em ligeira queda em relação a dezembro, quando chegava aos 33,2%. O ex-primeiro--ministro Pedro Pablo Kuczynski surge em terceiro lugar (13,1%), seguido do antigo presidente Alan García (7,2%). Atualmente, a Força Popular (direita populista) é o partido com mais deputados no Congresso.
O apelido Fujimori não é consensual no Peru. Se por um lado significa estabilidade económica e a derrota da guerrilha do Sendero Luminoso, por outro é sinónimo de cor- rupção e de violações dos direitos humanos por parte das forças de segurança e paramilitares. É esta segunda sombra que Keiko tem de afastar. Há cinco anos, quando passou à segunda volta das presidenciais, a filha de Fujimori pediu desculpas pelos excessos cometidos na década em que o pai esteve à frente dos destinos do país (1990-2000). "No meu governo, vamos assegurar-nos de que este tipo de excessos nunca mais volte a ocorrer."
Uma coisa é certa: Keiko já repetiu em várias ocasiões que se for eleita não irá indultar o pai, que está preso (ver caixa), mas continuará a lutar na justiça pela sua libertação. E faz questão de lembrar que nem sempre esteve ao seu lado: em 1998, por exemplo, assinou o referendo, promovido pela oposição, contra a terceira reeleição de Fujimori. E também terá pedido ao pai para não renunciar e regressar ao Peru. O ex-presidente aproveitou uma viagem ao Brunei (por ocasião de uma cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico) para ir até ao Japão (Fujimori também tem nacionalidade japonesa) e apresentar a demissão.
Primeira-dama aos 19 anos
Keiko Sofía Fujimori Higuchi nasceu a 25 de maio de 1975, em Lima, sendo a mais velha dos quatro filhos de Alberto Fujimori - então um engenheiro agrónomo que dava aulas na Universidade Nacional Agrária - e Susana Higuchi (que viria a ser eleita congressista em 2010). Ambos são filhos de imigrantes japoneses, tendo nascido já no Peru.
Keiko tinha 19 anos quando, em 1994, os pais se divorciam, assumindo o papel de primeira-dama - a mais jovem do continente americano. Nessa altura, conciliava os estudos na Universidade de Boston com a presidência da Fundação pelas Crianças e a Fundação Peruana Cardioinfantil, que fundou para operar crianças com cardiopatias congénitas, surgindo ao lado do pai nas grandes cimeiras regionais.
Assumir o papel de primeira--dama marcou o início da sua carreira política, usando o cargo como plataforma para se converter numa das figuras políticas mais populares do país - apesar da polémica de ter mandado pintar o interior do palácio de governo de cor-de-rosa. Mesmo depois da queda em desgraça do pai, pelo qual continuou a lutar no Peru. Em 2006 já era a líder incontestada do fujimorismo, tendo sido a congressista mais votada nas eleições de abril. Uma das propostas de lei que apresentou foi a instauração da pena de morte para violadores de menores de idade que matem as suas vítimas.
Polémicas em nome próprio
Mas a própria Keiko não está livre de polémicas. Desde logo por causa da forma como foram financiados os seus estudos nos EUA. A filha de Fujimori disse que o pai lhe dava dinheiro em efetivo, proveniente da venda de imóveis, mas muitos recordam que o ex-presidente foi obrigado a demitir-se no meio de um escândalo de corrupção. Keiko chegou a ser alvo de uma investigação formal, tendo sido absolvida.
Mas as críticas não se ficam por aí. Depois de ter sido eleita congressista em 2006, Keiko esteve ausente durante longos períodos de tempo - primeiro para concluir os estudos nos EUA, onde completou um MBA na Universidade de Columbia - e, desde o fim de 2010, para se concentrar na campanha para as presidenciais de 2011. Pelo meio gozou ainda a licença de maternidade.
Keiko casou-se em 2005 com o norte-americano de origem italiana Mark Vito Villanella, que conhecera na universidade. O casal tem duas filhas: Kyara Sofia (de 8 anos) e Kaori Marcela (de 6 anos). Numa entrevista em 2011, a mãe de Keiko disse que a filha era uma pessoa "capaz e responsável" mas, questionada sobre qual seria o pior defeito dela, não teve dúvidas: "Quando Keiko se chateia, é melhor fugir."