Ninguém sabe onde está a filha mais velha do ex-ditador do Uzbequistão

Cantora<em> pop</em>, ex-embaixadora em Espanha, designer de moda, mãe e socialite. Gostava de aparecer, mas desde 2014 que nem os filhos conhecem o seu paradeiro
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Desde 2014 que ninguém sabe da filha mais velha do antigo ditador do Uzbequistão, Islam Karimov, que morreu em setembro de 2016. Gulnara Karimova não apareceu no funeral do pai e o seu filho, Islam Karimov Junior, que vive exilado no Reino Unido, diz que a mãe foi presa em casa pelos serviços secretos do país e que as notícias sobre a sua morte são falsas. A verdade é que Googoosha - nome pelo qual era conhecida como cantora pop - não aparece publicamente há quatro anos e todas as suas contas nas redes sociais foram desativadas.

De acordo com o New York Times, Gulnara Karimova, de 45 anos, chegou a ser a pessoa mais famosa do Uzbequistão e era considerada a natural sucessora do pai. No entanto, dois anos antes do chefe de Estado do país morrer, aquela que era considerada uma mulher de negócios cruel, diplomata (foi embaixadora em Espanha), aluna da Universidade de Harvard, mãe, socialite e, de acordo com revelações da WikiLeaks, uma "ladra" de empresas, que nunca sofreu as consequências dos seus atos devido à proteção do pai, simplesmente desapareceu.

A filha mais velha de Islam Karimov foi também designer de moda e criou a sua própria linha, a Guli, além de ter sido também uma cantora pop usando o nome artístico de Googoosha.

"Era uma mulher que não se cansava de receber atenção e estava em toda parte, e [agora] não há uma palavra dela desde 2014", disse Steve Swerdlow, investigador da Human Rights Watch para a Ásia Central, que revelou ter sido abordado por membros da família de Karimova que não sabem do paradeiro da mulher.

Já houve rumores de que estaria morta, ou então detida, mas nunca foram apresentadas provas sobre nenhuma das duas teorias. Em julho do ano passado, e cedendo a pressões sobre o paradeiro da herdeira de Karimov, fonte do novo Governo do país quebrou o silêncio sobre a ex-empresária revelando que esta tinha sido condenada por evasão de impostos, extorsão e roubo de propriedade do Estado. Teria sido sentenciada a cinco anos de "liberdade restrita".

Não se sabe o que significa exatamente essa condição, mas houve quem pensasse que Karimova estaria em prisão domiciliária. Os pedidos de informações sobre o seu caso - um deles realizado na semana passada - não têm obtido respostas por parte do Ministério Público do país.

Os primeiros sinais de que Gulnara Karimova estaria a perder o seu poder surgiram em 2013, quando circulou o rumor de que o seu pai a teria espancado durante uma discussão familiar. Na mesma altura, a primogénita do antigo ditador acusou a mãe e a irmã mais nova de praticarem bruxaria.

Foi também nessa data que a conta do Twitter de Karimova foi encerrada e a linha de moda Guli foi impedida de participar em desfiles de moda em Nova Iorque, uma vez que as roupas eram confecionadas com algodão produzido com trabalho escravo, no Uzbequistão. Com a idade a avançar, Gulnara Karimova começou a fazer cada vez mais tratamentos com Botox, o que levou os seus fãs a dizerem que a sua beleza estava a desaparecer.

Nem o ex-marido, Mansur Maqsudi, com quem Karimova travou uma aguerrida batalha de divórcio, sabe do seu paradeiro e também ele pediu a ajuda da Human Rights Watch.

Islam Karimov Junior, que herdou o nome do avô ditador, disse numa entrevista à BBC, em 2016, que a mãe é mantida em cativeiro, incomunicável e sem representação legal. "Não entendo como é que no século XXI não podem responder a uma pergunta simples: onde está Gulnara"?

Junior acredita que a mãe está nas mãos do poderoso serviço de segurança do país, o SNB, e exige que a situação de Gulnara Karimova seja reconhecida oficialmente e que as suas perguntas obtenham resposta: "Prisão domiciliária? Por que motivo? E por quanto tempo? Sob supervisão de quem? Essas perguntas simples têm de ser respondidas", atira, na mesma entrevista.

O último tweet de Gulnara Karimova foi publicado em novembro de 2013. Em russo, a frase é a expressão: "A vida é um bumerangue. Mais cedo ou mais tarde, tudo voltará!".

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