Sem programa nem militantes, Partido do Brexit lidera sondagens
Jeremy Corbyn avisou os britânicos para a "banha da cobra de Nigel Farage". Para o líder trabalhista, o "Partido do Brexit é, na realidade, o partido do não acordo [quanto à saída do Reino Unido da União Europeia]", o que terá como consequências "o desemprego para milhões e um choque económico que ameaça setores inteiros". Seria um Brexit à medida de Donald Trump, deixando o Reino Unido "à mercê da irresponsável e belicosa administração dos EUA". Mas, até agora, o discurso que está a chegar ao eleitor é o do partido que não tem programa eleitoral.
Na mais recente sondagem YouGov , o Partido do Brexit, fundado e dirigido pelo populista Nigel Farage, acentua a clara tendência de vitória nas eleições europeias, que decorrem no dia 23 no Reino Unido. Em relação à anterior sondagem de 30 de abril, o Partido do Brexit sobe quatro pontos percentuais nas intenções de voto e tem agora 34%.
Os trabalhistas tombam cinco pontos e registam agora 16%. O Partido Liberal-Democrata, que se assume como o verdadeiro pró-europeu, está também a ganhar popularidade. O partido que diz Bardamerda para o Brexit está agora com 15%, mais 5% do que na sondagem anterior. Os Verdes também sobem e, com 11%, passam os conservadores (que caem para 10% e ficam em quinto lugar na sondagem realizada entre 8 e 9 de maio). O novo partido pró-europeu constituído por ex-conservadores e ex-liberais-democratas, Change UK, também se encontra em momento negativo: de 9% de intenções de voto desceu para 5%.
Nas anteriores eleições europeias, em 2014, Nigel Farage, então à frente da lista do UKIP, venceu o sufrágio com 26,6%. O Labour foi o segundo mais votado (24,4%), seguido do Partido Conservador (23,1%).
Dado curioso da anterior sondagem é que só 13% dos eleitores crê que o Partido do Brexit tenha futuro, ao contrário dos trabalhistas e conservadores. Para 70% dos britânicos, estes dois partidos vão permanecer no sistema partidário.
Nigel Farage, que diz gerir uma empresa e não um partido político - os apoiantes não são militantes -, reúne a frustração e a raiva dos eleitores que não veem nos dois principais partidos quem leve o Brexit a bom termo. Já o tinham demonstrado nas eleições locais parciais de dia 2 e prometem voltar a fazê-lo no dia 23.
O ministro sombra do comércio internacional, Barry Gardiner, diz que o Partido do Brexit "não tem uma única política", mas consegue reunir tanto apoio graças à "incompetência do governo".
Farage alega não ter um programa eleitoral porque é um termo "desacreditado". Em entrevista à BBC, o eurodeputado explicou: "Não vou voltar a usar a palavra programa outra vez. Para mim tem uma associação a mentira, porque isso é o que temos tido eleição após eleição."
Na segunda-feira disse num comício que iria apresentar um pacote de ideias após as eleições.
A entrevista deu que falar porque, questionado sobre as suas posições sobre o serviço nacional de saúde, o presidente russo Vladimir Putin, o controlo de porte de armas ou de entrada no país de imigrantes com VIH, o líder do Partido do Brexit não escondeu a irritação: "Quer discutir estas eleições europeias ou não? (...) Não está interessado, pois não? Isto é ridículo", disse a Andrew Marr.
Aproveitou ainda para criticar a linha editorial da BBC, embora a Farage não falte tempo de antena: é presença assídua no programa BBC Question Time.
Quanto a um tema muito sensível no Reino Unido, o serviço nacional de saúde, Farage defendeu a entrada do setor privado para "aliviar o peso".
O que quer então Nigel Farage, deputado ao Parlamento Europeu desde 1999? "O que eu quero nestas eleições europeias, se conseguirmos vencê-las, é sem dúvida exigir que os eurodeputados do Partido do Brexit façam parte da equipa de negociações do governo e talvez possamos introduzir algum bom senso."
Questionado sobre o porquê de não ter defendido um Brexit sem acordo durante a campanha para o referendo na UE e de ter apresentado como exemplo a relação da Noruega com a UE, explicou que era "óbvio" que podiam então fazer um acordo de comércio livre. "O problema é que a primeira-ministra nunca tentou fazê-lo e acabámos na trapalhada em que estamos."