Rússia volta a investigar o mistério da morte de nove esquiadores
Eram nove esquiadores russos que em fevereiro de 1959 montaram acampamento junto à Montanha da Morte, na rota dos Montes Urais. Nunca mais foram vistos vivos. Os corpos foram encontrados uma semana depois, distantes uns dos outros, fora das tendas. Três deles podem ter morrido por espancamento e os outros de hipotermia. Uma das mulheres do grupo estava sem língua e as roupas de vários dos jovens apresentava níveis de radiação duas vezes mais altas que o habitual.
O incidente ficou conhecido como Passo Dyatlov, em referência ao nome do líder do grupo, Igor Dyatlov, e nunca foi desvendado. Agora a Rússia decidiu voltar a investigar o caso que é considerado um dos grandes mistérios da história recente do país. Muitas teorias foram sendo levantadas ao longo dos anos: desde terem sido mortos por reclusos em fuga até terem sido vítima de membros da KGB, ou mesmo alvo de ataque por seres alienígenas. A história já levou a séries televisivas, filmes e livros de todos os tipos. Passados 60 anos, as autoridades decidiram voltar a mexer nos arquivos do caso e investigar novamente as mortes dos nove aventureiros, todos experientes esquiadores.
A procuradoria da região de Sverdlovsk reabriu o caso na sexta-feira passada, com Alexander Kurennoy, porta-voz do gabinete do Procurador-Geral, a informar que a investigação criminal foi encerrada mas há objetivo de querer saber o que se passou. "Qualquer possibilidade de uma pista criminosa foi excluída", disse, segundo a agência de notícias russa Tass. Prosseguem, no entanto, as investigações para determinar o que aconteceu com os nove esquiadores.
O caso tinha sido encerrado em junho de 1959. "Uma força elementar irresistível" foi a explicação com a qual as autoridades arquivaram a morte do grupo, o que deixou os familiares insatisfeitos, lutando para que o caso fosse reaberto. Kurennoy, porta-voz do procurador-geral, também explicou que a decisão de nova investigação é justificada como uma tentativa de evitar que algo de semelhante volte a acontecer. "Se os colegas na região de Sverdlovsk com a ajuda de especialistas não conseguirem estabelecer que fenómenos naturais causaram a morte de grupo de Dyatlov, uma tragédia semelhante poderá acontecer de novo", disse.
A investigação efetuada ao incidente teve várias lacunas. Estava-se no final de janeiro de 1959, quando o grupo de nove esquiadores, todos com vinte e poucos anos, estudantes e graduados do Instituto Politécnico dos Urais (agora Universidade Técnica de Yekaterinburg), iniciaram uma excursão para esquiar na montanha Kholat Syakhl, conhecida como a Montanha da Morte ou a Montanha dos Mortos. A meio do caminho, um dos elementos ficou doente e o o grupo montou acampamento para passar a noite num local ainda a 10 quilómetros do destino.
Quando não deram mais sinais, começaram as buscas. As equipas de resgate encontraram os cadáveres de cinco deles no final de fevereiro, a cerca de 500 metros de uma das tendas. Os outros quatro foram encontrados em maio. A maioria dos jovens estava semi-despida, alguns sem sapatos, outros com roupas que não eram deles. Como se tivessem saído apressadamente a meio da noite.
As causas de morte nunca foram determinadas por investigadores da antiga União Soviética - apontaram para uma misteriosa "força elementar irresistível". Além disso, os arquivos do caso só estiveram disponíveis para consulta a partir dos anos 1990, quando a antiga URSS entrou em colapso. Alguns investigadores independentes do caso suspeitaram inicialmente que os caminhantes foram vítimas dos Mansi, o grupo étnico que habitava a região, embora o lugar onde foram encontrados estivesse longe da área considerada 'sagrada' por esses nativos. Outros consideraram que foram mortos por reclusos de uma prisão próxima, embora naqueles dias não tivesse acontecido nenhuma fuga. Anatoli Guschin, um jornalista local que investigou a história durante anos e publicou um livro sobre o caso, apontava para um cenário de vítimas de uma experiência soviética para elaborar uma nova arma, daí a radiação encontrada em algumas das vítimas.