Vitória de Le Pen ao lado de Jordan Bardella - o rebranding da Frente Nacional

Primeiras sondagens dão a vitória ao Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen nas europeias com 23% dos votos, confirmando a ascensão meteórica do seu cabeça de lista, Jordan Bardella, de 23 anos.

Faz parte do rebranding da Frente Nacional pós-presidenciais de 2017. A ressaca eleitoral ditou uma queda na militância e a desistência de alguns rostos mediáticos, como a mais nova membro do clã Le Pen, Marion Maréchal. Em pouco tempo os nacionalistas franceses mudaram de nome para Rassemblement National (RN) e fizeram ajustes na comunicação. O primeiro a cair foi Florian Philippot, o poderoso vice-presidente com o pelouro da estratégia, hoje presidente dos Patriotas. O primeiro a escalar foi Jordan Bardella, elevado ao núcleo duro no congresso de 2018, com apenas 22 anos. Filho de imigrantes italianos, torna-se imediatamente porta-voz do RN, acumulando com a liderança da juventude partidária. Seis anos depois de ter entrado na Frente Nacional, na estrutura local de Saint-Denis, arredores de Paris, Bardella é hoje cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu.

Nascido em Drancy, na região de Paris, largou os estudos no terceiro ano do curso de Geografia na Sorbonne. Dedicou-se desde aí à política, sendo mais um precoce a engrossar o mundo monocromático dos políticos profissionais. Passou brevemente pela assessoria no Parlamento Europeu, mas a política nacional tinha um facho mais ardente. Apadrinhado pelo ex-tesoureiro da Frente Nacional, Wallerand de Saint-Just, conhecido por expressar a sua gratidão pública aos generosos financiamentos do Kremlin, Bardella foi candidato nas legislativas de 2017, sem sucesso. Marine Le Pen pegou nele imediatamente, deu-lhe protagonismo interno e encaixou-o na sua estratégia de ataque ao Eliseu: que melhor maneira de aproximar os eleitores mais novos, sobretudo os que estão nos subúrbios das grandes cidades, do que dar palco a alguém com raízes ali? Nem por acaso, era esse o tema a que se vinha dedicando Bardella nas várias etapas da ascensão no partido. Além disso, sabemos que 23% dos jovens entre os 18 e os 24 anos dizem ser eleitores da Frente Nacional, o que mostra a relevância clubística e o potencial geracional.

No primeiro debate televisivo desta campanha, foi pedido a cada um dos 12 cabeças-de-lista candidatos ao Parlamento Europeu que trouxessem um objeto que simbolizasse a Europa. Da Ilíada a um bocado do Muro de Berlim, foram vários os exemplos enquadrados com o desafio. Todos menos um. A escolha de Bardella, com imberbe face em traje de executivo, recaiu numa peneira de plástico usada na cozinha como retrato de uma Europa permissiva ao crime, ao terrorismo e, claro, aos imigrantes. "Esta União não nos protege", rematou o raciocínio. O discurso do medo não é propriamente uma inovação nesta nova vida do partido de Le Pen, mas faz a ponte com outros eleitores potenciais mais conectados com Jordan Bardella. Se juntarmos ao medo a campanha silenciosa que o tem feito percorrer vilas onde mais ninguém parece querer ir, pode ligar esse catastrofismo imaginário com a ideia de desistência do sistema em relação a várias camadas da sociedade. Foi esta receita de dupla desproteção que conduziu Trump e os brexiteers ao sucesso. O culpado, no caso francês, é o cosmopolita Emmanuel Macron, qual besta negra impregnada de vícios, ainda por cima com um discurso sobre a UE que permite aos nacionalistas estar no lado oposto e esperar, comodamente, por expectativas defraudadas.

Com Macron a apresentar-se como a antítese de Matteo Salvini (um erro básico na equiparação de estatutos), não surpreende que Le Pen tenha pragmaticamente optado por dar a liderança ao italiano na frente pan-nacionalista que em breve marchará sobre os corredores de Estrasburgo. Na sua leitura, esta é a fórmula mágica para maximizar uma tenaz que hoje pode vencer as europeias (tal como em 2014) e amanhã atacar o Eliseu com outra consistência, mas sobretudo com outros meios. Se Roma já tem Salvini, porque não pode Paris ter Le Pen? Jordan Bardella é instrumental nesta estratégia. Mas pode bem ser a peça extra para fazer das presidenciais francesas de 2022 o que não foi conseguido em 2017: tomar o Eliseu para desmembrar a União. Europeístas de todo o continente, uni-vos.

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