Protestos na Índia após a entrada de duas mulheres em templo de "deus celibatário"
Depois de no primeiro dia do ano cerca de cinco milhões de mulheres formarem um cordão humano de cerca de 620 quilómetros no estado de Kerala, no sul da Índia, duas mulheres entraram esta terça-feira no templo hindu de Sabarimala. Depois do histórico momento, já aconteceram vários protestos e confrontos, com a polícia a ser obrigada a intervir.
As mulheres em idade de menstruação, dos 10 aos 50 anos, estavam proibidas de entrar no templo, mas o Supremo Tribunal indiano colocou fim à proibição em setembro. No entanto, a decisão não foi bem recebida pelos tradicionalistas e as poucas mulheres que têm vindo a tentar entrar no templo têm sido atacadas. Esta quarta-feira, no entanto, Bindu Ammini, de 40 anos, e Kanaka Durga, 39, aproveitaram as primeiras horas do dia para entrarem no santuário.
"Chegámos cedo, pela manhã, e vimos o ídolo [Ayyappa] durante alguns minutos. Fomos embora antes que os protestantes nos vissem", afirmou Bindu Ammini à BBC. Depois de as mulheres terem saído, os responsáveis do templo afirmaram que o templo havia sido "profanado" pelas duas mulheres e esteve fechado uma hora para "rituais de purificação".
Após a visita se ter tornado do conhecimento geral, vários protestos surgiram por todo o estado de Kerala, com a polícia a usar gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar a multidão. De acordo com os media locais, as autoridades foram também obrigadas a agir nos confrontos entre apoiantes e colaboradores do Bharatiya Janata Party, partido do primeiro-ministro Narendra Modi, e os comunistas, que estão no poder na região e concordam com a decisão do Supremo Tribunal. Apoiaram, aliás, o cordão humano da passada terça-feira.
Segundo o Guardian , Sreedharan Pillai, principal figura do partido do governo em Kerala, apelidou a visita de "conspiração dos ateus para destruir os templos hindus". "Que os devotos apareçam para protestar", acrescentou.
No hinduísmo, as mulheres menstruadas são vistas como sujas e está-lhes vedado o direito de participarem em rituais religiosos. Contudo, são aceites na maioria dos templos desde que não estejam menstruadas.
A argumentação daqueles que protestam a decisão do Supremo Tribunal, e agora o primeiro efeito prático da mesma, assenta não apenas na questão da menstruação, mas também nas peculiaridades do deus daquele templo, Ayyappa, e no facto de este ter feito um juramento de celibato. Muito receiam a presença de mulheres no templo porque podem tentar Ayyappa.