Israel monitoriza telemóveis de possíveis infetados com coronavírus

Tecnologia desenvolvida para combater o terrorismo vai ser usada para tentar conter a pandemia. Medida foi aprovada esta terça-feira e já está a levantar questões quanto à privacidade das pessoas.
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Israel prepara-se para aplicar uma tecnologia desenvolvida para combater o terrorismo, que permite monitorizar os telemóveis dos cidadãos, para tentar conter a disseminação do coronavírus. A medida foi aprovada esta terça-feira pelo governo israelita, depois de o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ter levantado esta possibilidade no fim de semana, afirmando então que as autoridades utilizariam esta tecnologia para avisar as pessoas que estiveram em contacto com os casos positivos, ou possíveis infetados, e também para informar sobre as obrigações de quarentena.

Na segunda-feira, Netanyahu afirmou que esta medida de monitorização dos telemóveis estaria em vigor por 30 dias. "Israel é uma democracia e temos que manter o equilíbrio entre os direitos civis e a necessidade pública. Estes instrumentos vão ajudar-nos a localizar as pessoas doentes e impedir que o vírus se espalhe", referiu o primeiro-ministro israelita num discurso proferido segunda-feira, citado pelo jornal The Guardian.

Invocando a situação de emergência, o Governo aprovou a medida sem a levar ao Knesset, o parlamento israelita. A Associação para os Direitos Civis em Israel já veio dizer que dotar os serviços internos de segurança com estes novos poderes é "um precedente perigoso e um caminho escorregadio que deveria ser alvo de muita discussão e não assumido depois de um breve debate".

Israel não é o primeiro caso de um país a recorrer à cibermonitorização para detetar e vigiar os passos de infetados - ou suspeitos de infeção.

O caso mais evidente é a China, que tem recorrido largamente à tecnologia para tentar detetar possíveis casos de coronavírus e limitar a propagação. Também a Coreia do Sul tem recorrido a este instrumento, com um sistema de informação ao público que inclui o envio de mensagens por sms para as pessoas que residam perto de casos de infeção, rastreamento de deslocações através do uso do telemóvel ou de cartões bancários e publicação de informação pormenorizada sobre tudo isto, o que tem levantado críticas sobre a proteção da privacidade das pessoas e queixas de estigmatização de cidadãos que são identificados como estando infetados. Jornais e agências internacionais têm dado conta de que a informação divulgada, apesar de não citar nomes, é tão pormenorizada que permite identificar casos concretos e já levou, por exemplo, à identificação de casos extraconjugais.

Com 300 casos confirmados de Covid-19, o governo israelita já mandou fechar hotéis, comércio e cinemas. Na segunda-feira Netanyahu anunciou que a maior parte dos funcionários públicos estavam dispensados de comparecer no local de trabalho durante um mês, uma medida que também será estendida à maior parte do setor privado.

Quanto à aviação, quem entre em Israel nesta altura tem de passar duas semanas em quarentena.

Nesta altura, Israel vive também um período de indefinição política. Benny Gantz, líder da coligação Azul e Branca, foi convidado a formar governo, após ter conseguido o apoio da maioria de deputados do Knesset. As eleições de 2 de março último, as terceiras em menos de um ano no país, foram ganhas pelo Likud de Benjamin Netanyahu, mas a direita ficou a três deputados da maioria de 61 e Gantz recusou qualquer aliança com o ainda líder do Executivo.

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