Israel é trunfo para Trump a sete semanas das eleições

Presidente dos EUA disse que se está a mudar o curso da história com a assinatura de um acordo no qual Emirados e Bahrein reconhecem o estado de Israel.
Publicado a
Atualizado a

Israel assinou na Casa Branca acordos com Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein nos quais estes reconhecem de pleno direito Telavive. Um momento que ajuda a alterar a balança no Médio Oriente e com o qual o presidente Donald Trump espera lucrar, não só ao vender a imagem de "pacificador" mas também ao antever mais vendas militares, num momento em que faltam sete semanas para as eleições presidenciais.

"Estamos aqui hoje para mudar o curso da história", começou por dizer o presidente dos Estados Unidos", tendo afirmado que são os primeiros acordos de paz com Israel em 25 anos.

Os EAU e o Bahrein tornam-se no terceiro e quarto países árabes a estabelecerem relações plenas com Israel e a decisão de o fazer representa uma dinâmica de mudança na região, ao fortalecer a posição de Israel na região e a diminuir o poder do Irão e, em menor medida, da Turquia.

Trump, que não teve participação direta nas negociações, organizou uma cerimónia durante a qual o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, estabeleceu formalmente relações diplomáticas com os dois países árabes, os primeiros acordos do género desde os tratados de paz com o Egito e a Jordânia, em 1979 e 1994, respetivamente.

Do lado dos Emirados e do Bahrein estiveram presentes os ministros dos Negócios Estrangeiros Abdullah bin Zayed Al Nahyan e Abdullatif bin Rashid Al-Zayani, respetivamente.

Trump anunciou que no âmbito do Acordo de Abraão, os países árabes e Israel vão abrir embaixadas e começar a cooperar do turismo ao comércio, da saúde à segurança.

Trump também anunciou que este acordo abre a possibilidade de "muçulmanos de todo o mundo podem ir rezar pacificamente à mesquita Al-Aqsa", que se situa no Monte do Templo, na Jerusalém israelita.

"Durante gerações as pessoas do Médio Oriente têm sido prejudicadas por conflitos, hostilidades, mentiras, traições. Estes acordos provam que os países da região estão a libertar-se das falhadas abordagens do passado", continuou Trump, o qual acredita que outros "cinco ou seis" países se seguirão.

"Este dia é um marco da história, anuncia um novo amanhecer de paz", disse por sua vez o primeiro-ministro israelita, para logo de seguida agradecer a Donald Trump pelos feitos alcançados no Médio Oriente, da confrontação com Teerão ao acordo que hoje se assina.

Apesar do otimismo relativo ao Acordo de Abraão, ​​​​​​​surgiram divergências sobre as condições do acordo com os Emirados. Para os países do Golfo, Israel aceitou "terminar com a permanente anexação de territórios palestinianos". Netanyahu, no entanto, afirmou que não renunciou a anexar vastas áreas da Cisjordânia, apenas adiou os planos.

Netanyahu também mostrou divergência com Washington, ao mostrar-se contra a venda de caças F-35 aos Emirados. Israel - de momento o único país da região a possuir os aviões de guerra americanos - fez pressão, insistindo em manter a sua vantagem técnica em relação aos seus vizinhos árabes.

No entanto Donald Trump disse na terça-feira que não teria "nenhum problema" em vender F-35 aos Emirados Árabes Unidos. "Pessoalmente, não teria qualquer problema com isso", disse na Fox News. Trump disse que a venda teria como consequência "imensos empregos no país".

Os Emirados Árabes Unidos pretendem o caça furtivo como parte integrante dos seus planos para transformar o pequeno país numa potência militar regional. Os analistas dizem que os EAU utilizaram a sua exigência de F-35 como moeda de troca ao concordarem em assinar os acordos de paz que estão a ser assinados na Casa Branca e que também incluem o Bahrein.

Trump "compreende a segurança de Israel provavelmente mais do que qualquer presidente americano em décadas", disse na semana passada o conselheiro principal do presidente e genro Jared Kushner. "Mas os Emirados Árabes Unidos são um grande parceiro militar, parceiro dos EUA. Trabalhamos em conjunto em muitas coisas. Eles estão mesmo na fronteira com o Irão e têm ameaças reais. E penso que há muitas oportunidades para se ganhar trabalhando nisto", disse.

Para o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, o dia de hoje é "obscuro" para o mundo árabe. Também criticou as divisões entre os países árabes.

Os palestinianos convocaram manifestações contra os acordos. Eles afirmam que receberam uma "punhalada nas costas" dos países árabes que aceitaram o acordo com Israel sem esperar a criação de um Estado Palestiniano.

O plano de 80 páginas apresentado no início do ano por Trump com o objetivo de resolver o conflito israelita-palestiniano, ainda está longe do sucesso. A Autoridade Palestiniana rejeita a iniciativa, que coloca Jerusalém como capital de Israel e reconhece o estado da Palestina.

"É difícil identificar um único ponto de progresso relativamente à paz israelo-palestiniana que seja o resultado da intervenção dos EUA", comenta Grace Wermenbol do Instituto do Médio Oriente ao Washington Post. "A política de exceção pró-israelita de Trump alienou a Autoridade Palestiniana e desafiou a capacidade dos EUA de agir como mediador imparcial. Além de uma reavaliação diplomática clara da causa palestiniana, é pouco provável que a normalização dos laços dos EAU com Israel venha a oferecer muito mais", concluiu.

Para o líder da oposição israleita, Yair Lapid, Netanyahu esquece-se do mais urgente e importante no que respeita à paz. "Devemos seguir em frente e discutir com os palestinianos no quadro da solução de dois Estados. Mas este governo não tem intenção de negociar com os palestinianos porque para Netanyahu é um perigo político, e com os problemas legais [julgamento por corrupção] que enfrenta precisa da base eleitoral que se opõe a qualquer acordo com os palestinianos", disse.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt